Entre os temas que o movimento feminista elegeu como prioritários, a violência sexual está no topo da lista. E não só. A Lei Maria da Penha, criada para proteger as mulheres, reconhece outras quatro modalidades de violência: moral, psicológica, física e patrimonial. Se não há consentimento, bater, confiscar dinheiro, humilhar, difamar, tudo é crime.
Hoje, mais esclarecidas, muitas mulheres que antes normalizavam situações degradantes dentro de casa estão se libertando de seus namorados e maridos estúpidos. Infelizmente, algumas delas pagam o alto preço do feminicídio, cujos índices vêm crescendo. Ao romperem relacionamentos abusivos, provocam a ira de machos que não sabem lidar com a emancipação de suas companheiras.
Não é a primeira vez que você lê o que foi escrito acima. Deve ser a milésima. Cansa, eu sei. Imaginemos a Maria, como exemplo. Até ela, tão bem-informada, já chamou o assunto de mimimi em conversas privadas. Nunca nas redes sociais, claro. Maria é uma mulher antenada, agradável, inteligente. Soube escolher bem seu parceiro, nunca passou por essas situações infelizes que tantas mulheres passam, coitadas. Maria lamenta por elas, tem coração. Mas sua realidade é outra. No máximo – no máximo! – de vez em quando transa sem estar a fim. Coloca o sexo no piloto automático: quem nunca? Fica louca para virar de lado e dormir, mas o marido está aceso, sabe como é homem. Se Maria negar, ele vai ficar emburrado. Vai ficar cobrando há quantos dias Maria não dá para ele. E ele precisa se sentir viril, potente. Custa? Seja gentil mais uma vez, Maria, você sempre foi um amor.
Em programas de TV onde mulheres debatem sobre sexualidade, em postagens de influenciadoras ou em encontros no happy hour, perguntar umas às outras se já fingiu orgasmo virou piada. Todas dão a mesma resposta e morrem de rir com a própria esperteza. Aqueles bobinhos não sabem de nada. Aceleramos o desfecho, eles ficam com o ego em dia e, pronto, está garantida a paz mundial.
Orgasmo fingido rendeu uma cena inesquecível de Meg Ryan, em filme de 1989 – há 35 anos. Adoro. Mas o tempo passou e sugiro avançar na questão: você, parceira adorável, já transou sem estar a fim? Uma vez? Duas? Trezentas? Sei, uma concessão aqui ou ali não tira pedaço, e eles não forçam, a gente é que é legal e prefere aderir em vez de criar caso.
Que sorte conviver com homens que não estupram, nem surram suas mulheres. Homens que apenas dão uma insistidinha quando elas não estão para jogo, que apenas fecham a cara quando não conseguem o que querem, sem que isso soe como manipulação. Fazer sexo sem vontade é uma violenciazinha de nada, ninguém enxerga as sequelas. Você dá conta, não dá, Maria?