Juliana Paes está cansada. Exausta. Exaurida. Palavras dela própria, que atendeu a revista Donna, por telefone, durante exatos 20 minutos entre uma gravação e outra de A Dona do Pedaço.
A intensa rotina de quem vive uma protagonista na novela das 21h na TV Globo é responsável pelo desgaste, físico e emocional. Na trama, a personagem Maria da Paz enriquece vendendo bolos caseiros e monta uma rede de confeitarias. Acaba enganada pela própria filha, a quem criou sozinha, perde tudo e tem de recomeçar.
– É impressionante como a Maria da Paz se comunica bem com pessoas. Nunca tinha vivido uma repercussão de personagem com tanta intensidade – comenta a atriz.
Apesar do cansaço, Juliana garante vivenciar uma experiência “mágica” na profissão e celebra as mensagens de apoio à confeiteira vindas de pessoas com idades e classes sociais diferentes. Mesmo com a rotina atribulada graças às gravações, aos 40 anos, a atriz nunca se sentiu tão ativa e capaz. Fora da telinha, acaba de estrelar uma campanha de lingerie em que exibe um corpão referência de beleza para muitas mulheres. Juliana, que começou a carreira como modelo, conta que ainda adora posar para ensaios fotográficos.
– Não preciso decorar texto, é só chegar e ficar linda (risos) – diz, bem-humorada. – É gostoso poder falar para mulheres da mesma faixa etária que elas podem, sim, ser sensuais, botar um shortinho.
Longe das câmeras, esforça-se para criar os filhos – Pedro, oito anos, e Antônio, seis – para que se tornem homens “prontos para lidar com mulheres poderosas e independentes”, experiência que compartilha em seu perfil no Instagram com os mais de 20 milhões de seguidores. É nas redes sociais, aliás, que a atriz fala de outros temas de seu interesse, como o incentivo à amamentação e à união entre as mulheres – não à toa, ela é defensora para a Prevenção e a Eliminação da Violência contra as Mulheres da ONU Mulheres Brasil.
– Acredito que essas mensagens que a gente passa pelas nossas redes sociais, essas pílulas diárias, têm um efeito muito bonito na prática.
“O meu negócio é o agora, o hoje”
Como tem sido a experiência de viver a Maria da Paz?
Mágica, não tem outra palavra. Claro que eu estou exausta, exaurida, cansada, porque o ritmo é muito intenso. Tenho muitas cenas, muitos cenários, externa, estúdio. Por outro lado, nunca tinha vivido uma repercussão de personagem com tanta intensidade e envolvendo tantas faixas etárias e classes sociais. É impressionante como a Maria da Paz se comunica bem com pessoas de classe A, classe D. Recebo recados desde uma socialite que está assistindo à novela a um juiz que abre suas sessões falando da Maria da Paz. E também de velhinhos a crianças pequenas, o que até me surpreende porque não fazem parte da faixa etária sugerida da novela. Eu recebi um recado sobre um menininho de oito anos que estava vendo a novela escondido e, quando mãe o viu, começou a brigar com ele, então ele falou: “Mãe, não briga comigo, só ajoelha aqui do meu lado e vamos rezar pela Maria da Paz” (risos). É muito gostoso também essa fase de recomeço da Maria. É tão lindo ver como isso toca o brasileiro. As mensagens que eu recebo dizem “é isso aí, tem de recomeçar sem medo de tentar de novo”. É muito legal quando existe essa identificação, significa que o povo está alinhado com esse espírito da personagem.
E entre as mulheres, com o que você acha que se identificam mais?
Acho que, principalmente, com esse lado batalhador. Depois, por ser uma mulher independente, que nunca precisou da ajuda de pai, de marido. Uma mulher sozinha, isso fala muito com as brasileiras. Ela criou uma filha nesse universo de tantas mães solteiras, separadas. E também fala muito com as mulheres que empreendem ou sonham em empreender. Recebo recado de mulheres dizendo “também comecei minha vida assim, do nada” e outras que dizem “olha, depois de ver a Maria da Paz, eu criei coragem e estou abrindo uma lojinha”. Esse feedback de inspiração é delicioso.
Como você faz para tentar se desligar e relaxar depois de toda a intensidade das gravações?
Minha filha, olha, tá difícil, viu? (risos). Estou o tempo todo pensando na Maria da Paz porque chego em casa e ainda tenho que decorar o texto. Acho que só me desligo dela na hora em que eu durmo, apago. E, mesmo assim, outro dia eu sonhei que a Maria da Paz estava grávida do Régis (personagem de Reynaldo Gianecchini). Nem sonhando eu consigo me livrar dessa “dona do pedaço” (risos).
Como é para você, mãe na vida real, viver uma relação tão conflituosa com a filha na novela?
Essa é a parte que mais mexe comigo. Esse cansaço todo que eu mencionei no início da entrevista está diretamente ligado a uma exaustão emocional. Porque essa relação com a filha, mesmo que na ficção, acessa os meus sentimentos verdadeiros. O ator transpõe sentimentos que vive ou já viveu nos seus personagens. Quando eu estou naquela angústia, naquela aflição e decepção com a Josiane (personagem de Agatha Moreira), eu coloco os meus filhos naquele lugar.
Falando nos seus filhos, como é criar dois meninos?
Ser mãe de menino é delicioso porque eles são cheios de energia, levantam o astral da casa. E eu sou a rainha do lar, a rainha do universo deles. Sinto que é uma responsabilidade colocar dois homens no mundo. Quero que sejam dois homens com a cabeça aberta, sem preconceitos. Eu quero criar homens feministas, sabe. Homens prontos para lidar com mulheres poderosas e independentes. E nem sempre é simples, porque as referências dos nossos filhos, por mais jovens que eles sejam, não vêm só da gente. Eles escutam coisas na TV, escutam coisas dos avós, que, às vezes têm um jeito mais retrógrado. Então, não basta passar só o que você pensa e sente, mas, às vezes, tentar reverter ou quebrar uma ideia preconcebida colocada por terceiros.
Este foi o ano dos seus 40. Quando você era adolescente, onde se imaginava com essa idade?
Nunca fiz muitas previsões para o futuro. Sempre fui muito ariana nesse sentido. O meu negócio é o agora, o hoje. Talvez eu não me imaginasse tão agitada como ainda sou. Achei que, com 40, eu estaria mais calma, tranquilona. Mas eu nunca estive tão ativa, tão serelepe, cheia de energia, tão me sentindo capaz.
Você é voluntária na ONU Mulher. Qual a importância desse trabalho?
Eu gostaria de estar mais ativa. Quando a gente ganha tanta visibilidade e tem esse poder de influenciar, temos uma responsabilidade muito grande. E, por incrível que pareça, eu falo para um público muito jovem. Quando eu mapeio as redes sociais, isso é bem presente. Então me sinto mais responsável ainda. Enquanto estou fazendo novela, acabo atuando (pela ONU) mais pelas redes sociais, não consigo estar presente em uma reunião ou uma palestra. Eu fiz diversos vídeos para eles usarem nos canais da ONU Mulher (o conteúdo é parte da campanha #UseLaranja pelo Fim da Violência contra as Mulheres). Acredito que essas mensagens que a gente passa pelas nossas redes sociais, essas pílulas diárias, têm um efeito muito bonito na prática.
Recentemente, você fez um ensaio superbonito para a uma marca de lingeries. Como você concilia a atuação com a carreira de modelo?
Eu acho uma delícia. Comecei a carreira como modelo. Para mim, é gostoso fotografar porque eu visto sempre um personagem diferente. A cada briefing é uma nova personagem que você pode encarnar. E eu sinto também que, aos 40, é muito gratificante poder fazer uma campanha de lingerie. É gostoso poder falar para mulheres da mesma faixa etária que elas podem, sim, ser sensuais, que podem, sim, botar um shortinho, uma calcinha e fazer fotos. Fora que é um trabalho para o qual eu não preciso decorar texto, então é uma coisa maravilhosa. É só chegar, ficar linda e partir para o personagem (risos).
Tem gente que acha que a mulher que se identifica com o feminismo não se cuida, que não pode ser sensual. É bacana ver você como uma mulher que também tem esse lado.
Sim! Eu acho que o termo feminismo foi mal compreendido durante um tempo. É papel dessa nossa geração mostrar que ser feminista é viver de acordo com o que se deseja, fazer o que se quer, sem medo de julgamento, é querer equidade. Na verdade, todas as mulheres são feministas, mesmo que não saibam. Porque tenho certeza que todas querem a mesma coisa. E é função da nossa geração mostrar que a feminista não é chata, não é pentelha. Hoje vejo o feminismo com um brilho diferente. Acho que somos responsáveis por esse momento lindo do feminismo.
Avançamos como sociedade, né? Você, por exemplo, foi garota-propaganda de uma marca de cerveja, mercado que mudou bastante a forma como representava as mulheres. Como é acompanhar essa evolução, que se cruza com a sua também?
É verdade. Sobre essa campanha de anos atrás, a gente ainda não tinha o olhar de hoje para esse lugar da mulher como objeto de desejo. Talvez a gente também tenha amadurecido no campo da publicidade. E é muito bonito fazer parte desse processo todo de aprendizado, de amadurecimento. Eu tenho muito orgulho dessa trajetória da qual eu faço parte.
Aliás, você se formou em publicidade, certo?
Eu sou formada em publicidade pela ESPM, você acredita? Mulher, meu diploma tá lá enfeitando a parede da minha casa (risos). Eu nunca atuei (na área)! Mentira, vou te dizer que eu sou uma excelente publicitária, meu marketing pessoal eu faço muito bem (risos). A verdade é que, quando faltavam seis meses para me formar, estava aprontando meu trabalho final quando comecei a fazer os testes para a minha primeira personagem na Globo, a Ritinha (uma empregada doméstica na novela Laços de Família, que estreou em 2000). Lembro que fazia as matérias de tarde, de noite, sambava igual uma doida para conseguir dar conta de atender os professores e ainda partir para os testes. Depois que fui aprovada, tinha preparação, aulas de foto, de expressão corporal, e tudo mais... Gravava as primeiras cenas e corria para a faculdade. Foi uma loucura essa época!
Você é uma referência de beleza para muitas mulheres. Como é sua rotina de cuidados? Você é disciplinada?
Eu sou superdisciplinada. Hoje em dia muito mais do que 10 anos atrás. Procuro ter uma rotina de beleza até simples, sabia? Já aprendi a usar poucos e bons produtos. Procuro aqueles multifuncionais e tento adequar minha rotina à hora do banho. É ali mesmo que eu hidrato o corpo, o creme para o rosto já está em cima da bancada do banheiro, então, hoje em dia, não levo muito tempo para me aprontar, já descobri a fórmula que funciona para mim. Conforme você vai ganhando confiança e maturidade, já sabe o que funciona para você, que não precisa de um milhão de artifícios, já está confiante de que, como está, está bom.