A atriz Alessandra Negrini relembrou uma polêmica em que esteve envolvida no ano passado em entrevista ao podcast Novela das 9, em trecho publicado nesta segunda-feira (23). No Carnaval de 2020, a artista foi acusada de apropriação cultural por usar o bloco Baixo Augusta, de São Paulo, do qual era rainha, para fazer um protesto a favor dos direitos dos povos indígenas se vestindo como tal.
Na ocasião, a atriz vestiu um body preto e um cocar, e usou uma maquiagem com referências aos povos indígenas. Após as críticas, explicou que se tratava de um manifesto, e lideranças indígenas que estavam com ela no bloco se posicionaram a favor da artista. Ao relembrar o episódio, Alessandra diz ser contra a "cultura do cancelamento", mas pondera que ela surgiu como um sinal de alerta importante.
— Não sou a favor. Como diria Nelson Rodrigues, toda unanimidade é burra. Essas coisas precipitadas da internet levam a equívocos. O cancelamento surgiu como uma ferramenta importante de balizar as pessoas e falar: "Não, você não pode fazer isso, isso é horrível". Ele tem seu valor nesse sentido. Mas virou algo impositivo, virou um instrumento de violência. Então tem que ter sempre o diálogo dentro da própria narrativa. Você tem uma narrativa, mas tem que pensar os prós e os contras dentro da própria narrativa. Ou seja, você tem que parar para pensar. O que tem acontecido no cancelamento é que ninguém para para pensar. Eu acho meio fascista o processo do cancelamento, na verdade — opinou.
Ao ser questionada se o caso despertou alguma reflexão que lhe fizesse mudar de ideia a respeito da sua decisão de se vestir como indígena, a atriz afirmou que estava muito segura de sua proposta.
— Eu estava muito segura, nem esperava que isso fosse acontecer (...) Essa questão da apropriação cultural é quando não tem troca. Você pega um signo de um grupo, se apropria para você e o grupo em si que produziu aquilo não recebe nada. Não é o caso. Eu chamei um indígena para pintar o meu rosto, então o trabalho dele estava impresso no meu rosto. Ele tem um trabalho maravilhoso, o Benício Pitaguary. E eu estava lá para mostrar isso. Era a representatividade deles— explicou.
Por fim, contou que, apesar da situação, não costuma pensar em "ser cancelada".
— Não é uma preocupação da minha vida no momento. Mas a gente se preocupa em tentar entender o mundo com os melhores conceitos. "Como pensar o mundo" é uma questão para todo mundo hoje em dia — concluiu.