Mil perdões se o que vou dizer agora não combina com a data comemorada no dia 14 de maio, mas azar.
Mãe também erra.
Erra bastante.
Erra muito.
Erra rude.
Acho que, se os filhos soubessem dessa pequena verdade desde criancinhas, a saga das mães seria mais fácil. Porque as mães – e aí incluo a minha, e me incluo também – passam a vida inteira querendo acertar. Não tem equívoco maior que esse.
No começo é uma beleza, o pequeno ser sem vontade própria tem na gente o seu universo. A cara de encantamento com que ele nos olha. Dá vontade de ter outro filho agorinha, enquanto escrevo, só para me ver naqueles olhos outra vez. Com todo respeito aos pais, a mãe é tudo. Nessa fase, evidentemente.
Depois chega o tempo de tentar civilizar a pequena fera. Não pode. Não faz. Não grita. Não morde. Não puxa. Não bate. Às vezes pesa dizer tanto não, e a mãe muda de tática. Pode. Faz. Grita. Morde. Puxa. Bate. A ideia é acertar, mas desde quando existe fórmula para isso?
Nada que se compare ao que vem depois. Festinha em véspera de prova. Segredos e mais segredos no computador e no celular – e todas aquelas matérias sobre os perigos da internet fazendo a mãe perder o sono. Não estudou e pegou recuperação. Não estudou e tomou pau. Não estudou e disse que não vai mais estudar. Se recusa a ir ao aniversário de cem anos da tia Nenê porque quer jogar videogame. Cheiro de cigarro na camiseta. Cheiro de cigarro-que-faz-rir na camiseta. Parece que passou um furacão no quarto. Não acorda para o almoço de domingo. Vira vegetariano. Troca o dia pela noite. E por aí vai.
Talvez o maior erro das mães seja querer um filho igual a elas. Que toque oboé e não o bongô, que ele adora. Que use o pulôver do cavalinho e não o moletom velho que ele ama. No capítulo das roupas, então, pode ir desde já aceitando o fracasso. O "Ibofe" aponta que, em 99% dos casos, filhos e filhas maiores de cinco anos, não gostam das roupas que a mãe compra. O 1% restante arrancou a etiqueta antes de experimentar e não pode trocar.
Um dos equívocos mais comuns das mães é opinar quando o filho não pediu opinião. É o velho “eu, se fosse tu”. Lembro quando a minha mãe me dizia isso. Podia até vir uma ideia boa, mas era ouvir o “eu, se fosse tu” que meu modo Rebelde sem Causa ativava na hora. Por outro lado, é muito difícil não dar palpite na vida do filho, da filha. Depois de muitos embates, acho que aprendi a esperar o chamado. Mas haja autocontrole para sossegar a mãe metida que mora em mim.
Rita Lee, que vai fazer falta no mundo, falou sobre ser mãe em uma entrevista há muito tempo. Perguntada sobre como educou os filhos Beto, João e Antônio, disse que “(...) os pais aconselham e orientam: se você botar seu dedinho na tomada pode levar um choque. Se o moleque quiser botar o dedinho que bote, leva um choque e aprende sozinho. Com o tempo, ele começa a levar em conta as advertências dos pais. Mas isso vale para quando são pequenos. Depois de grandes os pais só devem orientar quando são solicitados; quanto mais os filhos exercerem seu livre arbítrio e se responsabilizarem pelas consequências boas ou más de suas decisões, melhor”.
Para quem erra, para quem acerta, para quem tenta: feliz Dia das Mães.