Os fãs brasileiros do designer João Maraschin terão, em breve, pelo menos um ponto de venda da marca homônima do artista mais perto de casa. Em entrevista à Revista Donna, o gaúcho radicado em Londres, na Inglaterra, adiantou:
— A grande novidade é que vamos começar a vender no Brasil a partir do próximo semestre.
Sem abrir muitos detalhes do novo empreendimento, ele falou sobre seu momento na carreira e os rumos de sua criação – um mix cheio de bossa entre artesanato e tecnologia. O estilista, que vem se destacando cada vez mais entre os jovens talentos da moda, é mestre em Direção Criativa pela London College of Fashion e tem em seu currículo trabalhos para grifes como Alexander McQueen e Gucci.
Suas raízes, porém, estão na serra gaúcha – especificamente em Caxias do Sul, onde nasceu, foi criado, graduou-se em Moda, pela Universidade de Caxias do Sul, e para onde volta sempre que tem oportunidade.
— Vou duas vezes ao ano, para visitar minha família e amigos. Como alguns dos artesãos e projetos estão por lá, isso permite que a visita seja possível — conta ele, salientando a relevância das parcerias que mantém por aqui desde 2020.
Foi nesse mesmo ano que seu nome tornou-se um dos expoentes da nova geração fashion, quando apresentou a coleção Viajante Estrangeiro na Semana de Moda de Londres. Com uma estética que faz referência à riqueza cultural do Brasil e, ao mesmo tempo, evidencia um olhar cosmopolita, sua narrativa o colocou no foco dos holofotes.
De lá para cá, segue incorporando texturas, expressões, movimentos e muita história às peças que desenvolve. Um trabalho lado a lado com artistas que fazem à mão o que nem a mais tecnológica de suas máquinas poderia realizar, como resume ao falar dos dois anos em que atuou como assistente no ateliê do estilista mineiro Ronaldo Fraga:
— Foi uma experiência enriquecedora, um momento especial na carreira, que me impulsionou a ir além do produtor da peça de roupa, mas principalmente a pensar sobre todos os aspectos que estão inseridos nesse produto. Muitas vezes, não visíveis, mas que são a alma do processo que a gente faz enquanto criador, que eu vejo quase que como um cientista social.
Costurando essa bagagem, a sustentabilidade é um dos grandes valores de sua criação, que estará presente no Inspiramais, nas próximas terça (11) e quarta-feira (12), no Centro de Eventos da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), em Porto Alegre.
Saiba mais sobre a trajetória do criativo
Como você define a essência da sua criação?
Meu ponto de partida foi sempre influenciado pelas minhas vivências cotidianas, mas também muito enraizado nas experiências e memórias. A essência do meu trabalho está em celebrar a cultura do Brasil pelos meus olhos e dos artesãos com quem construo essa imagem coletiva do nosso país.
Como é sua relação com o Brasil?
É intensa. Meu trabalho é, em grande parte, produzido no Brasil, através de inúmeras parcerias. Um dos elementos principais da minha prática é a relação com os artesãos, na busca por preservar as técnicas manuais mais tradicionais e, ao mesmo tempo, mantê-las relevantes no cenário atual.
E com o Rio Grande do Sul?
Atualmente, trabalho com dois grupos de artesãs, em uma parceria que já tem três anos. Em 2022, tivemos uma colaboração com a grife Alexander McQueen e grande parte dos produtos foi produzida por artesãs no RS, o que envolveu, por praticamente um ano, mais de 40 pessoas. E posso antecipar que a próxima coleção vai falar muito dessa relação minha com meu lugar de origem.
Como a sustentabilidade se aplica como pilar de seu trabalho?
As aplicações são várias e tocam todos os aspectos do negócio que estou construindo. Não tem futuro sem considerar nosso impacto, positivo ou negativo, como forma de melhor projetar, praticar e implementar processos mais responsáveis.
E através dos materiais, do reúso, reciclagem e ressignificação, mas principalmente na forma que estabeleço as relações sociais, que têm impacto direto em aspectos econômicos, culturais, políticos e em todas as camadas que estabelecem os grupos de indivíduos e a sociedade com os quais a gente se relaciona para praticar o trabalho.
E que materiais tem priorizado?
Sempre os de origem natural e/ou orgânica e/ou reciclada. E se a combinação de todas elas for possível, vai ser sempre a minha opção primária. Além disso, os monomateriais, feitos de uma fibra apenas, o que facilita o processo de reciclagem, quando a gente pensa em circularidade ou longevidade de um produto.
Também trabalho muito com sobras industriais, como forma de exercitar práticas alternativas de desenvolvimento. É estender a pesquisa e produção para além de práticas mais tradicionais, na busca pela inovação.