Aos 22 anos, Diana Werner assumiu a presidência da mais antiga produtora de sementes da América Latina. Ainda estudante de Engenharia de Produção, em 2004, a jovem tinha acabado de perder o pai, Luciano, que liderava a Isla Sementes, fundada pelo avô Plínio Werner em 1955.
- Nos dois primeiros anos, fui entendendo a empresa e garantindo que as operações continuassem. Até que comecei a me perguntar qual era o meu papel aqui - conta a gestora, hoje com 38 anos, e 15 à frente da companhia.
Ao visualizar a empresa como parte importante de uma cadeia muito maior, encontrou na causa da alimentação saudável uma resposta. Mas, para levar a bandeira adiante, era preciso contar com o engajamento da equipe. Passou a oferecer novos benefícios aos funcionários com a crença de que seu desejo como gestora seria um resultado natural do trabalho de todos. Descobriu que estava equivocada. O estalo veio quando mudou o plano de saúde para aquele que julgava ser um dos melhores da cidade e os funcionários começaram a reclamar da dificuldade em marcar os médicos.
- Entendi que, para promover mudança cultural, eu tinha que perguntar o que era importante para eles, o que fazia falta para que a gente pudesse conversar sobre o que a empresa gostaria.
Ao aplicar uma pesquisa de clima, deparou com demandas tão simples como fornecer mais peças de uniforme porque nem sempre o clima de Porto Alegre favorece a secagem das roupas. A maioria dos pedidos foram resolvidos em 30 dias, relembra.
Logo Diana aprendeu que não se muda uma empresa em um par de anos. Foi preciso muito empenho para construir engajamento na equipe e virar a chave da cultura do controle, marcada pela centralização do pai, para investir na meritocracia e no desenvolvimento individual dos funcionários, uma de suas grandes convicções como gestora e motivações como pessoa. Hoje, oito gestores dividem o trabalho que antes era feito praticamente só pelo pai de Diana.
Nos primeiros cinco anos como presidente, a engenheira trabalhava diariamente, das 7h30min às 18h30min, fazia questão de participar de todas as reuniões, conhecer todos os processos. Ao lado do colega de faculdade Andrei Santos, hoje sócio e diretor de planejamento da Isla, começou a modernizar a gestão.
Se eu fosse um pouco mais velha na época em que assumi a Isla, talvez não tivesse conseguido. Teve um quê de “sem noção” da juventude que me ajudou nessa transformação.
DIANA WERNER
Presidente da Isla Sementes
Nas primeiras tentativas, a dupla aprendeu que não adiantava impor metas enquanto não houvesse um engajamento com o propósito da empresa. Passaram a investir em uma relação próxima com os funcionários, em treinamentos, começaram a compartilhar números da empresa, oferecer premiações e participação nos lucros. O resultado veio: o faturamento da companhia aumentou 10 vezes desde que assumiu a presidência, em 2004.
- Brinco que, se eu fosse um pouco mais velha na época em que assumi a Isla, talvez não tivesse conseguido. Teve um quê de “sem noção” da juventude que me ajudou nessa transformação - observa.
A idade foi um desafio em vários momentos. Diana sentia falta de trocar com pares da sua faixa etária. Com frequência era a única jovem e única mulher em eventos do setor. Buscou apoio em associações como a Business and Professional Women (BPW), entidade internacional que reúne mulheres empresárias. Somado à juventude, o gênero foi outro obstáculo.
- Por 10 anos, assumi que machismo não existia. Hoje entendo que foi um pouco de defesa, não conseguiria lidar com mais essa questão. Depois, vivi um momento bem duro de entender diversas situações que escolhi não ver na época em que aconteceram. Nunca ninguém me destratou ou deu em cima de mim. Mas eu demorei muito para ser ouvida de verdade - desabafa.
O tempo e o sucesso das mudanças internas lhe presentearam com maturidade e segurança para levar para fora das portas da Isla o slogan Vamos Comer Melhor. Com a liderança do diretor de mercado - e também seu marido -, Eduardo Puricelli, a gestora estreitou as relações com produtores de sementes e agregou novos parceiros. Em 2013, a Isla Sementes lançou a Colheita dos Chefs, que leva chefs de cozinha de todo Brasil para conhecer a horta experimental da empresa, em Itapuã. O objetivo, conta Diana, é conversar com quem influencia diretamente na alimentação da população.
- Uma relação estritamente comercial não era suficiente para me fazer acordar todos os dias, vir trabalhar e ser feliz. Gosto de promover mudança, evoluir junto, ter parcerias profundas - afirma.
Foi em um desses encontros que nasceu o Setembro Verde, em 2017. O movimento estimula o consumo de frutas, legumes e hortaliças. Na primeira edição, mais de 50 restaurantes se mobilizaram na campanha. Em 2018, a experiência também foi positiva. Mas, em 2019, Diana não conseguiu liderar a empreitada. Houve algumas iniciativas pontuais, mas longe do impacto que a engenheira sonha para o projeto.
Por 10 anos, eu assumi que machismo não existia. Hoje entendo que foi um pouco de defesa.
DIANA WERNER
Presidente da Isla Sementes
- A ideia sempre foi um movimento que tenha vida própria. Que fique tão grande que não importe de onde veio. Mas entendi que vai demorar mais do que eu gostaria para isso acontecer - diz Diana, que pretende retomar o projeto em 2020.
Considerando que a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o consumo diário de 400 gramas de frutas, legumes e verduras e que os brasileiros ingerem, em média, um terço disso, o desafio não é pequeno. Mas Diana sonha grande. Assim como hoje colhe os frutos de 15 anos de uma gestão à sua maneira, espera um dia também testemunhar uma mudança na alimentação de todo brasileiro.