Com tantos coaches prometendo sucesso e fortuna para seus seguidores, a maioria deles vendendo cursos e apostilas que ensinam qualquer um a ficar rico, era para o Brasil ser um país de milionários, numa hora dessas.
As fórmulas são sempre parecidas, comece com um real e acumule um milhão rapidinho. Basta investir na bolsa ou em bitcoins ou no que estiver na moda – não raro, a velha e péssima pirâmide que já raspou as economias de muita gente. E os podcasts desses coaches? Você ouve e pensa – à la hiena Hardy, do desenho clássico de Hanna Barbera: oh, céus, oh, vida, oh, azar. Isso não vai dar certo. Em geral, não dá mesmo.
Um parêntese: a hiena Hardy, companheira do leão Lippy, era dublada no Brasil por ninguém menos que Lima Duarte. Fecha parêntese.
Para quem está desgostoso com os métodos dos coaches e acha que pode menos, vai aqui uma ideia: aceitar que, muito mais que o sucesso, é o fracasso que está ao alcance de todos. E a gente nem precisa fazer força para chegar lá.
Quem inventou que querer é poder só contribuiu para aumentar uma coisa em seu público-alvo, a frustração. Eu queria ser o Luis Fernando Verissimo, mas por acaso vou conseguir só pela minha vontade? Óbvio que não. Por isso, na contramão dos coaches, o que me resta é a força do pensamento negativo. Eu não vou conseguir. Eu nunca vencerei. Isso não é para mim.
O método do Vencer pelo Fracasso é muito simples. Basta pensar negativamente com muita firmeza e jamais admitir qualquer chance de acerto. É que, desse jeito, você se autodesafia. E não tem ninguém que cobre mais de você do que você mesmo. Há até quem precise de terapia e remédio por causa disso.
No final, se apesar de todo o seu auto-descrédito a coisa acontecer, você já pode se considerar realizado. Ou meio-realizado, se você achou que podia ser a Elis Regina e virou uma genérica dela. Ninguém nos mandou ser tão ambiciosas, eu mirando no LFV, você na Elis.
É um bom método, acredite. E nem precisa gastar em livros ou fazer aplicações estapafúrdias. Se tivesse que deixar algumas palavras de esperança, diria: foi o conjunto dos nossos fracassos que fez de nós o que somos hoje. Cada pé na bunda, cada demissão, cada cheque que voltou, cada desilusão, cada derrota do time, cada vergonha. Cada um dos nossos piores momentos, todos somados, misturados e indelevelmente marcados na alma, foram responsáveis por esse touro teimoso que continua. Aos trancos e barrancos, mas continua.
Por tudo isso, se parecer que só você não tem fama e poder na face da Terra, relaxe. Sou capaz de apostar que a maioria dos seus amigos também não têm. E, para piorar, eles ainda estão pagando caro pelo curso do coach. Esse sim, cada vez mais rico.
Só isso já é motivo para você baixar a cabeça. Mas com muito orgulho.
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O Ministério das Fake News adverte: tudo que está nessa coluna é falso da primeira à última linha. Ou não. Vai depender de você.