Bem antes do caso das joias do ex-presidente que botou a aduana brasileira em destaque, eu já tinha me viciado em um reality de aeroporto. Parece estranho, admito. Não curto BBB – nada contra quem gosta –, passo longe de programas que testam limites e mesmo os The Voice e similares não me seduzem. Mas o reality de aeroporto me pegou.
Aeroportos, esses não lugares necessários para se chegar aonde se quer ou precisa ir. São praticamente não países com sua própria economia. Os preços praticados nos aeroportos, credo, fazem o custo de vida parecer o das Ilhas Cayman. Uma garrafinha de água pode custar R$ 12. Um pão de queijo, 10 pilas em média. Se o Procon autuasse em aeroporto, faltaria bloquinho para notificação.
Sobre o reality de aeroporto, o bom é o que se passa no Brasil, mais especificamente em Guarulhos. Os da Europa não têm a mesma emoção. Embora volta e meia sejam flagradas grandes apreensões de drogas, acontece muito de um passageiro humilde tentar embarcar com um sanduíche e levar uma carraspana histórica. Ou uma mãe tomar um esculacho porque o bebê não para de chorar. Zero vontade de assistir à falta de empatia na TV, já bastam os tantos casos ao vivo por aí.
Os programas de aeroporto do Brasil são os melhores até pelo elenco. O Área Restrita: Aeroporto passa no canal Discovery, mas é possível assistir pelo YouTube. Os policiais federais, funcionários da Receita, do Ibama e da Vigiagro se parecem com todo mundo que a gente conhece. Existe uma boa intenção legítima ao apreender mercadorias que, evidentemente, estão sendo trazidas para revenda. A Val, uma das policiais mais atuantes, não aceita conversinha. “Esse monte de charutos que o senhor está trazendo sem declarar prejudica os comerciantes que importam o produto legalmente, pagando os tributos e taxas”, ela diz, enquanto lacra uma caixa com centenas de charutos ilegais diante do olhar desconsolado do passageiro.
Usei o exemplo dos charutos, mas a galera traz de tudo e na maior cara de pau. Um sujeito tinha 30 celulares na mala, todos para presente, segundo ele. E a Val, já apreendendo a carga: “Puxa, mas que família grande”. Agora que me viciei nesse programa, nunca mais vou trazer nada, nem um ímã de geladeira, sem achar que estou cometendo um ilícito.
Tristes são as apreensões de droga. Fica evidente que a pessoa que cai é uma mula, no mais das vezes um jovem que cede ao apelo de ganhar um dinheiro – pequeno – para tentar entrar ou sair com cocaína ou metanfetamina. Aqui o brabo é o policial federal Anderson. Fico sempre torcendo para ele não achar nada, mas o Anderson sempre encontra um pó branco escondido nos fundos e paredes falsas das malas. A aventura do passageiro termina ali, algemado por tráfico internacional de drogas, com seus direitos sendo recitados pelo Anderson. Crianças, não embarquem nessa furada.
Pode parecer que o programa é repetitivo, mas que nada. As apreensões do Ibama, por exemplo, vão de cobras vivas a varetas de pau-brasil, que valem uma grana lá fora para a produção de arcos de violino. Tem caçador – sim, isso infelizmente ainda existe – que vem com cabeça de leão mocosada em uma caixa com declaração falsa de conteúdo. Fora os produtos agrícolas in natura e sem identificação, que não podem entrar para não se correr o risco de introduzir alguma praga nova no solo brasileiro.
Se quem tenta entrar com joias ou outra bugiganga cara sem declarar assistisse ao reality de aeroporto, saberia que não tem jeito. O raio X não deixa passar nada. Qualquer suspeita leva o passageiro a abrir a mala em um balcão, onde ela é despudoradamente revirada. Dica importante: nunca leve roupas íntimas sujas para não passar vergonha. Quando o delegado De Marco apareceu nos noticiários como um dos responsáveis pela apreensão das joias sauditas, vibrei porque ele sempre foi um dos meus preferidos no programa. Os episódios com ele, o Anderson e a Val são sempre os melhores. Em uma próxima viagem internacional, vou catar esse elenco por Guarulhos como quem procura pelo Joaquin Phoenix.
O detalhe é que eu é que vou atrás deles. Porque se for o contrário, é treta.
Pode me levar cigarros na prisão.