Quando eu ainda engatinhava nos assuntos amorosos, testemunhei uma conversa entre duas mulheres experientes: uma delas estava determinada a encerrar um longo namoro, mas tinha dificuldade em colocar os pingos nos is. A amiga dela, em vez de dizer “vai lá, resolve isso de uma vez”, a consolava por seu desconforto. Eu, aos 20 e poucos anos, já tinha levado o meu primeiro “fora”, um rompimento dilacerante, então não estava entendendo nada. Por que tanta angústia se a decisão era dela? Quem sofreria mesmo seria o infeliz a ser descartado. Levantei essa hipótese, e a mulher que voltaria a ser solteira me disse: preferia mil vezes que ele terminasse comigo. Quando a gente toma a iniciativa, sofre bem mais.
Hum. Outra Irmã Dulce. Eu compreendia que ela estivesse sofrendo antes do desfecho, ninguém sente prazer em magoar quem já amou. Mas, uma vez disparada a sentença, resta espalmar uma mão na outra, missão cumprida. Quem vai precisar juntar os cacos é o coitado que foi pego de surpresa pelo cartão vermelho.
Pois o tempo passou, vivi algumas separações, cada epílogo com seu enredo, e entendi, por fim, que todos os envolvidos sofrem neste momento, e que talvez aquela mulher tivesse razão: assumir a responsabilidade de um desenlace é tão violento quanto ser surpreendido pela ruptura. O papel de algoz nunca é fácil, a não ser nos casos em que o dispensado aprontou demais. Mas se o motivo do rompimento for desgaste, incompatibilidades ou um novo amor que surgiu, é duro interromper o fluxo e desestruturar alguém que ainda acreditava na eternidade da história.
Todo esse longo preâmbulo para chegar na parte que importa: todos ficarão bem. Isso não diminui a culpa de quem resolve partir, nem o desespero de quem fica, mas é certo como a ressurreição de Cristo: ninguém morre de amor. O enlutado encontrará outra pessoa, e quem cortou o laço, também. Uma boa notícia em meio a tantas frustrações: mulheres e homens se recuperam, se regeneram, encontram saídas, refazem suas vidas. Poderá sobrar uma feridinha mal cicatrizada lá no quarto dos fundos do coração, talvez se opte por uma solidão voluntária e vitalícia, mas o tempo é incansável em sua caminhada, não se sensibiliza com os desastres cotidianos e oferece sempre outra chance – ou várias. O que se faz com elas, é da escolha de cada um, mas o cardápio da vida continuará aberto diante da freguesia.
Um consolo para quem foi deixado e anda encharcando o travesseiro, sem acreditar que irá amar de novo. Já quem está com as malas feitas, mas reluta em dar o adeus fatídico, que não protele tanto e aja: por mais difícil que pareça, está oferecendo um presente a alguém que apenas ainda não sabe o quanto ficará grato por isso um dia.