Primeiro dia de uma semana de férias. Viajar? Impossível, preciso ficar aqui, cuidando do marido que se recupera de um problema de saúde. Então, tenho que encontrar, dentro de casa mesmo, coisas para me distrair durante este tempo. Faço mentalmente uma listinha, e tento ordenar as prioridades.
Olho à minha volta. Só neste quarto que transformamos em escritório, percebo quantas coisas fui deixando pra fazer depois, e que nunca terminei. Será que só eu sou assim?
Pendurados na parede, murais de fotos. Só que estão pelados, sem retratos, porque decidi mudá-los ? os antigos já estava até desbotados ? e nunca mais me lembrei disso. Já mandei ampliar as fotos, são mais de 100, de momentos marcantes, lugares incríveis e pessoas queridas. Cada uma delas me traz uma lembrança boa. Só falta refazer os murais.
Acabo deixando pra depois porque sei que, quando começo a ver fotos, perco a noção do tempo e do mundo. Não quero mais parar. É como voltar a viver cada um daqueles momentos tão especiais: as brincadeiras da infância, as festas na adolescência, o casamento, os filhos pequenos, as pessoas que já partiram, as viagens maravilhosas, momentos especiais da vida profissional... Como simplesmente pendurar as fotos no mural, sem dedicar um tempo às lembranças que cada uma delas me traz?
Na outra parede, livros e mais livros esperam por uma boa arrumação. Quero ficar apenas com aqueles que adoro, e que eu ainda vou reler na minha velhice. Os outros, preciso passar adiante, como já fiz várias vezes. Acho que livro não foi feito para ficar juntando pó na estante. Tem que circular. Volta e meia coloco aqueles que já li, ou que sei que nunca irei ler, em uma caixa e chamo alguns amigos, para escolher seus exemplares. Assim, todo mundo fica feliz e eu ganho espaço nas prateleiras para novas aquisições...
Na parte de baixo deste mesmo armário está minha coleção de revistas de turismo. Destas não me desfaço nunca, porque cada vez que traço um plano de viagem, gosto de ler tudo sobre o meu destino, e planejar o que vou visitar. Neste ponto sou bem organizada, chego a ser chata até. Há, também, pilhas de CDs e DVDs esperando por uma boa arrumação... Quem sabe desta vez eu consiga organizá-los? Guardei muitos filmes para assistir quando tivesse mais tempo. Acho que chegou a hora...
Espicho o olho e encontro uma grande caixa de documentos, na qual vou só colocando mais e mais papeis, para, um dia, parar, sentar e organizar. Bem que esse dia pode ser qualquer tarde desta semana. Quem sabe?
Há gavetas esperando para serem arrumadas, roupas de inverno para retirar dos armários, cobertas para mandar para a lavanderia, faxina no quartinho da bagunça... Pensando bem, coisa pra fazer é o que não falta. Aliás, duvido que exista alguma dona de casa que não tenha uma listinha de tarefas que vai ficando para depois.
Olho para a rua e uma chuvinha miúda, nesta manhã que era para ser de primavera, me dá ainda mais preguiça. Decido nem chegar perto da minha cama durante o resto do dia, porque aí é covardia. Se eu olhar para aquele edredom fofinho, com esse barulhinho gostoso da chuva lá fora, vai ser impossível resistir. E com tanta coisa pra fazer, não dá pra passar o dia dormindo.
Nas férias dá preguiça, mas não falta coisa para fazer
Viviane Bevilacqua
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