Ninguém sabe exatamente com qual roupa a rainha Elizabeth II foi enterrada. Entretanto, no que diz respeito às joias, especialistas especulam que a monarca tenha usado duas peças significativas: sua aliança de casamento, que é feita de ouro galês, e um par de brincos de pérolas, pois esse item era sua marca registrada.
— De luto, a realeza não usa cores, e as pérolas são puras, brancas e sem chamativos. Isso vem da rainha Victoria, que, como sabemos, não quis usar nenhuma cor após a morte de seu marido, o príncipe Albert — apontou a especialista em joalheria Josie Goodbody ao jornal britânico Evening Standard.
O anel de noivado da rainha também é uma pedra incolor, com um grande diamante ladeado por oito diamantes menores, mas Josie acha improvável que ela tenha sido enterrada com o item.
— Pessoalmente, acho que provavelmente vai para sua filha, a princesa Anne. Muitas pessoas dão anéis de noivado para suas filhas, ou para seus filhos para pedirem as amadas em casamento.
Por todos os filhos da rainha já serem casados, Josie aposta que Anne receba a importante joia. Mas, afinal, após a morte da monarca, para quem vão todas as (muitas) outras joias que Elizabeth acumulou em seus 96 anos? Em primeiro lugar, é importante lembrar que as joias da coroa não pertencem tecnicamente à rainha.
— Elas são entregues de monarca a monarca em confiança para a nação — afirmou a especialista real Katie Nicholl ao jornal Entertainment Tonight. — Então, tecnicamente, elas pertencem ao monarca, mas o monarca não pode fugir com as joias da coroa. Elas ficam protegidas na Torre de Londres em segurança, e quando um monarca morre, as joias da coroa são imediatamente passadas para seu herdeiro.
Portanto, coroa, cetro e orbe da rainha agora pertencem ao seu filho, o rei Chales III. Há ainda um processo de classificação do que acontecerá com o restante da joalheria.
— Há uma hierarquia em tudo isso. A rainha consorte (Camilla Parker Bowles, esposa do rei Charles), na verdade, fica com a primeira escolha das joias da rainha — explicou Katie Nicholl. — E depois disso é a princesa de Gales, claro, Kate (Middleton, esposa do príncipe William). A Duquesa de Sussex (Meghan Markle, esposa do príncipe Harry), tenho certeza, terá algumas joias em algum momento, mas ela está muito mais abaixo na hierarquia.
A especialista em joalheria Josie Goodbody concorda, mas observa que essa hierarquia pode já ter sido estabelecida, com as joias concedidas a seus novos proprietários antes mesmo da morte da rainha.
— A rainha já passou certas tiaras para Camilla e Kate. A Cambridge Lover’s Knot Tiara, por exemplo, foi emprestada a Diana em vida, e depois voltou para a rainha quando ela morreu, mas agora é usada por Kate — lembrou.
Além dos presentes já recebidos pela rainha, Josie espera que os membros da família real usem itens de sua coleção de joias pessoais "emprestados" em determinadas ocasiões.
— Se houver uma ocasião especial em que (as mulheres da família real) queiram ir para uma certa época de joalheria, por exemplo, talvez se aproximem do joalheiro da rainha ou de quem protege a coleção e usem uma peça só para a noite.
Joias x colonialismo
Com a morte da rainha, foi reacesa a discussão sobre a origem de certas pedras preciosas presentes nas joias da família real. O perfil Africa Archives, dedicado a registros históricos e culturais do continente africano, publicou no início do mês uma série de tweets sobre um mineral, considerado o maior diamante lapidado do mundo, com 530 quilates, usado na Coroa do Estado Imperial.
Segundo o perfil, o item foi extraído de uma mina próxima a Pretória, na África do Sul, em 1905, e tem valor estimado em US$ 400 milhões (aproximadamente R$ 2 bilhões). A retirada do diamante do seu local de origem, durante o colonialismo, gerou controvérsias na década de 1990. Nessa época, líderes africanos exigiram que ele fosse devolvido aos seus "verdadeiros donos" e acusaram os britânicos de "roubo". Já a Grã-Bretanha negava as acusações e afirmava que a pedra preciosa teria sido doada como um "símbolo de amizade e paz".
A peça, conhecida como A Grande Estrela da África, foi então dividida em nove partes principais e 96 brilhantes menores. Atualmente, muitos desses pedaços pertencem à família real, como a Segunda Estrela da África ou Cullinan II, que está abrigada na faixa frontal da Coroa do Estado Imperial.
Além da pedra preciosa africana, os britânicos também mantêm o diamante indiano Koh-i-noor, aplicado no cetro real do monarca. Registros históricos apontam que o item teria sido encontrado no sul da Índia, em 1300. Com cerca de 105,6 quilates, atualmente, tem valor estimado em US$ 400 milhões (R$ 2 bilhões). Segundo historiadores, a Grã-Bretanha obteve a posse da pedra indiana em 1849, em função do Tratado de Lahore, que declarava que o diamante deveria ser entregue à rainha britânica Vitória.
Apesar da morte da rainha ter provocado novos debates sobre o assunto, não se sabe se existe algum real movimento para que essas pedras sejam devolvidas aos seus países de origem.