Fui ao Gre-Nal depois de uma vida sem ir. Nem lembro de quando tinha sido o meu último, o comodismo cheio de argumentos para assistir o embate pela TV: o tempo que se perde, toda a preparação do antes, depois o mar de gente para sair, o congestionamento que se enfrenta para voltar. Em caso de derrota, hipótese que sempre deve ser considerada, o mau humor no carro, todo mundo querendo chegar logo para se enfiar em um canto, mas o trânsito não anda. Daí para começar a briga é um passo.
Dessa vez, não pensei nos contras. Sinto que estou me tornando uma senhora mais animada do que a jovem adulta que um dia fui. Sabia que meu filho estaria desde bem antes pelas bandas da Arena, adepto que é do churrascão na rua e da confraternização pré-jogo com uma entusiasmada galera, e marquei nas cadeiras com ele. Embora meu irmão estivesse com uma cirurgia de hérnia inguinal agendada para dali a dois dias, avaliamos que bastava ele não pular muito e tudo estaria bem.
Até a pé não fomos, mas saímos cedinho. Aqui, uma curiosidade: no período de dois anos, todos os homens da minha família precisaram fazer algum tipo de cirurgia de hérnia. Por sorte tivemos uma recomendação quentíssima da Clínica Hérnia Center, dos doutores Marcus Reush e André Luiz da Rosa, que têm a assessoria luxuosa da Patrícia Rosa. Não por acaso, eles operaram o Ferreirinha e o Cuesta, entre outros atletas. Torcedores com hérnia, aqui a vitória é certa.
A longa espera serviu para a gente relembrar Gre-Nais passados, de uma época em que os estádios permitiam que se entrasse com farnel e farofada para aguardar a hora do jogo de barriga cheia. Por exemplo: um Gre-Nal no Beira-Rio nos anos 1970, meu irmão bem pequeno. A mãe preparou uma sacola com todo o tipo de comida não saudável, a antiga Pastelina ainda frita, que às vezes vinha com um fio de óleo dentro, suquinhos de caixa com as essências mais artificiais de fruta, pizza de assadeira, enroladinho de salsicha, bolacha recheada.
Meu irmão disse que era comida para uma família inteira, mas ele e o meu pai comeram tudo. Sem falar no que foi comprado durante a partida: algodão doce, cachorro quente, pipoca, refrigerante, picolé e o que mais passasse nas caixas de isopor dos vendedores.
No campo, as coisas foram menos apetitosas, por assim dizer. Perdemos de 2x0 e ainda desabou um toró que alagou a Padre Cacique. Meu irmão, aos cinco anos, foi embora com a água batendo no joelhinho gorducho.
Outro Gre-Nal com perrengue foi no saudoso Olímpico. É chavão dizer “saudoso Olímpico”, mas é verdade. Nesse meu pai desistiu de ir por causa da chuva e meu irmão, pré-adolescente, foi sozinho. Chegou seis horas antes e já encontrou a parte coberta da Social lotada. Esperou na chuva até o jogo começar, viu o jogo na chuva, ficou para a volta olímpica na chuva, caminhou até a parada para pegar o ônibus na chuva. Saiu na madrugada para o hospital de ambulância, duro de febre, para alguns dias internado com pneumonia.
Esse último foi um Gre-Nal sem perrengue, ao menos para o nosso lado. Agora é ver o que o destino reserva para os próximos capítulos e torcer para que, aconteça o que acontecer, role tudo na santa paz. Em dando certo (toc-toc-toc), minha ideia é comemorar com um bom espumante sem notas de trabalho escravo. Porque o futebol pode até ser o ópio do povo, mas nem por isso faz a gente esquecer do que interessa. Nos vemos no campo.