O mundo caindo - e algumas ilusões também -, confusão para todos os lados, a economia que não reage e, com tudo isso, as seleções em campo. Aliás, entre a Copa América e a Copa do Mundo de futebol feminino, ver as meninas é bem mais emocionante. Incrível o que elas fazem com tão pouco apoio, ao menos aqui, no país do futebol masculino. Pelos salários e as condições da maioria delas, nossos marmanjos magnatas mimados nem levantariam da cama. Mas voltando à coluna, a situação nessa nhaca que está e, quando a pessoa abre a porta, a primeira coisa que acontece é tropeçar em um copo. Um no mínimo. Toda a preocupação com a conjuntura passa para segundo plano, substituída por um urgente sentimento de irritação doméstica. Lavar o copo seria querer demais, mas não dá para juntar, pelo menos?
Segundo um amigo, é possível identificar o estado de espírito de um homem pela quantidade de copos sujos pela casa. Se forem poucos e, milagres acontecem, alguns estiverem lavados, o coitado não está bem.
A dificuldade de alguns para lavar os copos usados ainda vai merecer um estudo psicológico. Talvez seja possível fazer aqui um recorte - embora correndo o risco de parecer machista. Elementos do sexo masculino são mais acometidos pela dificuldade relatada acima. Jovens, adultos de todas as idades, solteiros, casados, avulsos, na hora de empilhar copos pela casa ou na pia, toda segmentação desaparece. É uma prática universal. Já testemunhei uma pessoa próxima tomando água com as mãos em concha na torneira da cozinha por não encontrar nenhum copo limpo no escorredor ou no armário. Esse cidadão, cuja identidade preservarei, mora sozinho e acumula copos usados durante a semana inteira até a abençoada visita da senhora que lhe arruma a casa. Depois de consumir todos os copos e taças (bem verdade que não são tantos assim), a criatura passa para as xícaras. Quando não sobra nem a caneca de lembrança da Oktoberfest limpa, é hora de sorver os líquidos diretamente da fonte: o leite da embalagem, o vinho da garrafa, a batida de abacate do liquidificador etc etc etc. Um dia perguntei o que custava lavar um copo. Não custa nada, ele disse. Só que é chato.
Conheci um caso perdido. Homem do Interior que mudou para a Capital já mais velho, era espartano nas posses. Não sentia falta de nada, só do chimarrão. Copo devia ter uns quatro, se tanto. Obviamente, ficavam todos sujos antes da manhã terminar. A solução criativa para matar a sede entre um mate e outro: sempre que esvaziava a cuia, ele a enchia de água para beber. Seu fulano, que horror, o senhor bebe água com restos de erva. Além de não se importar, ele ainda oferecia. Servidos?
Segundo um amigo, é possível identificar o estado de espírito de um homem pela quantidade de copos sujos pela casa. Se forem poucos e, milagres acontecem, alguns estiverem lavados, o coitado não está bem. Copos em ordem indicam desordem interna, a necessidade de ver alguma coisa, por insignificante que seja, arrumada. E nada mais insignificante que um copo limpo, na opinião do meu amigo. Já se os copos se empilharem qual uma instalação, os fundos grossos de iogurte grudado, suco velho e outras nojeiras - há os que usem copos até como cinzeiro -, é porque as coisas estão bem. Ou, se não isso, normais. O que já é alguma coisa nesses dias estranhos.
É a velha história do copo meio cheio, meio vazio. Pode parecer que o sujeito é porco. Mas, quem sabe, ele só está feliz.
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Amigas que fazem bonito. A Diana e a Julia Corso, mãe e filha, agora têm um podcast no Spotify onde encantam a audiência com assuntos cheios de interesse e malemolência. É o Precisamos Falar, que faz um bem danado ouvir. E a Anna Mariano leva toda a fineza da sua poesia para as páginas de Apenas por Nós Choramos, da editora Penalux. Beleza pura em versos.