Desde o dia em que assisti, no programa Na Moral, do Pedro Bial, um homem respondendo sobre o que é para ele a felicidade, aquela frase não me sai da cabeça. O jornalista fez esta mesma pergunta para várias pessoas, e as respostas, claro, foram as mais variadas possíveis. Mas este homem, em particular, não lembro mais o nome dele, disse apenas: felicidade é aquela sensação de alívio que me dá, depois de momentos de angústia. Bial olhou, ficou quieto. A plateia também. Ora, com tanta coisa pra responder, vai dizer logo isso?
Mas eu entendi o que ele disse, e o aplaudo, por também pensar assim. É lógico muitas coisas nos deixam alegres - uma bela viagem, uma grande festa, dinheiro no banco, realizar o sonho de comprar a casa própria, um carro novo, um emprego melhor. Quem não quer? Mas de nada adianta tudo isso, que o dinheiro pode comprar, se nos faltar o essencial.
Aí, então, entra o tal "alívio". Quer ver?
Você está voando. De repente, o avião entra em uma área de turbulência. Lá fora, tudo cinza, um temporal horrível. O avião treme, as máscaras de oxigênio chegam a despencar do teto com o balanço. O barulho aumenta, e a sensação é de queda iminente. Os minutos de angústia parecem horas. De repente, o tempo clareia. Lá fora, tudo volta a ficar azul. Na hora, aquele suspiro profundo de alívio não tem outro nome, senão felicidade.
Seu filho adolescente sai para ir a uma festa, e avisa que volta perto da meia-noite. Ele não chega, você telefone, o celular está fora de área. Tenta de novo, nada. Mais uma vez. Mudo. Aí, seu coração parece que vai pular pela boca. Algo grave aconteceu, você tem certeza disso. Quando pensa em se arrumar e sair atrás dele, ouve o barulho na porta. É ele chegando. Tinha acabado a bateria do celular, e ele não conseguiu te avisar que iria se atrasar. Você tem vontade de matá-lo, mas ao mesmo tempo sente um alívio tão grande que só se pode chamar isso de felicidade.
Mais um? Você teve câncer, tratou, curou. Mas precisa, a cada seis meses, passar por uma bateria de exames, para saber se a doença não voltou, o que não é muito raro de acontecer. Aí, você fica uma semana à espera do resultado, tentando controlar a ansiedade. Chega o dia, abre envelope por envelope, e constata que está tudo bem. Ufa, um alívio. Que felicidade!
Outro, ainda? Está tudo bem com sua família. De repente, você recebe a notícia de que sua mãe foi encontrada caída em casa, semiconsciente. Voa para o hospital. Foi um AVC. Em pouco tempo, ela volta a si, começa a falar direito, lembra-se de tudo, e consegue mexer o corpo inteiro. O médico chega e informa que o acidente vascular cerebral foi transitório, e não deixou sequelas. Que outro nome se pode dar a essa sensação de alívio instantâneo, senão felicidade?
Todos nós passamos por situações ruins e difíceis ao longo da vida. Não há como evitá-las. Mas, se conseguimos tirar delas boas lições, já terão valido a pena. Eu aprendi isso: nada, mas nada mesmo me deixa mais feliz do que ter minha família sempre por perto. E todos nós com saúde. O resto é só um complemento.