Vale um estudo científico. Já notou que o torcedor, do alto da sua significância — considerando-se que é a devoção dele que faz o clube existir, e isso sem falar no dinheiro investido —, acha que tem o poder de decidir o destino do seu time?
Se não sentar sempre no mesmo lugar, é derrota na certa. Ou se não vestir a camiseta do campeonato de 1971. Se não assistir as partidas com os mesmos amigos. Se só ouvir no rádio, sem nem chegar perto da TV. Se não usar uma meia furada em dia de jogo. Se não comer um entrevero antes. Se não subir a rampa do estádio de joelhos.
Interessante que o torcedor nunca acha que se não arrumar a cama, não varrer a sala ou não lavar a louça, o time perde. A superstição trata sempre de alguma coisa sem grande importância. E também há casos que envolvem sacrifícios, melhor dizendo, o corte de pequenos prazeres.
Para o time ganhar, o torcedor promete não comer doce até o fim do Brasileirão. Ou então não comer churrasco. Garante que não vai mais matar a academia. Afiança que passará menos horas nas redes sociais. Que tentará ler um livro, quem sabe o único do ano. Que não beberá mais até a vitória final.
Foi aí que cometi meu maior erro, que pode ter sido decisivo para a campanha do meu time. Antes dos três gols mágicos de Luisito Suárez, naquela quinta-feira mágica da outra semana, prometi solenemente, diante da televisão: se virar, não bebo mais vinho até o fim do campeonato.
Pois virou, passei três dias no céu e não pensei mais no assunto até o Corinthians fazer um gol e me encontrar com a taça na mão. Tudo fez sentido.
A culpa foi minha e de todos os que não se sentaram no mesmo lugar, não vestiram a camiseta da sorte, não usaram uma meia furada, não assistiram o jogo com os amigos de sempre ou assistiram pela TV, em vez de só ouvir no rádio, não comeram um entrevero antes, não subiram a rampa de joelhos.
O torcedor tudo pode e é por isso que a gente tem essa autoestima gigantesca. Não são aqueles 11 lá que decidem, embora o Luisito desequilibre. É a gente, com nossas superstições e uma fé que precisa ser muito, muito maltratada para falhar.
Vale para torcedores do Inter e para todas as outras torcidas.
Agora imagina se, em vez de gastar essa energia imensa com o futebol, a turba dedicasse seu empenho à ciência, à crise climática, à solução da fome, das guerras, das desigualdade, das doenças, dos problemas do mundo. Estaria tudo resolvido.
Claro que isso é brincadeira, apenas mais um sintoma de Altaestimite Aguda. Falando nisso, valeu a torcida para o resgate dos brasileiros de Gaza. Gol da humanidade. Agora é seguir torcendo por dias melhores, dentro e fora do campo.
Só não prometo não beber mais vinho até que isso seja realidade porque teria que passar o resto de vida que me sobra na água. E pelo andar da carruagem, é possível que a água acabe ainda antes de mim.