Ana Maria, uma amiga, está casada há um ano com Pedro, mas sofre um dilema: não sabe até hoje se aceitou o pedido de casamento porque realmente ama o cara ou se foi por sentir-se coagida. Eu explico. Pedro é um homem super romântico. Sempre foi. Muito mais do que a Ana.
Desde o início do namoro ele fazia questão de dizer o quanto ela era especial. Não saíam uma vez sem que ele lhe desse flores, nem que fosse uma rosa roubado de algum jardim da vizinhança. Também copiava poesias que achava bonitas e mandava para a namorada. E nunca se cansava de elogiá-la, mesmo quando a garota estava ajudando a mãe na faxina semanal da casa, de cabelo preso e avental na cintura.
? Ana, você é a mulher mais linda do mundo. Nem que a Juliana Paes viesse me pedir de joelhos para eu ficar com ela eu aceitaria. Você é a única mulher da minha vida.
? Menos, Pedro, menos.
Era sempre assim. Ele, um romântico inveterado. Ela, um pouco avessa às demonstrações excessivas de carinho. Talvez justamente pela fama de "durona" dela, Pedro tenha fica tão encantado. Amolecer o coração da jovem seria um desafio, e Pedro adorava se sentir desafiado.
O namoro seguia assim, equilibrando-se entre as duas personalidades tão diferentes. Pedro tinha arroubos de paixão, e Ana só pedia: menos, Pedro, menos.
Um belo dia, ele falou em noivado. Ela desconversou, achava que era cedo ainda, precisava mais tempo para ter certeza de que ele era realmente o homem certo. Pedro ficou desapontado e não tocou mais no assunto.
Como o tempo passava e nada dela se decidir, Pedro resolveu fazer-lhe uma "grande surpresa". Contratou um "love car", estes carros com caixas de som potentes e um locutor que fica lendo mensagens ao som de músicas melosas de amor e dirigiu-se até o trabalho de Ana. Chamou também toda a família para participar deste momento tão especial. Em frente à loja onde Ana é gerente, ele começou: "Amor da minha vida, minha existência só tem sentido se você estiver ao meu lado, blá...blá...blá... Ao fundo, o toque romântico da música "É o amooooooor, que mexe com a minha cabeça e o meu coraçãoooooooo...".
Até que veio a hora que Ana mais temia: o pedido de casamento. Pedro estava ajoelhado à sua frente, com uma caixinha de veludo nas mãos, onde brilhavam duas grossas alianças de ouro. A plateia toda gritava em coro: aceita, aceita, aceita.
Ana aceitou. Não tinha como dizer não, ali, naquela hora. Todos aplaudiram.
Ela havia decidido que o casamento seria simples, íntimo e barato. Preferia gastar o dinheiro numa bela viagem de lua-de-mel. Mas Pedro, romântico como sempre, queria que fosse um dia muito especial, com tudo a que tinham direito: cerimônia na igreja, ela de branco e ele de smoking preto com um cravo vermelho na lapela, aias, padrinhos, violinos e uma festa para entrar na história da cidade onde moravam. Não abria mão do bolo de três andares com o casal de noivinhos no topo e bem-casados como lembrança do enlace. Ana foi voto vencido.
O casamento foi uma superprodução, e a lua-de-mel numa praia catarinense. Eles estão casados há cinco anos e Ana está grávida de gêmeos, que nascem em outubro. São felizes, com altos e baixos no casamento, como qualquer casal. Mas ela não para de pensar nisso: "será que casei só porque tinha uma multidão em volta, quando paguei aquele mico no trabalho?
Ela estava justamente comentando sobre isso quando Pedro chegou, com um lindo ramalhete de flores e uma caixa de bombons.
?Oi amor. Passei aqui só pra te desejar um bom dia. Lembra que hoje completamos cinco anos de casamento? Desde aquele dia sou o homem mais feliz do mundo.
Ana olhou para mim e sorriu. Ela sabe que acabaria casando com Pedro de qualquer jeito. Quem é louca de dispensar um homem desses?