Só tem uma coisa mais enternecedora (ô, palavrinha) do que olhar uma foto dos nossos filhos quando pequenos: ver uma foto da gente mesma bebê.
Então, um dia, uma prima manda pelo Facebook a foto de vocês duas no colo da avó. Começa que dá uma saudade danada daquele colo, quase uma dor.
O filho, a filha, esses que vimos desde antes de nascer nas imagens da ecografia, esses que tanta vezes imaginamos como seriam, os filhos, as filhas, esses dá para lembrar exatamente como eram há 10, 30, 50 anos sem necessidade de foto. É fechar os olhos que o jerivá jogando videogame refestelado no sofá volta a ser o toquinho de um ano que não queria ficar sentado. Quanta diferença. É fechar os olhos que a gatinha cheia de programas volta a ser a pitoca de dois anos que não desgrudava nem para a mãe tomar banho. O tempo passa, é assim que é. Não que pegar a caixa das fotografias dos filhos, das filhas, não seja um prazer a ser repetido mil vezes. Dá para sentir até o cheiro que eles tinham, aquela mistura de pom-pom com dobrinhas, perfume incomparavelmente melhor que o de carro novo - para alguns, o suprassumo da felicidade.
Então, um dia, uma prima manda pelo Facebook a foto de vocês duas no colo da avó. Começa que dá uma saudade danada daquele colo, quase uma dor. Devia ser proibido por lei ir perdendo, ao longo da vida, tudo o que nos acalenta e nos consola. Tanta lei idiota que se inventa por aí, essa da proibição da perda dos afetos seria muito mais útil. Mas voltando ao colo da avó. Você repara na sua cara redondinha, nenhum vinco, linha de expressão, ruga de preocupação, nada. O sorriso, no caso de já haver dentes, é quase sempre dentuço. E como é perfeito. Mas o que chama mais a atenção nas fotos da gente lá no nosso início é o olhar. É tanta confiança que chega a comover. Como se tudo pudesse se resolver com um colo. O bebê (você) da foto nem desconfia de que a coisa vai ficar muito, muito complicada depois - inclusive para achar o melhor ângulo para uma selfie. Bem verdade que esse, diante do que a vida adulta nos apresenta, é o menor dos problemas.
Quero minha mãe.
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Falando em mãe, há quem a veja como uma perigosa ameaça vermelha (!) ou que apenas não concorde - educadamente - com as posições políticas dela. Mas alguém pode fazer alguma crítica quanto à forma com que a Manuela D'Ávila vive a maternidade? Revolução Laura é o livro que traz as reflexões da Manu sobre a aventura de, em plena campanha eleitoral, ser mãe em tempo integral de uma menininha de três anos. O relato de uma mulher que incluiu a filha na agenda profissional por escolha. A absoluta maioria de nós jamais poderia fazer isso, mas há de concordar quando a Manuela diz que maternidade, acima de tudo, é revolução. Um livro lindo em uma linda edição da Belas Letras.
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E está em cartaz Bio, o novo filme do Carlos Gerbase que tem 39 - sim, 39 - atrizes e atores no elenco. Tudo para contar a história de um protagonista que viveu intensamente até os 110 anos e que só aparece uma vez em todo o filme. Mas que vez. A vida do protagonista foi marcada por uma característica que determinou tudo o que aconteceu a ele - e a quem conviveu com ele: o personagem não sabia mentir.
Gerbase, roteirista e diretor, constrói todo o filme a partir de depoimentos. É a ideia do "você é o que os outros contam sobre você" levada às últimas consequências. Programão em um bom cinema perto de você. E se for longe, nada que um transporte não resolva.