“Aprimorada pelo tempo.” Gostei dessa definição que li no livro A Ciranda das Mulheres Sábias, da Clarissa Pinkola Estés. Envelhecer não é nenhum escândalo, mas aprimorar-se é um verbo mais simpático. No próximo fim de semana, completo 60 anos de aprimoração, celebremos.
Cheguei aqui produtiva e com saúde, num mundo que começa a deixar de estigmatizar os cabelos brancos (penso até em suspender o tonalizante que passo de 20 em 20 dias) e em que Sarah Jessica Parker volta a gravar Sex and the City com rugas cultivadas desde o último episódio da série, em 2004: cada mulher é livre para fazer o que quiser do seu rosto, inclusive mantê-lo como é. Nossa aparência muda, isso todos enxergam. A transformação interna é que é invisível e merece ser narrada e compartilhada, pois é o lado melhor dessa história: assumir nossa autonomia, sem mais idealizações ou autocobranças.
Eu sei, 100% livre, não há ninguém. De minha parte, nunca estive tão atrelada às necessidades de meus pais idosos e às de minhas filhas, mesmo adultas. Laços nos prendem e tudo certo, são os imprescindíveis vínculos afetivos. A liberdade que celebro está relacionada ao que desamarrei dentro de mim. Preconceitos, paranoias, desperdícios. É uma obrigação moral se livrar das obstruções que impedem o avanço da mente.
Em termos físicos, a idade traz limitações que não controlamos, mas somos mais do que um corpo, e da nossa cabeça cuidamos nós – desatando os nós, pra começar.
Já não espero por grandes acontecimentos, o que tinha pra acontecer, já aconteceu. Agora é usar o que aprendi e o que sei a meu respeito para tratar a vida com a elegância que ela e eu merecemos. Envolvimento profundo com o que importa; de resto, sorrisos leves e silêncios prudentes, o sábio “deixar pra lá”.
Confiar na minha força interior e não interromper a busca pelo bem-estar, que nunca está na mentira, na vulgaridade, na grosseria (infelizmente, para muitas pessoas é mais fácil ser cruel do que ser gentil). Dançar sempre, até a alma escapar pelos poros. Azeitar paixão e razão, fazer as duas conviverem sem tanto conflito. Mandar o ego calar a boca, que ele já apitou demais. Não encaixotar a vida, ela sempre pode alargar-se, expandir-se, transbordar.
Sabedoria e doçura, juntas, desenredam aquilo que aperta o peito e dificulta a respiração. Estou diante de um portal que costuma assustar, mas passarei por ele feito uma bailarina, leve e delicadamente. Não me irrito mais (só não perco o senso crítico, #forabolsonaro). Ainda sou útil para alguns e me divirto comigo mesma. Desembaraçar-se, uma tarefa que se aprimora com o tempo, é verdade. Então que o tempo passe.