Ativismo e tecnologia: dupla explosiva. Nada mais é morno, agora tudo é escaldante. As lutas pelas causas indígenas e pelo meio-ambiente, os movimentos pró-negros e mulheres. É a vida aos gritos, acessível a bilhões de habitantes do mundo, como não se envolver? Para a turma do “me dou o direito de não opinar”, uma súplica: fale, traga novas ideias, exponha suas convicções. Estamos surfando uma onda gigantesca e planetária em busca de mudanças, de igualdade de direitos e de conscientização, a fim de que a Terra resista por mais alguns séculos antes de se desintegrar.
Planetária, sim, não é exagero semântico. Até podemos nos iludir, achando que essa onda é exclusivamente brasileira, em função do nosso preocupante embate político, mas somos apenas parte da história. O mundo inteiro agoniza e exige uma nova mentalidade: temos que tomar conta de todos nós ao mesmo tempo, basta de segregações e preconceitos. Zero tolerância para guerras, ganâncias, hegemonias — tudo isso é tão antigo. Uma nova ordem social se faz necessária.
Embalada por tantas transformações, especulo: contra o quê mais deveremos nos rebelar? Sei que não é pouca coisa se mobilizar pela aceitação plena de nossas diferenças, mas ando curiosa a respeito do que provavelmente jamais testemunharei: quais serão nossas próximas lutas? Ou a luta pró-diversidade durará um tempo indeterminado?
Não é pouca briga, essa de apaziguar conflitos históricos, e pode mesmo levar dezenas de anos sem que nunca se chegue lá (esse lugar inatingível: lá). A inclusão é a grande causa atual, mas não abdico de outros flertes com o futuro. O que temos feito para não se render à mesmice dos hábitos? O que ainda nos surpreenderá? Quais artistas estão revolucionando os costumes? Que movimento cultural irá nos fazer questionar o estado das coisas? O que o poder transformador da arte produzirá nos anos 30, nos anos 40, nos anos 50 deste século em curso?
Quem dera surgisse uma nova banda como os Beatles, uma esquisitice provocadora de um Andy Warhol, uma revolução silenciosa como a feita pela bossa nova, um escândalo provocador como os Secos & Molhados, uma hipnotizante Janis Joplin sem medo de sofrer em público, um novo Domingos Oliveira falando de amor, a arte chegando antes do faturamento, e não planejada para tal. A autenticidade da criação, sem o constrangimento de ser pré-avaliada pela quantidade de selfies, postagens e engajamentos virtuais. Tarde demais? Talvez não. Quem sabe consigamos abrir uma brecha em meio a tantos gigabytes. Ando faminta de um movimento puramente libertário, sem o marketing digital incluído, que tantas vezes obscurece a beleza e a verdade da causa. Meu Deus, como envelheci. Caramba, como ainda sou jovem.