Quando a conheci pela TV, intuí que aquela bonitona tinha “gente em casa” (tenho uma amiga que classifica as pessoas assim, quem tem “gente em casa” e quem habita o vazio).
Mas foi só quando nos conhecemos pessoalmente que o clarão se acendeu. Não eram apenas seus olhos verdes que brilhavam, ela iluminava com o corpo inteiro: voz, braços, pernas. A verdade pontuava todas as suas frases. Me rendi. Cissa é de verdade – demais. Talvez isso explique ela fazer mais sucesso como apresentadora do que como atriz, ainda que ótima atriz, os 10 anos de sucesso da peça Doidas e Santas confirmam.
Atualmente, todos falam de Cissa Guimarães, que assumiu o comando do programa de entrevistas Sem Censura, da TV Brasil. Os dias úteis ficaram ainda mais úteis, as tardes mais coloridas e vivas. Cissa é uma mulher-contágio. Afaste-se, caso não queira ser infectado por sua autenticidade.
Em meio à purpurina a sua volta, Cissa deu uma entrevista recente que fez o país engolir o choro. Ao ser perguntada sobre a perda do seu filho Rafael, em 2010, ela respondeu: “Eu não perdi o meu filho, eu só ganhei o meu filho. O tempo todo. Não perdi nada. Só ganhei 18 anos do meu filho aqui neste plano. Sagrado amor que só posso agradecer”.
Fiquei pensando em todos os pais e mães que passaram pela mesma situação e que, com razão, arrastam correntes. Escutar que não existe perda, só ganho, é um beijo na testa e um abraço de urso. A faiscante Cissa coloca tochas acesas no caminho daqueles que vivem sua mesma dor, e também no caminho de quem a desconhece. Nós, que não perdemos filhos, mas que já perdemos amores, empregos, oportunidades, precisamos redimensionar nossas queixas mundanas. Tudo o que nos acontece é ganho. A palavra fracasso é um fracasso semântico, não define coisa alguma. Tudo é experiência real. Exige “gente em casa”, preparada tanto para o êxtase quanto para o absurdo. Abaixo o vazio.
Cissa lateja. Vibra. Treme. É espasmódica, energética, supersônica. Também cai, como todos caímos. É um ser vivo, modular, cíclico. Sorte a nossa que sua montanha-russa emocional jamais enguiça. Cissa não optou pelo mais fácil – sumir, acabar-se. Cissa optou pela coragem do enfrentamento. Pela continuação, não pela extinção. Para isso, reorganiza coração e mente, alia-se à Lavoisier, perde nada, transforma-se.
Cissa, minha amiga, esta crônica é para você, para homenagear todas as mulheres através de você. Para lhe dar, de novo, boas-vindas, você que é uma estreante contumaz, sempre em cartaz, sempre se aventurando, se expondo, se entregando e nos inspirando. Você é o contrário do desperdício nesse mundo em que tantos desistem tão cedo e por tão pouco. Nada se perde. Nada. Sua voz ecoa na minha alma e ecoará em todas as almas sensíveis, enquanto existirmos.