Na infância, eu amava assistir a concursos de beleza, principalmente para acertar quem ganharia - normalmente, uma mulher branca, magra e de cabelos longos e lisos.
Zozibini Tunzi quebrou esse padrão ontem, ao vencer a 68ª edição do Miss Universo. A Miss África do Sul é a vencedora mais incrível dos últimos anos: profissional de Relações Públicas, ela tem 26 anos, a pele negra retinta e o cabelo crespo bem curtinho. Com nada se parece àquelas misses que eu via receber a coroa quando era pequena e que me levavam a achar que só aquelas modelos eram bonitas.
Meu conceito de beleza era fechado e acompanhava aquilo que a mídia mostrava como uma mulher bela, que também atendia a um padrão de comportamento: mulheres que buscavam, nas revistas femininas, como conquistar um homem, se vestir bem e aprender receitas para agradar ao marido. Parece piada, mas estou falando dos anos 1990 e 2000, que não estão muito longe.
Felizmente, a sociedade está mudando e estamos, cada vez mais, afastados de uma referência única, muito graças à internet. Na rede, nossos olhos aprenderam a perceber a beleza única de cada mulher, independentemente da medida na balança, do tom de pele e de suas habilidades domésticas. Por isso, confesso que, hoje, fico distante desses concursos. Uma competição de mulheres que, no geral, seguem um modelo “antigo” de beleza feminina não me desperta interesse.
O que vimos ontem é que, apesar de mais devagar (beeem mais devagar), até que os concursos estão acompanhando essas mudanças. Zozibini veio dar uma nova cara à beleza. E tem consciência de que, com ela no topo, estão representadas milhões de mulheres:
– Cresci em um mundo em que uma mulher com a minha pele, a minha aparência e o meu cabelo não era considerada bonita. Isso acaba hoje! Quero que as crianças enxerguem o reflexo dos seus rostos no meu – disse durante a final do concurso.
Já como Miss Universo, declarou em seu perfil de rede social:
– Nesta noite, uma porta foi aberta e eu não poderia estar mais agradecida por ter sido a pessoa que a atravessou. Que toda garotinha que testemunhou esse momento acredite para sempre no poder de seus sonhos e que elas possam ver seus rostos refletidos nos meus. Eu, orgulhosamente, me declaro como Zozibini Tunzi, Miss Universo 2019! – escreveu.
P E R F E I T A!
A vitória de Zozibini traz frescor e força para seguirmos rumo a um destino melhor, onde as mulheres negras se sintam representadas.
Escrevo essa coluna ouvindo Brown Skin Girl, de Beyoncé, atual hino das mulheres negras e que embalou nossa Miss Universo 2019 durante o concurso. Zozibini disse que escutou a música ao longo de toda a semana para empoderar sua negritude feminina.
Menina negra
Sua pele é como pérolas
A melhor coisa do mundo
Duda Buchmann é blogueira que gosta de falar do mundo feminino, principalmente da mulher negra, e de inspirações que elevem a autoestima delas. Escreve semanalmente em revistadonna.com.