Estávamos todos em casa, mas parecia que não tinha ninguém.
O único barulho que se ouvia era o do vento batendo nas árvores do quintal da vizinha. E de vez em quando algum cachorro latia ali por perto também. Eu estava no computador do pequeno escritório, entretida procurando novas ideias para mais um texto que precisava entregar na manhã seguinte. O marido tentava se entender com o iPad na sala, onde procurava algumas fotos antigas - aquelas que a gente nunca lembra em que arquivo foi que guardou (no tempo dos álbuns de fotografia era mais fácil. Abria e estava tudo ali, na mão). Um dos filhos estava no quarto digitando mais um trecho do TCC no notebook, ao mesmo tempo em que escutava música com fones de ouvidos. O outro trocava e-mails e mensagens com a namorada pelo celular.
Estávamos todos em casa, conectados, mas ainda assim parecia que não tinha ninguém.
Uma sensação esquisita, essa, de estar em família e não estar. Aquilo começou a me incomodar. Mal havíamos nos falado quando chegamos em casa, e não porque houvesse algum problema entre nós. Pelo contrário, estava tudo bem, então não havia essa urgência de pararmos nossas tarefas, todas tão importantes, para um bate-papo que poderia acontecer qualquer outra hora. Não, não podia. Tinha que ser naquele momento. Salvei aquele texto que recém começara a escrever. Isso sim poderia ficar para depois. Arrumei a mesa e pedi, encarecidamente, que cada um desse uma pausa no que estava fazendo. Vamos tomar um café juntos?
Estávamos todos em casa, agora desconectados do mundo. Mas conectados em nós mesmos.
Não havia assunto urgente, muito menos coisa pendente. Só queria saber como estavam, como tinha sido o dia de cada um e contar um pouco do meu também. O assunto foi longe, o café rendeu boas risadas e voltei a reencontrar aquela sensação gostosa de se saber parte de uma família. Depois, bem depois, de alma lavada e de bem com a vida, voltei para o computador. E aí saiu esta crônica.