A cabeleireira Desirée Oliveira, 34 anos, de Canoas, é a candidata do Brasil ao Miss Internacional Trans, que ocorre entre 8 e 11 de junho no Panamá. Com vasta experiência em competições de modelos transexuais, ela conquistou o título de miss na sua cidade natal, foi vice-campeã da etapa estadual e eleita Miss Brasil Transex em 2017. O reconhecimento lhe rendeu o convite para o evento internacional.
No Panamá, a canoense competirá com as candidatas da Bolívia, Colômbia, Chile, El Salvador, Estados Unidos, Guatemala, Índia, Indonésia, México, Nicarágua, Peru, Porto Rico e Tailândia.
De acordo com a cabeleireira, poder participar do concurso é a realização de um sonho que almeja há 10 anos. Desirée contou, em entrevista ao Diário de Canoas, que se sente grata por poder representar ao mesmo tempo a comunidade transexual e o Brasil e que, independentemente do resultado, já se sente vencedora.
A miss planeja aproveitar a visibilidade do evento para defender a causa LGBTQIA+ e para transmitir mensagens de respeito e tolerância. Segundo a modelo, desde pequena ela sofre as consequências do preconceito, porém, hoje com o reconhecimento que conquistou, já não acontece com a mesma frequência.
— Hoje a opinião dos outros não me afeta mais, porque sou feliz do jeito que sou — afirmou Desirée à publicação.
Campanha virtual
O Miss Internacional Trans estava previsto para ocorrer em 2021, mas devido à pandemia, o evento teve que ser adiado. A nova data possibilitou que Desirée ganhasse mais tempo para arrecadar o dinheiro necessário para os custos da viagem.
Transporte, alimentação e hospedagem serão pagos pelos organizadores do concurso, mas é necessário à candidata custear figurino, maquiagem e outros itens. Uma das estratégias adotadas pela miss foi a criação de uma "vaquinha virtual" para arrecadar parte dos fundos. Além disso, ela conseguiu alguns patrocinadores.
A cabeleireira já adiantou, em entrevista ao G1, que em seu discurso falará sobre igualdade e que utilizará um traje típico brasileiro em referência a Iemanjá.
Batalha contra o preconceito
Desirée conta que enfrentou transfobia dentro de sua própria família, na vizinhança e em grupos de amigos. Segundo a modelo, desde cedo ela não se via como menino e sonhava em ganhar uma festa de 15 anos em que pudesse colocar um vestido e ter um dia de princesa, mas isso não ocorreu.
Ao G1, ela relembrou que logo após a cirurgia de redesignação sexual enfrentou momentos difíceis. Nessa fase, foi barrada em lugares fechados e ofendida publicamente.
Antes da cirurgia, Desirée também viveu uma situação de preconceito que, segundo ela, marcou sua vida. Na ocasião, a cabeleireira que na época se identificava como um indivíduo do sexo masculino, cortou os longos cabelos que usava, se adequando ao pré-requisito de uma vaga de emprego que tentava conquistar. No entanto, mesmo tendo atendido à exigência, nunca foi chamada para o trabalho.
Segundo a modelo, foi nesse momento que decidiu trabalhar como cabeleireira. A canoense disse que, com seu trabalho, conseguiu desmistificar um pouco a ideia de que pessoas LGBT+ têm comportamentos julgados e considerados como vulgares.
— Eu sou cabeleireira há 17 anos, levo uma vida normal, trabalho como qualquer outra mulher. Eu tento mostrar para as pessoas que nós podemos conquistar o nosso espaço sem se prender a ninguém ou a alguma coisa — disse ao G1.
De acordo com dados da Rede Trans Brasil, a expectativa de vida da população transexual no país é de 35 anos. Para Desirée, que está há um ano de completar a idade, é preciso que a comunidade LGBT+ continue resistindo e batalhando para conquistar seus espaços de direito. A modelo tem uma visão otimista e acredita que com o apoio de outras minorias e de vários setores da sociedade, as pessoas vão aos poucos aprendendo a se respeitar como seres humanos.