Beyoncé anunciou gravidez pelas redes sociais. (Foto: Reprodução, Instagram)
Por Rossana silva, especial
Com um véu na cabeça e as mão sobre a barriga, rodeada por dezenas de flores, a diva do pop Beyoncé causou alvoroço na semana passada ao anunciar sua gravidez. E, surpresa ainda maior, de gêmeos. "Fomos abençoados duas vezes. Estamos muito agradecidos que a nossa família vai crescer", disse a cantora, que já está no quarto mês de gravidez e já é mãe de Blu Ivy, cinco anos. As gestações gemelares como a da diva do pop têm sido mais comuns nos últimos anos.
– As mulheres estão adiando a maternidade e, muitas vezes, fazendo procedimentos de reprodução assistida. Assim, aumenta a chance da gestação gemelar – explica a obstetra Júlia Barroso De Carli.
As reações ao anúncio de que gêmeos estão a caminho costumam ser efusivas. Mensagens afetuosas como "rainha", "divina" e "felicidades!" foram as que mais apareceram entre os quase 500 mil comentários do post de Beyoncé. Saindo das redes sociais e das celebridades para a vida real, nem todos os comentários recebidos por quem espera dois (ou mais!) bebês são sempre assim tão carinhosas. É comum que desconhecidos – e até mesmo amigos e a família – transmitam à gestante preocupação pela forma física ou levantem dúvidas sobre a capacidade da futura mãe de dar conta de dois ao mesmo tempo.
– As pessoas têm a tendência de contar histórias que não têm necessariamente um cunho positivo. Obstetras costumam observar que as pacientes, principalmente na primeira gravidez, chegam trazendo observações que, via de regra, não são boas experiências. "Imagina com dois", "Você não vai conseguir" ou "Você vai precisar usar complemento alimentar" – relata a obstetra.
A médica destaca ainda que a gravidez – tanto a gemelar quanto a de um único bebê – e o pós-parto são fases de extrema sensibilidade e de emoções intensas. Ou seja, comentários afetam mesmo a vida da futura mãe.
Aqui, a especialista esclarece os principais mitos e verdades da gestação de gêmeos. Com ajuda da gestante Camila Dilélio, que espera Bento e Benício (que devem nascer nos próximos dias) e da obstetra Júlia Barroso De Carli, elaboramos também um pequeno guia de etiqueta (veja na página seguinte) para saber o que não falar a uma mulher grávida de um, dois ou mais bebês.
“É preciso dar explicação a cada esquina”
Veja o relato da jornalista Camila Dilélio, que espera os gêmeos Bento e Benício:
“Comecei a dar gritinhos quando descobri na ecografia de sete semanas que estava esperando gêmeos. Ri sem parar o dia inteiro. Há uma magia em estar gerando dois bebês ao mesmo tempo. É inexplicável. A corrente de amor que se cria em volta é muito grande. Recebo muito carinho.
Por outro lado, fico chateada com alguns comentários. As pessoas têm uma preocupação de que, por serem gêmeos, eu engorde muito. Aliás, é claro que a barriga cresceu muito! Tenho 1m55cm de altura. ‘Achei que tu ia estar bem pior’ é uma das frases que mais escuto quando encontro conhecidos. Minha cintura, que normalmente mede 73 centímetros, está agora com 111 centímetros. São nove quilos só de barriga, segundo a conta da minha médica.
Quando eu estava grávida do Vicente, meu filho que hoje tem quatro anos, recebi uma visita em casa quatro dias após o parto. Ao me ver, na porta de entrada, disse: “Bá, será que não ficou outro aí dentro? Tu estás enorme!”.
Quando ando na rua, as pessoas me param para saber se está tudo bem e ficam preocupadas que a criança possa nascer a qualquer instante. Por isso, preciso explicar sempre que são dois bebês ali dentro. Outro dia, na farmácia, o atendente falou com espanto quando me viu entrando:
– Moça, por favor, não vá dar à luz aqui dentro!
É preciso dar explicação a cada esquina. Parece piada, mas as pessoas realmente fazem comentários, no mínimo, desnecessários. Geralmente, querem saber quanto eu engordei, se tenho estrias ou não… Foi assim na minha primeira gravidez, e agora está sendo em dose dupla.
Mas, entre tantas coisas maravilhosas, os aspectos negativos ficam pequenos. Ainda assim, sugiro às pessoas olharem com mais carinho para as grávidas. Deixar de lado os padrões estéticos, tão chatos e cansativos. Pensar que a geração de uma vida é especial e merece um olhar que ultrapasse formas e tamanhos. Vamos permitir que a mulher tenha filhos em paz!”
Mitos e verdades sobre a gravidez de gêmeos
São dois, e agora? A gestação de mais de um bebê costuma provocar dúvidas e curiosidades na mãe e na família, além de suscitar afirmações que, em alguns casos, não são reais. Consultamos a obstetra Júlia Barroso De Carli para esclarecer algumas das principais dúvidas das gestantes no consultório médico. Veja, abaixo, o que é verdade e o que é mito sobre a gestação de gêmeos.
GRAVIDEZ DE GÊMEOS NÃO CHEGA ATÉ O FIM
Ainda que não seja comum, a gravidez de gêmeos pode, sim, chegar às 40 semanas. Tudo depende do tipo de gestação. Quando cada feto tem a sua própria placenta e bolsa amniótica e a gestante não tem outros fatores de risco (como hipertensão e diabetes), é possível que a gestação chegue a 38-40 semanas. Porém, existem casos nas quais há apenas uma placenta, e os fetos têm uma bolsa cada um. Outra possibilidade é que haja uma única placenta e uma única bolsa amniótica para os dois bebês. Esse último caso é o mais delicado, então a cesariana é recomendada por volta das 34 semanas.
– O ideal é que até 10-12 semanas possamos verificar o tipo de gravidez por meio de ecografia. As gestações nas quais há duas placentas e duas bolsas são similares à gestação única – explica Júlia.
EXIGE MAIS CUIDADOS DO QUE A GESTAÇÃO ÚNICA
Verdade. Ainda que o pré-natal seja importante sempre, as consultas e avaliações ocorrem com mais frequência durante a gestação gemelar, na qual a prematuridade é um dos principais
fatores de risco.
– É preciso ter cuidado redobrado à medida que a gestação avança, principalmente após as 24 semanas, quando o risco de trabalho de parto prematuro, anemia e outras complicações aumenta– afirma a médica.
GRÁVIDAS DE GÊMEOS ENGORDAM MAIS
Verdade. Via de regra, as mulheres ganham mais peso na gestação gemelar do que na gestação única. Isso porque a ingestão calórica tem de ser maior, principalmente no terceiro trimestre, fase em que os bebês mais precisam de nutrientes. Não existe, porém, nenhuma relação entre gestação gemelar e obesidade. De forma geral, recomenda-se uma dieta de 2 mil a 2,5 mil calorias por dia. A partir do terceiro trimestre, cerca de 2,8 mil.
– Além disso, muitas vezes é necessário suplementar a dieta com sulfato ferroso e outras vitaminas – diz Júlia.
A retenção de líquido também é maior, impactando no aumento de peso. Enquanto na gestação única, a média de ganho de peso varia de nove a 12 quilos, na gemelar é de 12 a 18 quilos.
GÊMEOS NÃO NASCEM DE PARTO NORMAL
Mito, segundo a médica Júlia. O tipo de parto depende, principalmente, da posição dos fetos. As gestações mais comuns de gêmeos são as com duas placentas e duas bolsas amnióticas. Nesses casos, é possível realizar o parto normal (desde que os bebês estejam bem posicionados). Nas gestações nas quais a bolsa é única, o mais seguro é a cesariana antes da mulher entrar em trabalho de parto.
– A gestante deve ficar tranquila, pois no pré-natal, será vista a melhor forma de nascimento dos bebês – conclui.
NÃO DIGA PARA UMA GRÁVIDA...
Que barriga gigantesca!
Evite comparar o tamanho da barriga ou que perguntem quantos quilos a mulher engordou. Cada gestação é única, e a circunferência da barriga pode variar de acordo com o metabolismo de cada grávida. Isso é normal. A saúde do bebê não costuma estar relacionada ao número de quilos que a mãe ganhou durante a gravidez.
Você não vai conseguir amamentar dois.
Não questione a capacidade da mãe de atender à necessidade de leite materno do dois bebês. Afirmações como “você não vai conseguir” ou “Terá que usar complemento alimentar” não apenas assustam, elas também não costumam ser verdade.
Como você está inchada!
Comentários dessa natureza ou ainda “você já está com cara de mãe” não tendem a agregar nada à futura mãe. Uma gravidez não é momento para julgamentos.
Mas não nasceu ainda?
Indagações e questionamentos sobre a data do nascimento podem provocar ansiedade em quem espera o bebê. É comum que as grávidas escutem frases como “Vai passar do tempo...”. A gravidez é monitorada por obstetras que estão atentos à data de nascimento dos bebês.
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