A atriz Dani Calabresa fez barulho ao postar um vídeo nas redes. Disse ter saudade do tempo em que romantizavam a maternidade, pois agora as mulheres estão dando a real sobre amamentação, noites insones, depressão pós-parto. Resultado: ela está com medo de ser mãe. Por coincidência, eu estava terminando de ler Três Camadas de Noite, ótimo livro da Vanessa Bárbara, que revela os bastidores da chegada de um bebê. Se eu tivesse lido 30 anos atrás, ficaria em pânico como a Dani.
Fui mãe aos 29 e 34 anos. Engravidei porque quis, mesmo não sendo uma mulher que coloca a maternidade num pedestal. Amamentei por oito meses cada uma das filhas. Às vezes o peito rachou, às vezes era chato, mas quase sempre foi muito gostoso. Cada mulher encara de um jeito. O que mudou de 30 anos para cá?
Na relação mãe e bebê, pouco. A mãe continua sendo a fonte de vida do recém-nascido e tem não só o leite sugado, mas sua energia também. Porém, hoje há profissionais para assessorar esta etapa, infinitas informações que não se tinha antes e as mães já não escondem que sofrem com a alteração de suas rotinas. Tudo certo. Ninguém vai castigá-las por reclamarem que não é o mar de rosas que sonhavam.
Mas noto um desespero sendo construído. Hoje temos orgulho de ser mulher. As Olimpíadas confirmaram nossa união e força. Defendemos o direito de a boxeadora argelina ganhar sua medalha, a despeito de sua aparência. Apoiamos a atleta brasileira acusada de abandono parental por estar competindo em Paris. Simone Biles ajoelhou para Rebeca, digníssima.
Os EUA poderão ter uma mulher na presidência pela primeira vez. As mulheres avançam em todos os segmentos, numa ascensão sem volta. Falta muito até a equidade desejada, mas nossa autoestima nunca esteve tão fortalecida, e é justo e lindo que assim seja. Porém, impregnadas de soberania, podemos acabar intolerantes com os revezes naturais da existência. Ser mãe nos tira a liberdade que tanto custamos a alcançar, é verdade. Nosso corpo deixa de ser só nosso por um tempo. Perdemos o direito, tão recente, de fazer o que bem entender. Agora que o mundo é nosso, vamos retroceder por causa da maternidade?
Cuidado ao pensar assim. Não é obrigatório ser mãe, mas se está nos planos, relaxe. O perrengue é provisório, a infância não dura para sempre. Ser mãe de adolescentes e adultos é, com frequência, uma experiência arrebatadora. Não querer ser mãe porque o mundo está caótico, o clima desandou e há muita violência, entendo e até apoio, mas que não seja por excesso de zelo por si mesma. É natural desacelerar um pouco em benefício de uma pessoa que entrou em nossa vida para sempre.
O desgaste inicial vai virar um elo glorioso. Juro. Não é essa tragédia toda.