Estive na Barra do Chuí, ali onde o Rio Grande do Sul termina para virar Uruguai. As distâncias mais curtas e, sem dúvida, a estrutura turística explicam o Litoral Norte ser mais popular, mas a Barrinha, o Cassino, o Hermenegildo e a Barra do Chuí têm os seus muitos encantos. Incluindo as grandes extensões de areia que dão uma sensação de praia particular, dependendo do lugar em que se estenda a toalha.
O Cassino tem o título de maior praia do planeta, é pouco? E para quem acha que, além de imenso, o Litoral Sul é feio, com todo o respeito: tirando Torres, todas as praias gaúchas se parecem. Ainda tivemos a sorte de pegar os dias de Carnaval em que a água estava perfeita, refúgio para escapar dos 40°C com sensação térmica de, sei lá, 100°C? Caiu o mito de que as águas do nosso litoral mais extremo são geladas. Nem elas resistiram à temperatura em ebulição.
Depois de quase 600 quilômetros de estrada, foi como chegar não em casa, mas em um forno. O piso estava quente. A parede fervia. O Brasil pegou fogo no Carnaval. Nunca se viu tanto folião desmaiando em bloquinho. Moralistas e pudicos que me desculpem, mas toda nudez não apenas não deve ser castigada, como ainda foi o único não-traje possível para se enfrentar um trio elétrico naquelas condições.
Também teve as rainhas da bateria pela TV. Sempre espero a rinha de rainhas, uma querendo ser mais espetaculosa que a outra. Devia ter o quesito Rainha da Bateria na apuração. Chamada de gorda e velha poucas semanas antes, Paolla Oliveira surgiu à moda Paolla Oliveira, um evento. Além de tudo, ela ainda tem aquele namorado. Malandro é malandro, mané é mané.
A Portela veio com Um Defeito de Cor no enredo e o livro da Ana Maria Gonçalves virou o mais vendido do país no intervalo de uma Sapucaí. O calhamaço de quase mil páginas, que quem se aventura a ler não esquece mais, agora é o mais vendido do país. E ainda há quem menospreze a cultura popular. Uma pena Porto Alegre ter escanteado o seu Carnaval para longe em todos os sentidos, inclusive no calendário. Quanta história a gente não perdeu e vai continuar perdendo.
Falando em Porto Alegre, a crônica do Carlos Gerbase que saiu aqui na Zero Hora, na segunda-feira de Carnaval, merece um quadro. Ele imagina Diógenes de Sinope, aquele que morava em um tonel e era filósofo e mendigo por convicção em Atenas, chegando à nossa cidade.
“De repente, algo impedirá o sol de bater em seu rosto. Alexandre, o Grande Construtor, estará à sua frente. É um homem imponente, de terno Armani e educação refinada”. No final, depois da proposta de negociar seus namings rights para um novo empreendimento, o Diógene’s Tower, o filósofo mergulhará no Guaíba, atravessará mares e oceanos e voltará a Atenas pelo Pireu com uma certeza: “O Alexandre de Porto Alegre é pior que o da Macedônia. Sua sombra é muito maior.”
Antes, quando o Carnaval passava, a gente dizia que, agora sim, o ano já podia começar. Bem que daria para trocar esse conceito - tão demodê - por algo do tipo, agora que o Carnaval passou, a temperatura já pode baixar. Mas essa é uma ilusão ainda maior, e menos cheia de plumas, que o próprio Carnaval.