Não sei bem como surgiu a ideia, talvez da necessidade de quando se vive mais. Quando uma pessoa chega aos 90 anos, ela sente que as experiências vividas têm uma certa densidade, às vezes uma certa graça que pode ser dividida com os outros. Vou à clínica diariamente, mas em vez de dar consulta três vezes por semana atendo em um dia pacientes de todas as partes do mundo. São casos complicados e que procuram uma solução. A minha experiência nestas situações é muito útil por se tratar de casos raros. Também sou procurado por pessoas que continuam muito fiéis, que gostam de ter a minha presença, que depositam muita confiança em mim. Tenho cirurgia duas vezes por semana e mais um dia de conferências. Além disso, minha filha Gisela me ajuda bastante no gerenciamento da ilha, da minha casa e da casa de Itaipava. Tenho toda uma estrutura montada. Pitanguy - Minha relação com meus filhos e netos e com toda a família talvez seja a maior satisfação e o maior tesouro que possuo, respeitando o temperamento de cada um. Apesar de cada um ter suas ocupações profissionais, quando nos encontramos tentamos fazer deste um momento único, de muito prazer e entendimento. Meus netos são muito realizados. Antônio Paulo é médico e acaba de terminar sua residência em cirurgia geral e tenho certeza que será um grande cirurgião plástico, já que está se aplicando bastante para isso; Pedro é estudante de Direito, e o Rafael está se preparando para o vestibular, os três são filhos da minha filha, Gisela, os outros dois são filhos do meu filho Ivo; Ivo Neto é formado em Economia, na área de negócios internacionais, e é diretor de uma companhia em San Francisco, e o Mikael está bem longe, na Austrália, fazendo um curso de Cinema e Criatividade. Fico muito feliz de poder compartilhar dessa alegria com eles. Tenho sorte de ter uma família que se sente bem e se tolera bem, com suas diferenças, qualidades e dificuldades. Estamos sempre procurando cultivar o sentido de família porque isso é muito importante na vida.
Por Rosangela Honor, Especial
Um dos mais renomados cirurgiões plásticos do mundo, Ivo Pitanguy faz parte de um seleto grupo de pessoas que sabe viver a vida com intensidade. Aos 88 anos, mantém o mesmo entusiasmo, bom-humor e alegria da época em que era um jovem com uma carreira promissora pela frente. É sem nostalgia que recorda fatos marcantes de sua vida como médico por suas mãos, consideradas mágicas por muitos, passaram reis e rainhas, atrizes e atores famosos, piloto automobilístico, chefes de Estado e pessoas comuns e os prazeres que experimentou em família. Foi para falar de suas memórias, contadas em sua recém-lançada biografia, Viver Vale a Pena, que Ivo Pitanguy recebeu Donna em sua clínica, numa rua tranquila e arborizada do bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro.
Durante a conversa, que durou quase uma hora, Pitanguy contou que mantém uma intensa agenda de compromissos, incluindo aulas, consultas, conferências, congressos e condução de cirurgias em sua clínica e no Hospital Santa Casa de Misericórdia. Dono de uma memória impressionante, relembrou o encontro que teve com o médium Chico Xavier quando o líder religioso já não recebia quase ninguém: "Foi um momento de grande emoção". O cirurgião falou também de sua paixão por esportes, da união com Marilu, com que está casado há mais de 55 anos - "ainda sou apaixonado por ela" -, dos filhos e netos, dos desafios de um cirurgião plástico, da decisão polêmica da atriz Angelina Jolie (que fez uma cirurgia para a retirada das mamas ao saber que tinha grande chances de desenvolver câncer), de vaidade, envelhecimento, falta de medo da morte: "Tenho temor do sofrimento. Quando ela (morte) chega é uma escolha dela, não nossa". E revelou o segredo para se manter ativo e feliz: "Acho muito importante festejar a vida, festejar os momentos de vida. Isso ajuda a viver".
Donna - O senhor acaba de lançar a biografia Viver Vale a Pena. Por que decidiu escrever o livro?
Ivo Pitanguy -
Donna - Como é a sua rotina hoje?
Pitanguy - Continuo mantendo uma rotina de prazer. Vejo o meu trabalho como um momento de vida agradável e que eu, evidentemente, faço dentro da minha resistência, que é bastante boa. Sempre tive organização dentro do meu trabalho e dou muito valor a quem trabalha comigo. Sendo assim, tem uma série de coisas diferentes que continuo fazendo na clínica com o auxílio dos meus assessores. Também continuo como professor de pós-graduação da PUC, um curso que dou há mais de 50 anos. No Hospital Geral da Santa Casa eu mantenho um estilo de aula viva, de contato, de muito corpo a corpo. Avaliamos o caso e traçamos um plano com aula prática.
Donna - O senhor continua operando?
Pitanguy - Eu não faço as operações, eu conduzo as operações. Faço a consulta e traço um plano com o paciente do que seria o melhor para ele. A decisão, que é o mais importante no ato cirúrgico, sou eu que continuo dando. Isso com muita alegria, porque me dá a dimensão de que continuo desempenhando um papel normal na minha vida. Não me sinto afastado das minhas atividades. É evidente que algumas delas a que eu me entregava com muita força e com muito afinco, e que adorava, agora faço com moderação.
Donna - Quais, por exemplo?
Pitanguy - Eu adorava mergulhar, esquiar, nadar... Tudo isso eu ainda posso fazer, com mais moderação, mas não me afasta da neve e nem do mar. A minha tranquilidade é estar vivendo com alegria este momento e não com ansiedade ou nostalgia. Não quero vivenciá-los com a mesma força que vivia antes, mas mantenho o mesmo entusiasmo. Então você não mede o tempo, ele é que passa e a gente vai vivendo.
Donna - Trabalha diariamente?
Pitanguy -
Em Belo Horizonte, ao lado, Pitanguy posa ainda como um jovem estudante de Medicina que ia à faculdade na garupa de uma motocicleta, no início dos anos 1940; abaixo, vestindo o tradicional fardão, sorri ao lado da família já empossado como um imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), em 1991
Donna - Quais são os seus cuidados para manter a saúde?
Pitanguy - Sempre fui muito esportista, fui nadador, jogador de tênis, esquiador, mergulhador, fiz 12 anos de caratê. Toda essa rotina de exercícios que fiz ajuda, o corpo tem essa memória. Mas é claro que, quando se fica mais velho, é preciso moderar. Eu tenho uma personal trainer que vai a minha casa três vezes por semana às oito da manhã. Antes de começar qualquer atividade, faço uma ginástica suave. Não faço caminhadas grandes porque tenho o pé chato, não tenho como andar muito, mas faço uma ginástica elaborada através do caratê em todas as partes do corpo durante 40 minutos. Também tenho um fisioterapeuta uma vez por semana.
Donna - O senhor acorda muito cedo?
Pitanguy - Sim, durmo pouco, leio muito à noite. Acordo no meio da noite para ler, nunca tive um sono muito tranquilo. Normalmente acordo às 7h. Durmo uma média de cinco a seis horas por noite e, quando consigo dormir esse tempo, sem despertar, acordo bem.
Donna - Tem cuidados especiais com a alimentação?
Pitanguy - Não como quase doce. Gosto de todas as frutas e me permito todas as sensações de um dia ou outro comer qualquer coisa, mas, normalmente, não como coisas gordurosas e não gosto de frituras. Como legumes no vapor e não gosto de nada com muito tempero, mas gosto de pimenta. Gosto de carne, mas não como todos os dias. Sei cortar e preparar um bom peixe. Gosto de comida japonesa e sei fazer sushi e sashimi. Fiz 12 anos de caratê e aprendi com meu mestre. Também entendo bem de grelhados. Tem pessoas que não têm o menor interesse, mas eu me interesso por cozinha.
Na introdução de sua biografia, o médico relembra o desfile da escola de samba Caprichosos de Pilares, em 1999, do qual foi enredo: "Eu vestia um terno branco e tentava me acertar nos passos do samba, segurando o guarda-corpo e cantando animado"
Donna - Como enfrenta o envelhecimento?
Pitanguy - Acho que envelhecer é uma glória reservada a poucos que têm esse privilegio. Quem não tem esse privilégio não vai saber o que é envelhecer. É evidente que você vai envelhecendo e tem que entender que o organismo vai sofrendo vários embates do tempo. Encaro o envelhecimento com a alegria de poder viver o presente. Tem pessoas que envelhecem menos bem, mas manter-se mentalmente lúcido já é uma grande dádiva. Eu, na minha idade, conversando com você e podendo responder, tendo a paciência de responder, isso me dá uma sensação de poder, de dominar a minha vida. O maior poder é você ter o sentido da alegria de viver. Até porque é uma burrice não ter, porque não existe outra opção.
Donna - Qual o segredo para manter o entusiasmo em qualquer idade?
Pitanguy - Temos que dar a cada momento densidade e qualidade. Ter momentos agradáveis e prazer de revivê-los. Alguns momentos são mais difíceis, mas a gente acaba entendendo que nada é eterno, nem o bem-estar e nem o mal estar. Acho muito importante festejar a vida, festejar o momento de vida. Isso tudo ajuda a viver e dá aos seus momentos uma dignidade, mas sem nostalgia, e sim com alegria de tê-los vivido. O que precisa ser cobrado é a alegria da eterna juventude, e não a eterna juventude.
Donna - O que acha da busca desenfreada pela beleza?
Pitanguy - Fui aprendendo, no meu ofício de cirurgião, que o caminho da beleza é o caminho do bem-estar. A cirurgia é sempre legítima quando vai trazer bem-estar a alguém que tem uma deformidade porque nasceu com ela, ou a alguém que sofreu um traumatismo, alguém que envelheceu mal e não convive bem com as suas rugas, alguém que tem o ego menos condescendente, como é o meu caso, alguém que não se tolera porque nasceu com o nariz ou a orelha muito grande. O direito à beleza, título de um livro que escrevi, é no sentido do bem-estar em relação ao mundo em que você vive com a sua imagem.
Donna - Existe exagero na procura por essas cirurgias?
Pitanguy - As pessoas que têm alguma deformidade se incomodam pelo que causam ao outro. Acho que, como médico ou cirurgião, não se pode receitar e nem operar indiscriminadamente. Tem uma série de banalizações que ocorrem, como em todo segmento, tem pessoas não preparadas fazendo cirurgias indevidas.
Na introdução de sua biografia, o médico relembra o desfile da escola de samba Caprichosos de Pilares, em 1999, do qual foi enredo: "Eu vestia um terno branco e tentava me acertar nos passos do samba, segurando o guarda-corpo e cantando animado"
Donna - Apesar de muito jovem, a cantora Anitta já passou por algumas cirurgias. Qual sua opinião sobre isso?
Pitanguy - Não conheço a Anitta, não posso falar sobre ela. O que posso dizer sobre a questão é que existem pessoas que são indevidamente levadas a encontrar solução numa cirurgia. Caberia ao cirurgião esclarecê-las e possivelmente levá-las ao tratamento psicoterapêutico, e não cirúrgico. Mas cada caso é um caso.
Donna - Em que casos a cirurgia plástica é uma solução?
Pitanguy - Na realidade, a cirurgia é uma solução para um ou outro problema, e a maior parte das pessoas não têm problema: elas têm uma dificuldade de biotipo, de emagrecer, de engordar, de se tratar. Quando elas têm uma deformidade, podem ser beneficiadas pela cirurgia. É muito importante a conformação. Existe dentro dessa banalização um perigo muito grande, porque uma cirurgia é um fato complexo, corre-se risco. E nós temos limitações, não somos mágicos.
Donna - Qual a sua opinião sobre a decisão da atriz Angelina Jolie, de retirar as duas mamas por medida preventiva ao descobrir que teria grandes chances genéticas de desenvolver câncer na região?
Pitanguy - O caso dela é um caso raro, de um determinado fator genético que quem tiver poderá ou não se submeter à cirurgia. Existe uma tendência em certos casos, quando há um determinado fator genético, de indicação da retirada da mama, mas esses casos precisam ser muito bem estudados para que a decisão seja tomada. Ela reconstruiu a mama, mas o caso dela não é um caso para todo mundo. Quando existe uma indicação bilateral de tirar uma mama que não tem tumor e que poderá eventualmente vir a ter, ela vem de uma avaliação genética e de um estudo de vários fatores determinantes - e é uma exceção. Ela se colocou mostrando que, quando houver essa indicação, deve ser seguida. A evolução das cirurgias plásticas dá à pessoa o direito de ficar tão bem como estava antes, e isso é de uma importância enorme. Antes de termos próteses e técnicas adequadas, as pessoas sofriam muito nas reconstruções e não tinham resultados, não podíamos oferecer a elas alguma coisa, e hoje podemos, é um grande avanço.
Donna - O senhor mesmo já passou por alguma cirurgia plástica?
Pitanguy - Não fiz porque não tive a tentação, mas poderia ter feito. Não sou contrário. Talvez eu tenha nascido sem nenhuma deformidade aparente e fui levando o envelhecer com muita naturalidade.
Donna - É um homem vaidoso?
Pitanguy - Evidente, acho que tem a vaidade normal, não sei se ela é excessiva. Acho que toda pessoa deve se cuidar dentro do seu biotipo e procurar seu bem-estar. O importante é não querer ser diferente do que se é, porque você é aquilo. É um sofrimento não querer ser aquilo que se é.
Donna - Considera a mulher vítima do padrão de beleza imposto pela mídia?
Pitanguy - Não só a mulher, mas todo ser humano sofre com a imposição e o bombardeio de marketing, sobretudo em relação ao biotipo. A beleza realmente é mais vendável que a feiura. Mas acho que é um lado nocivo e perigoso. O bem-estar íntimo é o que transcende dessa pessoa, não é a parte estética. Mas isso muitas vezes não é fácil diante do bombardeio que é feito. As pessoas compreendem quando a mídia exagera demais e se defendem. Nesse caso é que entra o julgamento do médico, para considerar e avaliar o que deve ou não deve fazer.
Donna - A busca pela beleza é comum a qualquer classe social?
Pitanguy - A coisa mais importante que percebi na vida foi que o ser humano é o mesmo em relação a sua imagem. No Hospital da Santa Casa da Misericórdia, nosso serviço sempre atendeu a pessoas de todas as classes sociais - e a convivência mostrou que os anseios são os mesmos. Muitas vezes verbalizados de formas diferentes, com apresentação diferente do problema, mas no fundo são os mesmos. É certo que o convívio de certos meios lhe dá o seu biotipo de beleza. Se você vive num determinado meio em que as pessoas não são gordas e procuram manter uma certa aparência, você não vai se deixar à vontade, vai se cuidar mais. Estamos diante de uma sociedade em que o consumismo faz suas vítimas, não tenho dúvida alguma.
Donna - Diria que existe uma banalização das cirurgias plásticas?
Pitanguy - Sim, existe uma banalização que deve ser corrigida. Essa procura exagerada vem de uma banalização de que fazer cirurgia é como ir ao cabeleireiro. Uma cirurgia requer toda uma indicação correta e tem seus riscos. E tem, sobretudo, indicações em momentos apropriados em cada época da vida. Quando se fala de uma jovem que tem uma mama imensa, apesar da pouca idade, ela tem que operar. Em todos os casos o médico tem que saber conduzir, e não agir como o vendedor de uma loja vendendo uma roupa inadequada.
Paixão de uma vida: a ilha em Angra dos Reis, vista do helicóptero
Donna - Que mulheres são seus ícones de beleza?
Pitanguy - Acho todas bonitas. Não tenho ícones, eu vejo a beleza em muita gente para eleger alguma. Mas existem muitas mulheres bonitas.
Donna - O senhor está casado há mais de 50 anos. A Marilu foi o seu encontro de vida?
Pitanguy - Foi e continua sendo até hoje. Estamos casados há cinquenta e poucos anos, e uma das grandes coisas de envelhecer é não se preocupar com a cronologia, é deixar o tempo passar. Em um período da minha vida eu viajava demais, fazia conferências demais, operava demais... O trabalho intenso dá pouco tempo para a casa, e a Marilu foi sempre um ponto de equilíbrio extraordinário na minha vida e na dos meus filhos. É uma pessoa que até hoje, apesar de no momento estar com problema de memória imediata, continua com a mesma suavidade, delicadeza e com toda uma cultura. No convívio, é muito importante você ter valores éticos e culturais parecidos, porque você ri das mesmas coisas ou chora das mesmas coisas. É um privilégio enorme que eu tenho todas as noites quando volto para casa. Continuamos muito juntos, especialmente nos fins de semana. Ela não pode mais fazer tantas viagens, porque precisa de certos cuidados, mas fisicamente continua muito bem e muito bonita. Continuo sendo muito apaixonado por ela. A gente sofre quando o outro lado tem um pouco de perda de memória, mas isso faz parte da vida, são certos sofrimentos que você transforma em alegria compreendendo melhor. Existem certos momentos de introspecção que são difíceis, mas a vida é feita de altos e baixos, ela não é sempre plana.
Donna - Como é a sua relação com seus filhos e netos?
Com a a mulher de mais de 50 anos, Marilu
Donna - O senhor teme a morte?
Pitanguy - Eu vivi várias situações em que estive diante da morte para me permitir não ter temor dela. Eu tenho temor, como todo mundo tem, do sofrimento. Ninguém tem vontade de sofrer. Não existe nada que se possa fazer, quando ela (a morte) chega é uma escolha dela, não é nossa. Claro que gostaria de ter uma morte calma, tranquila.
Donna - No livro o senhor diz que gostaria de ser enterrado em sua ilha, em Angra dos Reis. Continua pensando assim?
Pitanguy - É verdade. Eu realmente não gosto desses túmulos, desses cemitérios muito sombrios, não cultuo muito a visita ao cemitério. E tive um cão, de quem eu gostava muito, o Bob, e eu o enterrei num local na ilha onde bate um vento sudoeste. Naquele local, à sombra daqueles bambus, eu acho que me sentiria bem.
Donna - A ilha é outra paixão?
Pitanguy - A ilha é um lugar de que eu gosto muito, que fiz com o objetivo de preservar a natureza. Não vou toda semana, a minha vida não é feita de obrigações, de normativas. Uma das coisas boas da vida é a flexibilidade, mas vou o mais que posso.
Donna - É religioso?
Pitanguy - O meu conceito de religião é muito amplo. É evidente que é muito difícil você não acreditar num Deus. Eu acredito que tem um Deus que é único para todos nós. Não creio num Deus maometano, num Deus cristão, num Deus judaico ou que um seja melhor que o outro. São todos uma necessidade que temos de um ser superior.
Donna - O senhor teve um encontro com Chico Xavier quando ele já não recebia quase ninguém. Por que foi encontrá-lo?
Pitanguy - Fui a Uberaba (MG) para dar uma conferência e o Chico Xavier fez questão de me ver. Um sobrinho dele foi me procurar e disse que ele não estava recebendo mais ninguém porque estava cansado, mas que desejava me ver. Quando cheguei lá, ele segurou minha mão e disse: "Ivo queria muito vê-lo porque seu pai foi um homem muito bom e eu fui, talvez você não saiba, o primeiro caseiro que ele teve na chácara da Gamileira (em Belo Horizonte) e ali eu atendia umas pessoas. Uma vez foram me prender e o seu pai acreditou em mim, ele foi a primeira pessoa pública a me defender. Ele está aqui nos ouvindo. Sabendo que você estava aqui, quis muito dividir com ele esse momento e a saudade que a gente tem, a gente vai empurrando, empurrando... Ela fica ali, mas não vai embora". Eu vivi essa emoção, eu senti a presença do meu pai muito forte. Eu já tinha pelo Chico Xavier uma grande admiração, admiro muito as pessoas que procuram fazer o bem em qualquer escala, cada um faz do jeito que pode. Para mim foi um momento de grande emoção, sem dúvida alguma.
No encontro com o médium Chico Xavier, Ivo Pitanguy ouviu surpreso a confissão: "Quando cheguei lá, ele segurou minha mão e disse: 'Ivo, queria muito vê-lo porque seu pai foi um homem muito bom e eu fui, talvez você não saiba, o primeiro caseiro que ele teve na chácara da Gamileira e ali eu atendia umas pessoas. Ele está aqui nos ouvindo'."
Donna - Tem algum desejo não realizado?
Pitanguy - Tenho todos os desejos de todos nós. São desejos vagos, mas que não sabemos quais são.
Com os cães da raça que Pitanguy "inventou", o WeinDog (cruza de Weimaraner com Dogue Alemão)
Vale a pena
Com a mesma leveza, bom humor e entusiasmo com que encara a vida aos 88 anos, Ivo Pitanguy conta em detalhes os momentos mais marcantes e mais difíceis de sua longa trajetória na autobiografia Viver Vale a Pena, editada pela Casa da Palavra. Com prefácio de Nélida Piñon, o livro faz um mergulho na vida de um dos mais importantes cirurgiões plásticos do mundo. Ao virar cada uma das 432 páginas, o leitor vai entendendo como Ivo Pitanguy se transformou numa referência mundial criando técnicas de cirurgia plástica que são seguidas e respeitadas até hoje. É com simplicidade surpreendente que relembra os obstáculos do início da carreira, quando a cirurgia plástica era vista como algo menor, sua passagem por grandes hospitais dos Estados Unidos e da França, a construção de sua clínica e a criação da Enfermaria da Santa Casa de Misericórdia no Rio de Janeiro. O livro mostra também a vida social intensa e cheia de prazeres saboreada ao lado da mulher, Marilu, da família e dos amigos. Uma lição de que viver vale mesmo - e muito - a pena.
Viver Vale a Pena
De Ivo Pitanguy
Casa da Palavra, 432 páginas, R$ 45