Nesse final de 2023, enquanto alunos de todo o país sonham com as férias após um ano inteiro acordando cedo, fazendo a lição de casa (alguns, claro), estudando para as provas (alguns, claro – Parte II) e esperando ansiosamente o momento de esquecer a escola e aproveitar um verão que se anuncia escaldante, voltei a estudar.
Além dos cursos de roteiro, de escrita e dessas especializações todas que adultos costumam fazer para dar uma incrementada na carreira, há décadas não entrava em uma sala de aula para aprender uma matéria totalmente desconhecida para mim. Não me refiro à Física, meu eterno calcanhar de Aquiles no colégio e, por um curto período, na Geologia. Sim, cursei dois anos de Geologia e desisti por causa da Física. E do cálculo. E de outras exatidões, mas deixemos os fracassos acadêmicos para lá.
Fato é que estou estudando Francês, Nível 1. E o pouco, pouquíssimo que sei da língua de Guy de Maupassant, um dos meus autores preferidos, vem dos filmes franceses.
Devenir immortel, et puis, mourir.
Lembra dessa frase de Acossado, Jean Seberg perguntando a um romancista famoso qual a maior ambição dele na vida?
Tornar-me imortal e, depois, morrer.
Quem nunca, amigos escritores, quem nunca?
Minha breve estada em Paris nesse 2023, sem dúvida a melhor parte de um ano bastante complicado, me despertou de vez a vontade de aprender a língua. Você investe na possibilidade de um trabalho na França, chega lá e não sabe falar um ovo. Un oeuf. Resultado: suas possibilidades caem drasticamente.
Além disso, nesse 2023 também conheci, por conta de uma coluna aqui no jornal, o casal Pierre-Yves e Elisa. Pierre-Yves, suíço e casado com a brasileira Elisa, me escreveu por causa do nosso gosto em comum por Maupassant. Depois nos encontramos em um evento e a Elisa me animou a aprender.
Foi assim que entrei no Instituto Roche, pertinho da minha casa. Importante: essa não é uma coluna patrocinada, estou matriculada como qualquer outro aluno. A Analice, que recebeu a mim e às minhas dúvidas, me convenceu de que eu consigo. É que às vezes duvido até da minha capacidade de aprender o português, se fosse começar hoje. Depois que se entende as sutilezas e as belezas do nosso idioma, falar e escrever em português parece uma conquista e tanto.
Logo na primeira aula a minha professora, Beatriz – ou melhor, ma professeure –, achou que a minha pronúncia era boa, considerando-se que sou uma néscia. Néscia não foi ela quem disse, fui eu. Confesso que, na noite anterior, revi Acossado para me inspirar. Ops, revi À Bout de Souffle, título original da obra de Monsieur Godard. Vamos combinar que, ao menos nessa, quem adaptou o título acertou muito. Pode não ter o significado 100% fiel ao original, mas Acossado é um nome e tanto.
Sobre isso, ver filmes em qual língua seja com a legenda na própria língua ajuda muito a decifrar um idioma. O problema são as vezes em que, na tentativa de entender, a gente presta mais atenção na língua que no roteiro. Aí o jeito é recomeçar para não ficar boiando duplamente.
É verdade que a gente aprende todos os dias, o tempo inteiro, com tudo. Mas também é verdade que a experiência na sala de aula é única, e poder revivê-la a essa altura do campeonato deu um brilho diferente nos meus dias. Prometo me esforçar para deixar meu francês brilhando também.
Voilá, meu povo.