E chegamos ao Natal, e ele veio quente. Fervente.
Com esse calor que está fazendo, talvez seja hora de mudar algumas coisas nos nossos costumes. Por exemplo, a roupa do Papai Noel. Assim como os policiais usam bermuda, camiseta e sandália para trabalhar na praia, também o Papai Noel poderia adotar um figurino mais apropriado para enfrentar esses 40ºC — com sensação térmica de 100ºC — que desabaram na gente. Quem diria que tanto descaso com a natureza ia dar nisso? Ah, sim: cientistas, pesquisadores e ambientalistas ao longo das últimas décadas. Pois é.
Papai Noel de shopping ainda vá lá que vista o modelão consagrado por Santa Claus, isso se o ar-condicionado der conta de refrescar o povo todo. Mas para o Papai Noel que trabalha na frente das lojas ou que vai de casa em casa levando os presentes das famílias, proponho um uniforme alternativo: bermuda de cetim vermelho e camisa de botão de manga curta do mesmo tecido, tudo arrematado por um boá levinho em substituição ao pelego branco que, só de olhar, já dá coceira.
Nos pés, uma sandália preta do tipo franciscana ou mesmo um coturninho leve, para os mais clássicos. A barba longa e branca, de preferência natural, deve ser mantida, assim como o gorro. Papai Noel vai derreter menos e periga sair na capa de alguma revista hipster. Ainda existem hipsters?
O calor que tem feito conseguiu a proeza de esvaziar a orla e os parques no último final de semana. Foi um domingo com cara de segunda-feira, quem podia estava dentro de casa ou da piscina. Só os que não tiveram alternativa encararam o dia mais quente de 2023 na rua. Lembrei de um gracejo do, chamemos assim, machismo recreativo, que pregava que mulheres bonitas não suam. O calor extremo derrubou mais essa fake news. Todo mundo sua em Porto Alegre, inclusive os machistas.
Voltando ao Papai Noel de bermuda, mais refrescado ele também vai ficar mais confortável se pegar um ônibus. Isso porque, em pleno calorão, boa parte da frota de Porto Alegre circulava sem o ar-condicionado ligado — o que não é favor, é lei. Digamos que Papai Noel more em um bairro mais afastado e queira vir para o Centro. Com o uniforme pesadão de outros Carnavais, ou melhor, Natais, ele sentiria na pele o que o usuário do transporte público da nossa cidade pena.
O hábito de usar uma roupa caprichada nas festas de fim de ano também deve sofrer alguma adaptação. Costanza Pascolato não concordaria, mas os shortinhos e vestidos curtos e sem mangas, sem golas e sem costas estão sumariamente liberados para mulheres de todas as idades. Só não dá para ir sem vestido porque o Natal é uma festa de família.
A não ser que tudo mude. Do jeito que a coisa vai, pode ser que o dia 24 chegue com termômetros abaixo de zero, chuvas torrenciais, vendavais desesperadores, granizo, até neve. Aí volta tudo ao formato original e Papai Noel que se apresente fardado com o rigor de sempre. As bisavós ficam dispensadas de comparecer às festas de shortinho, a menos que queiram. Quem diria que tanto descaso com a natureza ia dar nisso? Ah, sim: cientistas, pesquisadores e ambientalistas ao longo das últimas décadas. Pois é.
Às calorentas e aos calorentos de todas as querências, desejo muita paz, o que hoje em dia é difícil, temperaturas mais amenas, o que parece tão difícil quanto, e saúde para encarar o tirão. Ninguém disse que seria fácil, mas a gente dá conta. Só não precisava ser tão quente.