Quando subir ao palco da Saba, no Litoral Norte, em 4 de fevereiro, com seu figurino Dolce&Gabbana, Ivete Sangalo dará um recado multicolor. A segunda noite de Planeta Atlântida, em edição que marcará o retorno do festival após dois anos, vai presenciar mais uma apresentação da turnê Tudo Colorido, iniciada em 2022.
Mas também muito da Bahia, da trajetória e da energia de uma das maiores artistas em atividade do Brasil. E quanta atividade, diga-se.
Ivete não para e nem quer. Com agenda lotada de shows, prepara-se para o começo das gravações da nova temporada do reality musical The Masked Singer Brasil, na TV Globo, em janeiro, e afirma: enquanto viver, o público vai vê-la muito e em tudo. Incluindo a interpretação, vertente artística que mais a desafia – o que não significa menos brilho e entrega.
Em uma brecha na rotina, respondeu por e-mail as perguntas de Donna e, como se estivesse em nossa frente ao vivo, falou intensamente sobre carreira, maternidade e a chegada dos 50 anos – idade que recebeu agradecida com a vida e em paz com o momento:
— Toda pressão que vem maltrata, coloca em risco a saúde mental e consequentemente a saúde física, e isso envolve estética, aparência e tudo isso. Então, procuro não me deixar levar por isso, porque o tempo é implacável.
Os planetários serão embalados pelas canções que compõem o álbum Onda Boa, nascido da série documental da HBO Max, como Mexe a Cabeça, Salve Baby e Onda Poderosa. Um tempo presente acompanhado dos seus maiores sucessos que revisitarão quase três décadas de estrada.
Você se divide em várias profissionalmente e consegue ser 100% em tudo ao mesmo tempo. Qual o segredo?
Acho que o ritmo frenético e a energia vêm muito da minha personalidade. As pessoas sempre vão me ver assim. Ainda que não viva num ritmo frenético, minha personalidade sempre vai passar isso. As coisas que faço me completam, me deixam feliz. Dentro do meu trabalho, a última coisa que penso é sobre quanto tempo vou fazer isso ou não. Estou fazendo e esse que é o maior barato. Então, meu corpo, minha cabeça e meus planos me levam para um caminho de “quero viver, feliz, bem e fazer as coisas de que gosto”.
Em 30 anos de carreira, você viu a indústria da música se transformar e sempre se adaptou. Como recebe emocionalmente tantos desafios? É algo natural ou lhe cobra um preço alto na saúde?
Bom, tenho milhões de planos na cabeça, porque as coisas que realizei foram importantes para fortalecer ainda mais essa minha vontade de continuar. É sobre o que vamos fazer, não só exclusivamente sobre o que já fizemos. Então, o frio na barriga é meu grande parceiro para viver essa vida com toda intensidade. Tenho esse friozinho desde o momento em que acordo e digo: “ai, que coisa boa! Estou viva, cheia de saúde, louca para fazer tanta coisa”. Para mim, isso é apenas o começo.
A curto prazo, o que mais vai tomar sua agenda? Televisão, turnê...
Pensando em dezembro, estou lotada de shows. Já em janeiro, começo a gravar a nova temporada do The Masked Singer Brasil. Ou seja, acho que o público vai me ver ainda muito na TV, no palco, de todo o jeito enquanto eu viver.
Você completou 50 anos em 2022. Quais são as maiores transformações que percebe?
A chegada aos 50 anos, para mim, representa uma maturidade deliciosa, que traz calma. Mas vejo também como uma forma de agradecer por estar aqui, vivendo, cheia de saúde, de energia, fazendo o que mais gosto. Hoje tenho os meus filhos, a minha família, uma carreira de muito sucesso, graças a Deus. E isso é a certeza de que está valendo muito a pena.
Como a maternidade e a vida pessoal se encaixam nesse turbilhão todo que você vive?
Não é o movimento natural se afastar dos filhos. A gente precisa estar com eles, é uma necessidade. Mas administrar o trabalho não é uma circunstância difícil só para mim. É da mulher de hoje. Trabalha, administra a casa, a carreira e, prioritariamente, os filhos. Saio de casa ao encontro de ambientes com muito amor e música, e consigo atenuar a minha ausência contemplando a grande oportunidade de poder fazer algo que adoro, que é cantar.
Marcelo, seu filho mais velho, está ingressando na música e participa de vídeos com você. O que é mais forte: o orgulho ou o sentimento de “meu filho cresceu e vai ser do mundo”?
Acho que uma mistura dos dois, não preciso escolher um. Ao mesmo tempo em que tenho muito orgulho do homem que ele está se tornando, e que já é, sei que ele é um indivíduo com vontades, dúvidas etc. E que vai trilhar seu próprio caminho. Quero poder sempre propiciar, dentro do meu alcance, o que for possível para ele se realizar.
A gente sempre fala sobre uma pressão estética e quando falo de cuidados comigo e com minha autoestima, passa também pela saúde mental
IVETE SANGALO
Cantora, apresentadora e atriz
Como tem sido a criação das meninas, levando em conta que você mesma já sofreu julgamentos pelo fato de ser mulher? Percebe diferença em relação ao Marcelo?
O mais importante de criar filhos é tratar de forma igual para que eles entendam que isso é algo muito genuíno, próprio. Você ser igual ao outro em direitos e deveres de tudo o que vier, mas igual.
Educo meu filho para que ele perceba que a mesma maneira como ele se sente importante existindo no mundo, e que ele precisa de oportunidades, é para todas as pessoas. Independente de ele ser homem ou se fosse mulher.
Ele tem que se colocar na situação de “se eu quero isso, por que o outro não pode querer também ou não deve ter?”. Essa é a tônica do convívio com meus filhos: dizer a eles que o que vai fazer com que sejam grandes figuras dentro da sociedade. É o que aprendem e vão dar de retorno a esse aprendizado. Trato isso da mesma maneira quando uma criança aprende um idioma novo. Ela está com o HD vazio, você vai lá e coloca na cabeça dela uma série de coisas que ela vai usar para o resto da vida. Tudo o que aprender, vai colocar em prática de forma natural. E, obviamente, a contribuição dela vai ser não admitir que não participe da própria vida, dentro dos direitos que ela tem.
As pernas de Ivete Sangalo sempre foram reverenciadas nacionalmente. Como lidou e lida com as pressões estéticas? E como você se cuida?
A vida inteira me cuidei muito, mas para ter hábitos saudáveis. A gente sempre fala sobre uma pressão estética e quando falo de cuidados comigo e com minha autoestima, passa também pela saúde mental. Então, quando se fala da saúde do corpo, a gente fala sobre uma saúde física e, acima de tudo, mental. Uma das minhas grandes preocupações era manter a minha qualidade de vida nesse quesito.
Toda pressão que vem maltrata, coloca em risco essa saúde e consequentemente, o físico. E isso envolve estética, aparência e tudo isso. Então, procuro não me deixar levar, porque o tempo é implacável. Acho que nossa cabeça coordena esse corpo, esse tempo e ela faz a gente ter uma sintonia de equilíbrio.
Agradeço por ter chegado aos 50 anos. Ao contrário do que muita gente pensa, chegar aos 50 é estar agradecido, vibrando, brindando: “olha só, estamos chegando longe, que coisa boa”.