Pode não ser uma tarefa fácil abrir o jogo e falar publicamente sobre a própria sexualidade, ainda mais se você é uma artista reconhecida que faz parte da comunidade LGBT+.
Nesta segunda-feira (29), data em que é celebrado o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, reunimos algumas personalidades que costumam usar suas plataformas para trazer luz ao tema, quebrar preconceitos e incentivar a representatividade. Confira:
A atriz passou por um dilema muito comum entre pessoas LGBT+: revelar à família a sua sexualidade. Em entrevista à websérie Verão da Xanda, da jornalista Alexandra Gurgel, no ano passado, Nanda admitiu ter tido muito receio de "sair do armário". Ela é casada com a musicista Lan Lanh, com quem tem duas filhas.
— Eu tinha muito medo de falar, de ser quem eu sou. Quando consegui, falei para mim: "É isso mesmo, vou contar para minha família". Minha avó tomou um susto, achou que era fase, que ia passar. A minha mãe também ficou meio sem entender. O meu avô, com quem tenho uma ligação fortíssima, falou que já desconfiava: "Que bom que você entendeu isso, mas levou 21 anos para conseguir se entender, se aceitar. Respeita o tempo da sua mãe, da sua avó, que o importante é o amor”— relatou.
Nanda relembrou, ainda, de quando, após assumir publicamente sua sexualidade, uma produtora de elenco duvidou que ela conseguiria interpretar uma personagem heterossexual em uma novela das 21h. A atriz mandou um conselho para quem se inspira em sua trajetória:
— Se inspire em mim, mas seja você. O melhor que a gente pode ser é a gente. A Clarice Lispector tem uma frase que eu amo: "Depois do medo vem o mundo". Muitas vezes, nosso medo é nossa maior força. Eu tinha muito medo do que ia acontecer comigo depois que me assumisse. Nossa, fiz filme internacional, virei embaixadora de uma marca internacional. A vida mudou, sabe?! E eu estava aqui pensando pequenininho… O mundo é muito maior. A vida é muito maior.
A atriz, que assumiu sua sexualidade em 2016, publicou uma mensagem em vídeo no seu Instagram em 2020 contando um pouco de sua experiência. Apesar de deixar bem claro que não tem medo, Bruna contou que já sofreu, sim, homofobia por demonstrar afeto em público. Ela namora a DJ Marta Supernova há dois anos.
— Eu não vou parar de beijar a minha namorada ou de fazer o que qualquer casal hétero estaria fazendo só porque uma outra pessoa está envergonhada. Se você está com vergonha, talvez você que tenha que se tratar.
Em entrevista à colunista Patrícia Kogut, do jornal O Globo, em junho de 2021, Bruna contou como achou que sua vida mudaria após revelar sua sexualidade publicamente.
— Sempre vivi meus desejos, fossem sobre o que fossem, com muita vontade, liberdade e alegria. Me apaixonar, estar e namorar mulheres foi mais um desses desejos. Não foi uma questão para mim. Na época, não foi um problema. (...) As pessoas e eu pensávamos que eu não ia conseguir mais trabalhar, não sabíamos o que ia acontecer com a minha carreira. E era um receio genuíno porque isso acontecia realmente. As pessoas perdiam papéis e contratos. Quando eu comecei a falar, foi porque saiu numa matéria que "Bruna Linzmeyer é gay" — relatou
Bruna ainda refletiu, na época, sobre o nome que poderia usar para o seu caso, e enxergou nisso uma problemática pouco discutida.
— Eu não tinha nem pensado nesses nomes, sabe? Eu estava só vivendo a minha vida. Mas eu pensava: "Se eu for ser alguma coisa, não é 'gay' a palavra. Acho que talvez seja lésbica. Porque gays são homens". No caso, eu sou uma mulher, então já tem uma invisibilidade nesse sentido. Aí fui me colocando conforme as coisas foram vindo e não foi fazendo muito sentido para as pessoas que estavam ao meu redor nem para mim. Fui descobrindo isso junto com as pessoas que me acompanham, junto com vocês da imprensa. Fui aprendendo sobre os nomes, a importância de falar disso — acentuou.
Por fim, comentou que, atualmente, a pauta passou a fazer parte de seu trabalho, em um esforço de divulgar as informações corretas sobre a causa LGBT+ e gerar identificação e representatividade.
— Falo porque eu preciso e porque é preciso para o mundo ser falado. Então, trato com carinho. São coisas que eu adoraria ter ouvido.
A "Rainha do Axé", apelido carinhoso recebido ao longo dos 25 anos de carreira, falou pela primeira vez sobre o relacionamento com a produtora Malu Verçosa em abril de 2013. Casadas desde então, as duas frequentemente trocam declarações nas redes sociais.
"Constituir família com outra mulher é um ato de fé, é um grito de liberdade, é a invenção de um mundo novo dentro e fora de de nós. Todo amor é sagrado. Livres e iguais", escreveu ela em seu perfil do Instagram no dia da Parada LGBT em São Paulo em 2018.
A cantora usou seu perfil do Instagram no dia 28 de junho do ano passado, data em que é celebrado o Dia do Orgulho LGBT+, para postar uma foto ao lado da namorada, Popi Itapema, e fazer uma declaração sobre sua sexualidade.
"Orgulho da gente. Da nossa luta. Do que somos, e construímos. Merecemos o melhor como todo ser vivo. Orgulho. Pois, pra viver num mundo desses, tem que ter orgulho no peito e coragem nas ventas", escreveu ela.
Em 2017, quando ainda namorava a produtora de moda Lua Leça, com quem teve um relacionamento de oito anos, a artista também falou sobre o assunto em entrevista à Donna.
— Não acredito que a orientação sexual de uma pessoa não tenha que ser tratada de uma outra forma, que não com igualdade. (...) A classe artística vem, ao longo de muitos anos, falando sobre a sua própria sexualidade, não sou a única a fazer isso. E por ter esse acesso mais fácil, acabamos criando uma relação sentimental com o público. Isso vira uma força muito grande, de coragem, de disponibilidade, de possibilidade. É muito importante que esse tema seja falado abertamente, que não seja mais um tabu, que seja um assunto leve, porque a leveza traz a igualdade. Estamos chegando a um momento muito bonito de conscientização e de aceitação, apesar de o Brasil ser o país que mais mata transexuais no mundo. Essa união que está ocorrendo agora se baseia em muita coisa legal para o futuro.
No dia 29 de agosto de 2020, a cantora se apresentou em show drive-in no Allianz Parque, em São Paulo, onde fez um discurso sobre a importância do dia.
— A data de hoje reforça a existência da mulher lésbica e seu lugar na sociedade. Nós não somos invisíveis. Não adianta fingir que a gente não existe, porque a gente existe, a gente atua, a gente tem opinião. Nós queremos respeito. Eu resolvi abrir esse espaço no show e nas minhas redes sociais hoje para dar visibilidade da maneira que eu mais acredito, que é pelo amor.
Já em seu perfil do Instagram, reforçou:
"A visibilidade é extremamente importante na busca por voz dentro da sociedade e a luta por direitos".
Uma das apresentadoras mais populares da televisão norte-americana, Ellen é também um dos ícones gays mais celebrados dos Estados Unidos. Casada desde 2008 com Portia de Rossi (a apresentadora e a atriz oficializaram logo depois que o casamento entre pessoas do mesmo sexo foi legalizado no estado da Califórnia), ela foi inclusive condecorada pelo ex-presidente Barack Obama pelos trabalhos em prol da comunidade LGBT.
— Eu decidi que essa não seria uma coisa pela qual eu viveria envergonhada o resto da minha vida. Sim, eu sou gay. E então eu percebi que quanto mais tempo eu mantinha isso como segredo, mais eu estava tornado aquilo algo "errado"— disse em uma de suas primeiras entrevistas com Oprah Winfrey.