The New York Times Jennifer S. Altman for The New York Times Jennifer S. Altman for The New York Times
Por The New York Times
Em uma segunda-feira, não faz muito tempo, Tao Porchon-Lynch dava sua aula de ioga de 90 minutos em Hartsdale, Nova York, combinando elementos da Iyengar, meditação e vinyasa para mais ou menos uma dúzia de alunos.
Em voz baixa e tranquila indicava as posições – árvore, dançarino – e corrigia o alinhamento. Demonstrou alguns alongamentos de chão, embora ela mesma não pudesse fazê-lo com perfeição do lado direito. "É por causa da cirurgia de reposição do quadril", informa, recolocando o brinco de pressão enorme que tinha caído.
Na verdade, é o lado da operação mais recente, pois já fez três. Tao tem 98 anos, mas é exemplo vivo da vida ativa.
Ela também veste roupas chamativas e é uma motorista confiante. Quando a aula acabou, correu do estúdio, sem nem tirar a calça de cor berrante; só enfiou o sapato de salto alto e entrou no carro novo, um Smart cinza.
Acelerou algumas vezes antes de sair do estacionamento, rumo à aula particular que daria em seguida. Aí teria que correr para o Estúdio de Dança Fred Astaire, onde teria uma aula de valsa; além de professora de ioga, é dançarina de salão e participa até de competições.
"Sou 50 anos mais nova que ela e só sua rotina já me deixa cansada", admite Teresa Kay-Aba Kennedy que, ao lado de Janie Sykes Kennedy, escreveu o livro de memórias de Tao, "Dancing Light: The Spiritual Side of Being Through the Eyes of a Modern Yoga Master".
Na noite anterior, Tao e Teresa tinham voltado da Califórnia, onde a primeira fora destaque de um evento para a Athleta, marca de roupas esportivas do grupo Gap Inc., na loja que fica no Grove, em Los Angeles. E também fez uma sessão de fotos para a grife.
Talvez mais que qualquer prática física, a ioga recebe um tremendo benefício de relações-públicas das redes sociais. As imagens de homens e mulheres em posturas graciosas, que parecem desafiar a gravidade, são impressionantes e altamente compartilháveis no mundo visual do Facebook e Instagram.
O resultado é o surgimento de um novo subgrupo de instrutores profissionais: a "iogalebridade" que passa parte da vida na estrada, muito parecida com o astro de rock em turnê – só que para participar de retiros e conferências, postando frases inspiradoras em letras rebuscadas, perfeitas para o Pinterest, e compartilhando fotos da paz interior encontrada graças ao equilíbrio dos braços ou pernas sobre a cabeça.
Na posição raríssima de estrela idosa nesse circuito, Tao tem o mesmo tipo de potencial de marketing excepcional que as nonagenárias Iris Apfel e Betty White.
A Athleta a incluirá no catálogo de janeiro e em sua nova campanha, a "Power of She". "Tao se alinha perfeitamente com a nossa filosofia, já que estamos nos esforçando para derrubar os estereótipos que envolvem os conceitos de juventude e bem-estar", explica Nancy Green, presidente da marca.
O encontro com Gandhi e Noel Coward
Tao nasceu em 1918. A mãe morreu ao dar à luz e ela foi criada em Pondicherry, na Índia, por um tio que era empresário e levava a sobrinha em suas viagens pela Ásia.
Quando tinha oito anos, caminhava pela praia quando viu uns garotos se contorcendo em posições esquisitas. "Achei que fosse uma brincadeira nova. Cheguei para a minha tia e perguntei: 'Será que eles me deixam brincar também?', ao que ela respondeu: 'Isso não é coisa de criança; é ioga, e não é para meninas. Não é gracioso.' Aí comecei a praticar."
As histórias de vida que Tao conta fazem dela meio que uma Zelig de saias, com aventuras na Índia, Reino Unido e Hollywood. E dá detalhes e datas com a clareza mental de um jovem, enchendo o livro de memórias com relatos fotográficos.
Ela diz, por exemplo, que aos doze anos, voltou para casa e se deparou com "um homenzinho sentado no chão". Percebeu que os visitantes lhe faziam mesuras. A seguir, seu tio pediu que fizesse as malas para passar as semanas seguintes viajando e marchando com Mahatma Gandhi.
Durante os anos da Segunda Guerra Mundial, Tao viveu em Londres, depois de fugir da Índia quando a família se tornou suspeita aos olhos dos nazistas por esconder expatriados britânicos e franceses. E foi ali, quando trabalhava como dançarina de um clube noturno, que conheceu Noel Coward.
"Eu não falava inglês lá muito bem e ele me ensinou a dizer: 'Presumo que suas presunções sejam precisamente incorretas, suas insinuações sarcásticas extremamente ofensivas para serem apreciadas'. Isso foi em 1940", descreve, sentada em um dos bancos da sala de ioga do Estúdio Fred Astaire. E voltou a repetir a frase, palavra por palavra.
Tao fez parte de uma trupe de dança para entretenimento dos soldados na Europa e, de lá, chegou a Hollywood. Trabalhou como atriz contratada para a MGM, ensinando ioga para as colegas e voltando à Índia quando podia para estudar com iogues como B.K.S. Iyengar e Pattabhi Jois.
Vinho e saltos altos
Quando esteve em Nova York, conheceu um vendedor de seguros, Bill Lynch – e com ele se casou, em 1963. Acabaram se estabelecendo em Hartsdale, subúrbio do Condado de Westchester. Não tiveram filhos, preocupados como estavam com o engajamento cívico e a degustação de vinho. (Juntos, fundaram a Sociedade Norte-Americana de Vinhos. Até hoje, é só o que Tao consome, além de chá. Ela não bebe água.)
Lynch morreu em um acidente de moto, em 1982. Nos anos que se seguiram, Tao retomou o compromisso com a prática da ioga. Há décadas, mantém dois compromissos: as aulas no Fred Astaire, em Hartsdale, três vezes por semana, e no Centro Comunitário Judaico, ali pertinho, em Scarsdale, duas vezes por semana.
"Vê nas pessoas o que elas mesmas não conseguem enxergar. É por isso que os alunos a adoram. Fariam qualquer coisa por ela", conta Susan Douglass, advogada de 61 anos que começou a fazer ioga com Tao em 1999.
Porém, sua carreira só deslanchou de verdade graças à visão estratégica de alguns alunos mais dedicados: primeiro foi Joyce Pines, professora aposentada que se tornou meio que uma "embaixadora" de Tao e deu entrada no Guinness World Records, pedindo uma designação especial. Até que, em 2012, ela se tornou "A Professora de Ioga Mais Velha do Mundo".
Mais ou menos na mesma época, outra aluna contratou Robert Sturman para fazer uma sessão de imagens com Tao no Central Park. O fotógrafo concentra seu trabalho em iogues, incluindo praticantes inusitados como presidiários e veteranos de guerra feridos.
Tao apareceu para as fotos usando um vestido de flamenco vermelho e salto alto. Ele questionou a escolha do calçado em pleno parque, mas ela afirmou que sempre usava sapato de salto. "Disse que ajudava a elevar sua consciência", relembra Sturman, que acabou tendo que carregá-la nos trechos mais lamacentos.
A seguir, ele postou as imagens em sua página do Facebook, que se tornaram virais e continuam a ser compartilhadas até hoje, mais de quatro anos depois. (Sturman agora clica Tao duas vezes por ano e Joyce atualiza suas contas nas redes sociais.)
As marcas das experiências vividas no rosto de Tao e a expressão de paz e vivacidade em seus olhos são lembretes inegáveis de que a prática é mais do que alguns cliques.
"O mundo das celebridades da ioga pode ser bem competitivo", revela Kelly Kamm, instrutora que viaja o mundo no circuito de workshops e é uma das musas de Sturman.
"Ela parece uma estrela do rock. As chances eram mínimas, tipo uma em 100 mil, mas acho que as pessoas estavam ávidas por alguém que não fosse jovenzinha, magrinha, loirinha e tal. Isso tem de monte. Ela é o oposto de tudo isso. Ela é Tao", conclui.