Camila Maccari
Interessada por empreendedorismo “desde sempre”. Assim se define a gaúcha Bárbara Minuzzi, apontada como a primeira mulher latina a criar um fundo de capital de risco no Vale do Silício. Desde 2017, a Babel Venture opera injetando dinheiro em negócios que estão começando, todos focados na área da tecnologia.
Natural de Pelotas, Bárbara cresceu em Porto Alegre, em uma família de médicos. Aos 15 anos, a disposição de colocar todos os planos em prática e a vontade de ter o próprio dinheiro resultaram em uma loja multimarcas que funcionava nos intervalos das aulas do colégio. Decidida a seguir na área, aos 17 mudou-se para o Rio de Janeiro para estudar Design de Moda e, já no terceiro semestre, criou a própria label. Apesar de as vendas serem boas, a empresa não dava o lucro desejado e, aos 20 anos, de volta a Porto Alegre, decidiu dar uma guinada na carreira, em busca da independência financeira.
– A mãe da minha melhor amiga era incorporadora no setor imobiliário, que estava em ascensão, desenvolvendo projetos como Minha Casa Minha Vida. Me interessei por essa área e pelo retorno financeiro, sempre fui muito curiosa sobre como gerar riqueza. Então comecei a estudar estruturas de investimento no mercado imobiliário – conta Bárbara.
Por intermédio desses projetos, começou a trabalhar em uma startup, onde conheceu seus futuros sócios na Investhaus, empresa de conexões e investimentos imobiliários. No começo, o fato de ser mulher e muito jovem gerava certa desconfiança dos investidores. Ouviu muitas piadinhas machistas, mas conta que, em nenhum momento, sentiu que não estivesse no lugar certo.
Em 2013, já sozinha à frente da empresa, Bárbara percebeu que investidores brasileiros queriam diversificar os investimentos nos EUA. A demanda fez com que se mudasse para Miami, criando a Investhaus USA.
O acesso a múltiplas cartas de investimento mostrou que os clientes não estavam investindo em tecnologia. E ela viu ali uma possibilidade.
– Estava muito bem financeira e profissionalmente, mas queria ter um propósito, encontrar um mercado um pouco mais alinhado com minha visão de mundo, e os investimentos na área da tecnologia apontavam para isso – afirma Bárbara. – Acredito que os setores que escolhi vão transformar massivamente a nossa geração nos próximos anos.
Em 2016, deu início a seu primeiro fundo de capital para investimento e, em 2017, mudou-se para o Vale do Silício para criar a Babel Ventures, que acelera os processos de inovação de corporações na área de tecnologia e biotecnologia. No primeiro ano, captou US$ 30 milhões para investir em startups como a Cue.Me, que desenvolveu um aparelho que faz exames de sangue, saliva e mucosa nasal e disponibiliza o resultado em até três minutos, no celular.
Em suma, acredito que o segredo para qualquer empreendedor ter sucesso é obsessão. É necessário ser obcecado para realmente passar por cima de todos os obstáculos que estarão no caminho".
BÁRBARA MINUZZI
A vida de CEO impõe uma rotina intensa: Bárbara trabalha todos os dias da semana. A correria a ensinou a desenvolver rotinas e a ter disciplina, inclusive na vida pessoal – a atividade física, por exemplo, está na agenda três vezes por semana, às 5h da manhã.
– Às 7h, já estou no escritório para um dia que termina entre 21h e 22h. Meu time ainda é pequeno, somos menos de 20 pessoas. Nosso acesso a potenciais investimentos é massivo, analisamos mais de cem empresas por mês. Preciso também acompanhar as empresas do nosso portfólio de perto. E temos um contínuo trabalho de estratégia e gestão.
Por ora, Bárbara não tem planos de sair do Vale do Silício e comemora o clima de respeito e diversidade que encontra ali.
– O mercado é mais equilibrado, principalmente se comparar com o sul do Brasil. Os episódios de falta de respeito com uma profissional do sexo feminino e as piadinhas bobas que ouvi no início da carreira me fazem tirar de letra algumas situações. Aqui, ainda não é igual o nível de respeito e colaboração entre os sexos, mas me senti mais em casa.
Bárbara conta que o estranhamento que causa acaba sendo menos por questões de gênero e mais por ser latina:
– Como fui a primeira, eles não tinham muita referência. Agora tem uma mexicana, que também é CEO de um fundo. Mas, quando eu chegava para uma reunião com cabelo loiro, de calça de couro e salto alto, causava um baque. Foi meio complicado no começo, mas me neguei a mudar meu jeito para me encaixar. Depois, vi que era só começar a apresentar as propostas que o foco voltava para o que eu tinha a oferecer.
Três dicas para empreender
Confie no seu instinto
Bárbara Minuzzi afirma que “tudo bem buscar conselhos externos” mas, na maioria das vezes, a resposta já está em você.
– Apenas nós sabemos o que estamos passando, o tempo correto para executar determinado projeto e quem de fato deve estar envolvido. Hoje, percebo que todas as grandes decisões que tomei na vida, em que segui os meus instintos, mesmo quando muitos dos meus mentores discordavam, foram ótimas decisões. Sugiro estar muito atenta para aquilo em que você de fato acredita e confia, mesmo que o mundo todo tente te mostrar o contrário.
Combine ideias + ações
Tenha em mente que apenas uma grande ideia pode não ser o suficiente para fazê-la atingir o seu objetivo.
– Aprendi a dar pouquíssimo valor a ideias, vejo muitas ideias geniais sendo discutidas por toda parte. O difícil é encontrar empreendedores com capacidade de execução, combinando as habilidades que eu citei anteriormente, como confiar no instinto e nas certezas. Em suma, acredito que o segredo para qualquer empreendedor ter sucesso é obsessão. É necessário ser obcecado para realmente passar por cima de todos os obstáculos que estarão no caminho.
Seja resiliente
Nem sempre as coisas vão dar certo de primeira e nem sempre vai ser fácil: ainda mais quando você é mulher empreendendo em um ambiente majoritariamente masculino. Aprender com as experiências e seguir em frente é, para Bárbara, um dos segredos do sucesso:
– Ao longo da minha trajetória, aprendi muito sobre a importância de ser resiliente. Não teria conseguido passar por tantos desafios que encontrei se não tivesse me tornado uma pessoa de extrema resiliência.