Passada a tempestade, olha ela aí, a Feira do Livro. Inaugurada, dessa vez, em pleno vendaval da eleição. Cléo Kuhn que me desculpe tantas analogias meteorológicas.
A Feira do Livro é um momento de trégua nos corações e nas mentes. Quem se elegeu ou não, quem ainda comemora e quem começa a sacudir a tristeza, todo mundo se encontra nos corredores da Feira. Civilidade que chama.
Para manter a tradição, essa vai ser uma coluna de sugestões de leituras, algumas já lidas, outras ainda por ler — mas já garantidas. Com predomínio de autoras, porque se tem coisa que dá gosto de ver é a quantidade de escritoras publicando. Seguem algumas recomendações breves, mas sinceras.
Começo com Julia da Rosa Simões, conhecida tradutora e musicista que estreia como autora com um livraço, A Estranha Ideia de Família. Investigando os mistérios de sua própria história, Julia conta o que poderia facilmente ser um romance ficcional, se não fosse ainda melhor por ser tudo verdade. Lançamento Arquipélago Editorial.
Também da Arquipélago, Almoço – Uma Conversa com Eliane Brum é o resultado de um papo entre a Eliane e o ilustrador Pablito Aguiar na casa dela em Altamira, Belém do Pará. Um livro precioso em sua simplicidade.
Ainda da Eliane Brum, Banzeiro Òkòtó – Uma Viagem à Amazônia Centro do Mundo saiu pela Companhia das Letras e mostra, em suas quase 400 páginas, por que a autora decidiu viver nas margens da Amazônia, de onde investiga a escalada de devastação que leva aceleradamente a floresta a um ponto sem volta. Mais que livro, um documento.
A L&PM chega com sua banca tomada de atrações e duas autoras em destaque. A minha, a sua, a nossa Martha Medeiros traz Um Lugar na Janela 3, o novo volume de viagens de uma inveterada descobridora de paisagens e histórias. Os editores previnem: atenção para o comichão de viajar que vai acometer o leitor depois da última página.
Já Clara Corleone apresenta o romance Predadores, em que a independência de Clara – alterego da autora – e suas amigas é atormentada por medos ancestrais de que as mulheres são vítimas.
A poeta Claudia Schroeder vem com As Línguas São Para Outras Coisas, que saiu pela valente Editora Taverna. Poesia de primeira em cada página. Denise Crispun, roteirista de televisão com vários textos encenados no teatro, lança Furiosamente Calma, 49 ótimos contos em uma edição preciosa da Numa Editora.
A oficina de escrita da Cíntia Moscovich lança um volume novo, De Tudo Um Conto, com os textos maduros de uma turma de sete autoras. Mais autoras: Cris Vazquez mistura ficção e não ficção em Desnudas, e Ana Luiza Rizzo fala de maternidade em Sete Erros.
Nathallia Protásio vem com as crônicas de sobrevivência da pandemia em Pela Hora da Morte. E Suzana Saldanha, que fez história nos palcos, traz suas memórias em Nunca Pensei em Ser Atriz.
Jonatã Nunes ficou conhecido quando lançou seu primeiro livro, Poeta do Asfalto, ele que trabalha como gari e publica por conta própria, com muitas dificuldades. Jonatã, que mantém uma geladeira cheia de livros em Canoas, onde vive, e aceita doações para continuar compartilhando títulos com a comunidade, lança agora Minhas Dores Meus Calmantes Meus Vícios Meus Relaxantes, que abre assim: Entristecido/Parei pra conversar comigo. Para comprar: filoseditora.com.br.
Conhece Wesley Barbosa? O jovem autor paulista da quebrada já tem três títulos publicados, todos do próprio bolso: O Diabo Na Mesa dos Fundos, Relato de um Desgraçado sem Endereço Fixo e Viela Ensanguentada. Se ainda não leu, vale a pena passar no Instagram @barbosaescritor e encomendar. Chega rápido e autografado.
Finalmente, na categoria gringa, dois livros imperdíveis: Lições, o novo romance de Ian McEwan, um dos autores preferidos da casa, e As Convidadas, 44 contos da argentina Silvina Ocampo – que nunca deixa o leitor dormir impune após o ponto final.
Faltou muita coisa aqui, mas a Feira há de corrigir meu lapso com suas tantas bancas e eventos. A gente se vê lá.