Aos 23 anos, a modelo Gabrielle Gambine tem chamado atenção no mundo da moda. Com trabalhos para grandes marcas como M.A.C. Cosmetics, Avon e Havaianas no currículo, além de editoriais para as revistas Vogue e Glamour, agora ela se prepara para sua primeira experiência em televisão: a jovem estará no elenco da segunda temporada de Verdades Secretas, trama de Walcyr Carrasco que ainda não teve sua data de estreia confirmada, mas deve ir ao ar ainda neste ano — em agosto, a emissora irá reprisar a primeira temporada.
Gabrielle, que começou a carreira aos 18 anos, pretende usar a moda e a atuação como plataformas de inclusão e respeito às pessoas LGBT+. Na trama, ela interpretará uma modelo que, assim como ela, também é trans.
— É muito representativo ocuparmos todos estes lugares. O audiovisual e a moda têm o poder de abrir discussões que, muitas vezes, ainda são tabus. Quando o grande público vê pessoas trans sendo amadas, respeitadas e construindo histórias fora da marginalidade, fortalecemos este imaginário — reflete.
Para ela, a importância desta representatividade nas telas está na possibilidade de criar mais referências para o público. "Afinal, quantos filmes e séries tiveram pessoas trans como protagonistas?", questiona.
— É responsabilidade dos dramaturgos refletirem sobre o que estão produzindo para o público consumir e o quanto isso agrega à nossa comunidade. Infelizmente, ainda são poucas as obras que exaltam a comunidade trans. Vemos muitos personagens estereotipados e tramas que limitam a nossa comunidade à marginalidade, prostituição e problemas de aceitação com o próprio corpo, e isso precisa mudar — opina.
Para o futuro, ela pretende explorar mais possibilidades dentro do audiovisual.
— Nós, pessoas trans e travestis, somos diversas, então eu espero poder viver na dramaturgia personagens diversos também, com diferentes trajetórias, sonhos e medos.
Vemos muitos personagens estereotipados e tramas que limitam a nossa comunidade à marginalidade
GABRIELLE GAMBINE
A modelo e agora atriz tem uma importante referência na família: é sobrinha de Roberta Close, fenômeno dos anos 1980 e primeira modelo trans a cruzar passarelas no país e posar nua para a revista Playboy. Gabrielle conta que as duas costumam conversar sobre trabalho quando sobra um tempinho na agenda - mas por telefone, já que Roberta atualmente mora na Suíça.
— Ter minha tia por perto foi importante para ter contato com pessoas LGBT+ desde cedo. Desde pequena eu já era feminina, e a Roberta me fez compreender minha ancestralidade e a importância da história do nosso movimento no Brasil — diz Gabrielle. — Tiveram outras antes de nós na linha de frente, botando a cara, para hoje termos mais acessos, direitos, voz e orgulho.
Gabrielle ainda concilia a moda e a atuação com outra paixão: a ilustração. Além de ser graduanda em Gravura na Escola de Belas Artes da UFRJ, ela também integra o coletivo de serigrafia @fudidasilk, formado por pessoas LGBT+, que busca a intersecção entre arte e moda.
— Moda e arte comunicam e têm o poder de criar imaginários, representações, dialogar sobre sentimentos, tabus, além de criar tendências do que é desejável. Eu sempre tive contato com os dois — explica.