Dia desses aconteceu um Sarau Elétrico em homenagem ao Luis Fernando Verissimo. Sarau Elétrico é o encontro que combina literatura e música às terças-feiras no bar Ocidente, um caso raro de evento longevo em Porto Alegre. São 24 anos em cartaz.
Pois foi anunciar que a função seria sobre LFV que os ingressos se esgotaram em poucas horas. Teve gente que ficou chateada e gente que ficou braba, mas desde a pandemia as coisas funcionam diferente. Agora a lotação para eventos assim no bar é de cem pessoas sentadas, o que acabou com o velho e nem sempre bom amontoamento de outros tempos.
A noite ainda tinha mais uma atração para lá de honorável, memorável e adorável: Tânia Carvalho, a primeira de seu nome. Amiga da vida toda dos Verissimo, ela aceitou o convite para ler e falar sobre o autor que ocupa um triplex na estante e no coração dos leitores.
Para ver a Tânia em ação estavam na distinta plateia a Lucia e a Fernanda, mulher e filha do LFV. Sobre o filho, Pedro, falaremos alguns parágrafos adiante.
A Tânia, para quem dificilmente não conhece, é creditada assim na Wikipédia: "Jornalista, radialista e primeira apresentadora do Jornal do Almoço na então TV Gaúcha, atual RBS TV, lançado em março de 1972 e no ar até hoje. Também foi apresentadora e âncora de diversos programas de televisão e rádio".
Só que ela é muito mais que isso. Breve histórico: a Tânia não conheceu o pai. Passou a infância com a mãe, a avó e oito tias em Bagé, terminou os estudos em Porto Alegre, começou a trabalhar antes dos 18 anos, casou com um astro do cinema nacional aos 19, se desquitou quando ser desquitada escandalizava os cidadãos de bem, voltou com o filho pequeninho para Porto Alegre, começou a trabalhar na TV, inventou um estilo que até hoje serve de modelo para quem veio depois, casou com o Felício – um pão! -, teve o segundo filho, trabalhou muito e ainda trabalha, agora tem duas noras, quatro netos, um genro do filho mais velho e uma montanha de livros que não para de crescer.
Por aí dá para ter uma ideia.
Na noite em que os fãs do LFV e da Tânia teriam se amontado para reverenciar os dois, não fossem as tais cem pessoas sentadas, ela leu os textos da ravissante Dora Avante, a personagem maluquete da época da ditadura .
Um trechinho: "Dorinha, como se sabe, não revela a idade, mas insiste que todas as especulações a respeito são exageradas. Diz que é verdade que carregou Getúlio Vargas no colo, mas ele já era presidente na ocasião. Dorinha decretou que nas reuniões do grupo que lidera, as Socialaites Socialistas, que lutam pela implementação no Brasil do socialismo soviético no seu estágio mais avançado, a volta ao tzarismo, todas usem crachás com seus nomes, pois com o botox ninguém reconhece mais ninguém".
A Fernanda Verissimo leu uma crônica em que seu pai falava do filho, Pedro, que então cantou divinamente acompanhado pelo Trio Ataru – que toca divinamente. Com a mãe Lucia e uma turma entusiasmada de amigas na assistência, moçoilas que não ficavam nada a dever em animação para o público das outras noites do Ocidente.
Esta coluna, falando do Luis Fernando Verissimo e da Tânia Carvalho, é para dar um respiro nas notícias que não saem dos jornais e da TV. Que fase, meus amigos. A gente respira também na Feira do Livro e suas tantas atrações e na programação de teatro e de shows da cidade. Nessa época do ano Porto Alegre costuma fazer jus ao nome. Em que pesem as tristezas do mundo.
Como diria Dora Avante: caríssimos, beijos centrifugais.