Por Tanise Haas, stylist, especial
Moda é um reflexo dos tempos em que vivemos. Faz parte do trabalho de um estilista entender esses movimentos e atender aos anseios gerados dentro desse contexto.
Pois Coco Chanel (1883-1971) fez isso de forma genial. Revolucionária da moda, soube entender as mudanças de comportamento do novo século, especialmente no cenário pós-guerra e dedicou-se a vestir a mulher moderna emancipada que empreendia uma mudança de papéis, com participação mais ativa. Sua estética despojada e fácil de usar conquistou as mulheres que não cabiam mais em apertados espartilhos, saias volumosas de diversas camadas que se arrastavam pela areia e uma série de artifícios que impossibilitavam o movimento e faziam com que elas dependessem de funcionários para ajudá-las a vestir-se.
Além disso, no ambiente pós-guerra reinava um clima de austeridade que não combinava com vestimentas extravagantes - por isso, a moda confortável e prática da estilista tornou-se bastante apropriada. Ainda neste contexto, o uso de tecidos considerados simples, como o jérsei, e as pérolas falsas acabaram por democratizar estilo e elegância.
Como se vê, a influência de Chanel ultrapassa a fronteira da moda e da forma de vestir e se situa na proposta de uma nova mulher. E para comemorar o que seria mais um aniversário desta incrível visionária, relembramos os seus principais legados.
O estilo Chanel
Para além das peças icônicas criadas por Coco Chanel, seu estilo é um grande legado: prático, simples e elegante. Ainda hoje, muito atual!
A estilista tinha uma inclinação para a alfaiataria e o estilo esportivo e uma fascinação pelo guarda-roupa, à época, considerado masculino. Apropriou-se dos suéteres listrados e camisas brancas dos marinheiros e usou com saias lisas e retas, cuja barra fez subir acima dos tornozelos, mostrando os sapatos de bico arredondado.
Propôs o terno feminino e o blazer, colocou as mulheres em calças, cortou os cabelos curtos, tornou tudo mais prático com o pretinho básico e o twinset. Tweed, colares de pérolas e correntes completam o visual idealizado por Coco. Mas vamos por partes agora:
Terno
Em 1916, Chanel propôs o terno de três peças – composto por saia, suéter e cardigã de bolsos chapados –, que tornou-se "obrigatório" para as mulheres da época. Feito de jérsei, o humilde tecido concedia liberdade de movimentos sem deixar de acompanhar as formas do corpo.
Fácil de fabricar, foi explorado pela produção em massa, que tornava-se cada vez mais eficaz - e virou a primeira roupa produzida em massa.
Corte Chanel
Assim como as roupas fáceis de usar, o corte de cabelo eternizado pela estilista liberava as mulheres da necessidade de ter uma criada para penteá-las. E era perfeito para acomodar o recém criado chapéu cloche.
Cabelos compridos eram sinônimo de feminilidade na tradicional sociedade da época, e o corte causou polêmica uma vez que concretizava os temores relacionados à mulher moderna.
Pretinho básico
Considerada a criadora do clássico pretinho básico, Chanel desafiou as fronteiras de classe e riqueza nos anos 1920 e democratizou a elegância, uma vez que a peça poderia ser usada por qualquer mulher, independentemente da classe econômica.
Em um misto de luxo e contenção, significou um motim contra os códigos de vestimenta impostos pela sociedade. A história depois disso vocês sabem: o pretinho básico foi alçado à condição de item básico dos closets e tornou-se uma das peças mais versáteis já criadas.
Calças e blazer
Coco Chanel, que já costumava se apropriar do guarda-roupa masculino, inspirou-se no uniforme dos marinheiros e introduziu o uso de calças pelas mulheres, com modelo boca de sino. Existe algo mais prático?
Acessórios
Sem qualquer preconceito, a estilista também popularizou o uso de bijuterias, especialmente os colares de pérolas falsas e as correntes, usadas também nas alças do clássico modelo de bolsa a tiracolo matelassada, criada nos anos 1950. Clássica, elegante e igualmente prática.
Vale citar também a consagração do modelo de sapato Sabrina bicolor com ponta preta – que disfarçava a sujeira.
Tailleur de tweed
O traje como o conhecemos hoje começou a ganhar forma durante a Primeira Guerra Mundial, quando a escassez de tecidos foi fazendo encurtar o comprimento da saia e foi promovido por Chanel nos 1950, tendo como marca registrada o uso de tweed.