O termo cancelamento, nascido na era das redes sociais, descreve um indivíduo, marca ou empresa boicotado depois de agir de forma censurável – em geral, costumam ser erros que envolvem racismo, LGBTfobia ou machismo.
O cancelamento é um tipo de ataque à reputação que busca retirar o alvo dos holofotes do debate público e puni-lo. Todos os dias, em processo semelhante, cancela-se alguém flagrado em absurdo. O vacilo é compartilhado milhares de vezes – em geral, no Twitter –, mensagens de ódio são enviadas, e o cancelado, já humilhado, sofre consequências financeiras, com perda de contratos e patrocínios.
Há diversos casos de cancelamento de famosos ocorridos nos últimos anos, no Brasil e em outros países. Confira alguns que ganharam repercussão:
Casos nacionais
Gabriela Pugliesi
No fim de abril e em meio à quarentena da pandemia, a influencer fez uma festa à noite (e madrugada) com amigos e divulgou o encontro nas redes sociais. O gesto foi fortemente criticado pelos fãs. No dia seguinte, ela pediu desculpas e chegou a suspender a própria conta no Instagram, mas a sangria desatou: ela perdeu contratos publicitários com mais de 10 marcas e estima-se que sofreu um prejuízo de R$ 3 milhões.
Raul Seixas
O cantor foi cancelado após uma biografia apontar que ele delatou o amigo Paulo Coelho a militares, durante a época da ditadura. O próprio escritor, contudo, desculpou o amigo: “Eu vi os documentos que Jotabê me enviou, já tinha conversado com Raul a esse respeito (um dia que ele estava, digamos...) e águas passadas não movem moinhos”, escreveu Coelho no Twitter.
Nego do Borel
Em 2019, após a transexual Luísa Marilac compartilhar uma foto do cantor dizendo que ele estava “a cada dia mais gato”, Nego do Borel respondeu: “Você é um homem gato também, parabéns. Deve estar cheio de gatas!”. Ele foi cancelado por transfobia e pediu desculpas, mas teve shows cancelados e viu a impopularidade respingar em Anitta.
Anitta
Após chamar ao palco Nego do Borel, Anitta foi cancelada por supostamente compactuar com a transfobia do amigo. Em outro episódio, cobrada por fãs a responder se apoiava o presidente Jair Bolsonaro, Anitta não se posicionou e foi cancelada por “ficar em cima do muro” e se aproveitar do dinheiro de fãs LGBT+. Ela deu a volta por cima: disse que não entendia de política e passou a organizar lives com a amiga e advogada Gabriela Prioli para aprender.
Lilia Schwarcz
Uma das mais conhecidas pesquisadoras brasileiras a estudar o racismo, a historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz foi cancelada após publicar um texto na Folha de S.Paulo no qual criticava o novo disco de Beyoncé. Ela disse que a artista deveria “sair um pouco da sua sala de jantar”, e que “causa estranheza que a cantora recorra a imagens tão estereotipadas e crie uma África caricata e perdida no tempo das savanas”. Lilia pediu desculpas.
MC Biel
Durante uma entrevista em 2016, Biel chamou a repórter de “gostosinha” e afirmou: “Se te pego, te quebro no meio”. A jornalista divulgou o assédio, foi demitida e Biel foi massacrado nas redes sociais. Publicou um vídeo de desculpas, mas a internet não comprou. O contrato com a gravadora Warner Music foi rompido e ele chegou a perder 15 quilos. Ele desapareceu por um tempo e tentou retomar a carreira com o nome Gah, mas não deu certo.
Estrangeiros
Woody Allen
No início do ano, a editora Hachette cancelou a publicação da autobiografia do diretor após fortes críticas nas redes sociais e de funcionários da editora. Allen foi acusado de abusar sexualmente de sua filha adotiva Dylan Farrow quando ela tinha sete anos. Ele nega a acusação. O diretor também perdeu um contrato estimado em US$ 68 milhões com a Amazon, responsável pela distribuição de seus filmes.
J.K. Rowling
A autora da saga Harry Potter foi cancelada por suposta transfobia, após compartilhar no Twitter um texto intitulado “Criando um mundo pós-COVID-19 mais igual para pessoas que menstruam” e questionar: “Pessoas que menstruam. Eu tenho certeza que costumava existir uma palavra para essas pessoas. Alguém me ajude”. Nos últimos dias, voltou a ser atacada por causa do novo livro de sua série policial, Cormoran Strike, em que assina sob o pseudônimo Robert Galbraith (por sinal, nome de um psiquiatra americano que tentava “curar” homossexuais). Em Troubled Blood, há um travesti assassino.
Drake
O cantor canadense foi cancelado por vários motivos: cancelou (literalmente) a turnê que faria no país e prometeu se apresentar apenas no Rock in Rio, em 2019. Daí, decidiu proibir a transmissão ao vivo do show. Também se negou a tirar fotos com fãs no aeroporto e trouxe marmitas ao Brasil para não comer a comida daqui.
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