Em 2015, Caroline Cintra e Gabriela Guerra tornaram-se diretoras-presidentes da ThoughtWorks Brasil, especializada em desenvolvimento de software. A parceria inaugurou, no Brasil, a prática que a multinacional já adotava em outros países.
Caroline era gerente do escritório de Porto Alegre, e Gabriela, diretora nacional de justiça econômica e social. No livro Juntas – O Poder da Liderança Compartilhada nos Negócios, lançado pela editora Belas Letras, as duas dividem com o público como foi a experiência de liderar, lado a lado, uma organização com 350 pessoas.
Isso não quer dizer que elas só tomavam decisões após consultar a outra ou concordavam sempre. Por um mês, Gabriela e Caroline decidiam tudo juntas. Depois, criaram um processo próprio. Para questões urgentes, havia autonomia para definir. Já aquelas cujo impacto seria de longo prazo eram solucionadas por ambas.
Contar a história de um negócio bem-sucedido com foco em pessoas é o principal objetivo do livro, ressalta Caroline. No primeiro ano de gestão da dupla, o faturamento da empresa aumentou 51%. Mas tão importante quanto números, ressalta a executiva, é olhar para as pessoas. O foco em promover diversidade fica claro no livro. Para as autoras, trata-se de uma “solução para a baixa reserva de talentos e para uma representação real dos interesses da sociedade no mercado de trabalho”.
– Nos perguntam como conseguimos bater metas apesar de ter programas tão fortes em desenvolvimento de pessoas. Respondemos que batemos as metas por causa disso – diz Caroline.
Uma prova de que representatividade importa foi conquistar uma posição, em 2018, no ranking das 10 melhores empresas para uma mulher trabalhar segundo a Great Place to Work. Hoje, das nove pessoas de Liderança Estratégica no Brasil, cinco são mulheres. Gabriela, que deixou a empresa em 2018, via no cargo uma responsabilidade que extrapolava a sua individualidade:
– Você está lá também provando que as mulheres podem ser líderes. Uma falha sua é um passo para trás nessa batalha por espaço, que nem deveria existir, mas, infelizmente, é necessária.
Caroline segue no cargo, agora na companhia de Marta Saft, com trajetória na área do Direito. De todas as experiências de coliderança que conhece, a de Caroline e Gabriela é a mais frutífera para a professora da FGV Ana Pliopas, que acompanhou de perto a dupla. Contratada pela ThoughtWorks como consultora em desenvolvimento humano, ela explica que liderança compartilhada não é simplesmente dividir tarefas. Para ela, as profissionais gaúchas conseguiram somar conhecimentos e competências. Enquanto Caroline tem formação e experiência focadas em tecnologia e desenvolvimento de software, Gabriela tem uma trajetória mais diversa.
– Carol compartilhou seu conhecimento comigo de forma supergenerosa. Sempre me senti muito à vontade para trocar e pedir ajuda – conta Gabriela.
Nos perguntam como conseguimos bater metas apesar de ter programas tão fortes em desenvolvimento de pessoas. Respondemos que batemos as metas por causa disso".
CAROLINE CINTRA
A colega destaca que a experiência variada de Gabi – que havia passado pela área financeira, de educação, marketing e psicologia – contribuiu para que elas inovassem e buscassem soluções diferentes.
Investir em autoconhecimento ajudou a dupla a lidar com suas limitações e pontos fortes. Ter essa consciência é importante também para não cair nas armadilhas da síndrome da impostora. Duvidar de si mesma e ser tomada pela sensação de que não se é capaz de dar conta do recado, como uma promoção, afeta homens e mulheres, mas costuma ser mais comum em grupos oprimidos. Como vivemos em uma cultura machista, elas acabam sofrendo mais. No livro, Caroline e Gabriela dão dicas para contornar o problema, como, por exemplo, ressaltar as competências das mulheres no momento de uma contratação.
Dicas para ter sucesso na coliderança
• Mantenha um canal aberto de conversa com a outra líder e sua equipe.
• Seja honesta mesmo quando sua opinião for contrária à do seu par.
• Invista em autoconhecimento. Vale terapia, meditação e até viajar sozinha.
• Não perca de vista a motivação das pessoas com quem trabalha.
• Dê autonomia para as equipes tomarem decisões.
• Cultive um ambiente colaborativo e de diversidade.