O escritor Paulo Coelho, 72 anos, está atento à repercussão da hipótese, divulgada nesta quarta-feira (23), de que seu antigo amigo e parceiro Raul Seixas o tenha delatado durante a ditadura militar. A suspeita foi levantada pelo autor da nova biografia do roqueiro, o jornalista Jotabê Medeiros, baseada em informações de documentos públicos.
Em resposta a um internauta que sugeriu que iria "cancelar" Raul Seixas por conta da possibilidade de Raul ter colaborado com a ditadura, Paulo Coelho escreveu: "Não faça isso. Eu vi os documentos que Jotabê me enviou, já tinha conversado com Raul a esse respeito (um dia que ele estava, digamos...) e águas passadas não movem moinhos", escreveu no Twitter.
Os documentos são do Arquivo Público do Rio de Janeiro e foram acessados por Jotabê Medeiros para escrever o livro Raul Seixas: Não Diga que a Canção Está Perdida. No texto, o autor menciona a proximidade de datas em que o músico prestou depoimento à polícia militar no ano de 1974.
"Comparei as datas e vi que, entre o primeiro depoimento de Raul ao Dops e o segundo depoimento, no qual ele levou Paulo Coelho, demorou pouquíssimo tempo", disse Medeiros.
Os depoimentos de Raul foram seguidos dos depoimentos de Paulo Coelho, assim como sua prisão e a de sua namorada na época, Adalgisa Rios. O escritor foi torturado por duas semanas.
Pouco antes da repercussão ampliada com uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo, Paulo escreveu, também no Twitter, que havia "ficado quieto por 45 anos" e que achava que levaria essa suspeita "para o túmulo".
Autor de uma biografia sobre Paulo Coelho, o escritor Fernando Morais foi entrevistado pela Folha para dar sua opinião sobre o caso. Ele também teve acesso ao documento obtido por Medeiros, mas preferiu assumir um posicionamento mais cauteloso: acredita que Paulo e Adalgisa foram dedurados, mas não que tenha sido por Raul.
Por outro lado, Medeiros acredita que Paulo Coelho "não tem a menor dúvida , hoje, após ver o documento, que Raul o entregou", escreveu ele na biografia. O livro Raul Seixas: Não Diga que a Canção Está Perdida deve ser lançado no dia 1º de novembro.
Procurada pela reportagem de GaúchaZH, Vivi Seixas, uma das três filhas de Raul, não quis se pronunciar sobre o assunto e informou que nenhum familiar irá comentar o caso.