Pensar em personalização em tempos atuais pode remeter automaticamente a processos digitais, principalmente quando se trata do embelezamento de superfícies no setor de decoração. Mas não se engane, a personalização pode ir muito além do digital, tão além que pode-se fazer um resgate aos processos que antecedem o surgimento do design e que ainda são utilizados de forma valorosa atualmente: os processos artesanais.
Pois então, foi através de um processo artesanal que vislumbrei a oportunidade de fazer o projeto da superfície do piso do pátio de casa, através do desenho de um ladrilho hidráulico. Queria de todas as formas contrariar o velho ditado de "casa de ferreiro, espeto de pau". Entretanto, tinha total noção de que minha especialidade é têxtil, e que o desenvolvimento de uma padronagem sobre um piso demandaria um conhecimento específico. Foi então que resolvi pesquisar sobre o ladrilho hidráulico e saber sobre a viabilidade de customização do mesmo. Iniciando a pesquisa, percebi que existem poucas fábricas de ladrilhos hidráulicos no Estado, que pela minha conta são três: uma em Pelotas, uma em Arvorezinha e outra em Bento Gonçalves.
O número parece pequeno perto do volume de ladrilhos que vemos por aí, mas a questão é que muitos dos ladrilhos com que nos deparamos são imitações. Esse fato fez com que a minha vontade de criar um ladrilho aumentasse, visto que o mesmo ficaria ainda mais exclusivo. Contatando as fábricas, concluí que era totalmente possível encomendar o ladrilho personalizado, e que a diferença de custos entre adquirir este ou um pronto, seria em relação ao molde, feito em ferro, de forma artesanal, que teria que ser encomendado em função do novo desenho.
Para mandar fazer o molde, algumas questões técnicas deveriam ser respeitadas em relação ao desenho: o número de cores não pode ser grande, visto que a maioria das fábricas produz ladrilhos com no máximo seis cores. Quanto mais tons o ladrilho tiver, maior o tempo de produção e, consequentemente, ocorre um aumento no custo do mesmo. Ainda em relação às cores, as mesmas trazem pouca saturação, já que o ladrilho é feito a partir de cimento.
Mas isso não chega a ser uma restrição, e sim uma característica tradicional dos ladrilhos hidráulicos. Outro ponto importante a ser considerado, o formato do molde, é que o mesmo pode ser quadrado ou sextavado. No caso que escolhi, que foi o quadrado, deveria respeitar a dimensão de 20X20cm, além de que os mesmos não poderiam ser detalhados, e ainda, entre os ladrilhos podem ocorrer efeitos irregulares nas linhas, consequência do processo artesanal de produção do molde.
Para desenhar o molde, tive que levar em consideração que o mesmo será repetido ao longo de todo o piso e que, ao mesmo tempo, crie uma composição harmônica. Eis alguns exemplos de ladrilhos clássicos, que são colocados um ao lado do outro, com um deslocamento simples na vertical e na horizontal (foto 1), e quando os mesmos são colocados de forma rotacionada (foto 2).Com as limitações relatadas, parti para o desenho, e, como estava desenvolvendo um personalizado, optei por fugir dos desenhos tradicionais e manter a característica deles por meio das cores.
O desafio era então, fazer o desenho da forma que se gerasse um encaixe e que fosse harmônico. Para isso, utilizei um macete que está no desenho feito no meu sketchbook (foto3). Estabeleci uma espécie de limite em cada lado do ladrilho, que faria com que ele se encaixasse independentemente da forma como fosse aplicado. O desenho foi feito todo de forma manual, mas existem aplicativos que podem auxiliar no projeto, como o Amaziograph. Esse aplicativo não substitui os softwares profissionais, mas auxilia na geração de ideias para o projeto e, através dele, rapidamente se tem uma noção se o desenho está sendo feito de forma harmônica ou não e, ainda melhor, se eles se encaixam entre si.
Por fim, depois de uma espera longa pela chegada dos ladrilhos, posso me dar por satisfeita com o piso novo, que além de ter um resultado dentro do esperado, conecta minha família ao ambiente gerando um apego emocional (foto 4). Um viva aos processos artesanais, e às fabricas que ainda sobrevivem em um mercado por vezes indiferente à originalidade!
FOTO 1
FOTO 2
FOTO 3
FOTO 4