Começou a escurecer mais tarde e, ainda mais do que uma prova de que a terra gira, redonda como só ela, esse singelo fato também é uma declaração de vitória: sim, nós vencemos mais um inverno úmido e com temperaturas tanto de bater queixo quanto de suar no casaco de pele falsa - ambas no mesmo dia. Não admira que o estado de saúde do gaúcho seja eternamente gripado. E que a vacina tetravalente tenha desbancado o fondue como grande sucesso da estação.
E vêm aí as atrações aquelas que todo mundo gosta. A Feira do Livro com seus lançamentos para acompanhar os banhos de sol no clube, na laje, na praia.
Nós, que temos casas e cobertas, vencemos o inverno. E, agora, quem não tem poderá dormir pelas ruas de Porto Alegre com um pouco menos de sofrimento, se é que isso é possível. Já que vai levar quase um ano até que os termômetros congelem novamente, bem que a prefeitura e seus órgãos podiam ir pensando desde já em soluções para abrigar as pessoas. A gente ouve cada coisa, se está na rua é por ser drogado e vagabundo, quem mandou não trabalhar etc. Aí passa pelo abrigo Dias da Cruz às 9h e já vê ali, começando a formar uma fila, os que não querem correr o risco de ficar sem uma cama no fim do dia. Como é triste não ter para onde ir.
Mas é fato que os dias estão mais longos e que a vida vai mostrando as caras depois do expediente. São muitos correndo e caminhando nos parques depois de bater o ponto. É a época em que as academias recebem de volta os alunos engolidos pelo frio. Tempo de deixar para trás o vinho tinto, o chocolate, a feijoada e o mocotó que acalentaram não só os corpos, mas os espíritos. Para os que esperam por temperaturas mais amenas para fazer ginástica, a vida é um eterno dia da marmota, começar de novo a cada primavera.
O calor também promove o reencontro com roupas estimadas que passaram meses no fundo da gaveta. E com a sempre presente ameaça de não entrar nelas com tanta facilidade assim. Aperta, te encolhe, força um pouco, que fecha. De todos os white people problems que acometem as gurias, talvez um dos mais bobos, e nem por isso menos chatos, seja o momento de vestir o biquíni do ano passado. Por sorte, o conceito de "ter um corpo para usar biquíni" mudou bastante nos últimos tempos. Hoje, basta ter um corpo e usar biquíni. Agora é botar isso na cabeça e mandar um beijinho no ombro para quem ainda insiste em ser inimigo da autoestima alheia.
E vêm aí as atrações aquelas que todo mundo gosta. A Feira do Livro com seus lançamentos para acompanhar os banhos de sol no clube, na laje, na praia. É bem melhor ler um livro do que mexer no celular, a claridade atrapalhando a visão da tela. As feiras de todos os tipos que se multiplicam quando o sereno se vai. As mesas na rua, tão bom sentar ao ar livre enquanto não esquenta demais. Sim, porque em breve estaremos todos reclamando do calor, os mais exóticos suspirando pelo inverno. Desse mal eu não morro. Mil vezes a canícula que a friaca. E isso que ainda nem citei o maravilhoso horário de verão, com o bônus da claridade extra para borboletear por aí. Opa, pera. Não tem horário de verão em 2019. Acabaram com a alegria do pobre. Não há de ser nada. Combateremos, literalmente, à sombra.
Que venham os dias quentes.