Nunca a moda gaúcha teve um nome tão forte como Rui Spohr. Exagero? Que nada!
Imagine um tempo sem redes sociais, sem informação disseminada, sem internet. Um tempo no qual ter acesso a uma revista de moda era algo raro, no qual só existiam costureiras para copiar e roupas para vestir, mas nunca para sonhar.
Imaginou? Pois Rui conseguiu ser uma celebridade das agulhas neste tempo, quando a criação de moda era um código secreto entre alguns poucos nomes de Paris, Londres e Nova York.
Ele começou a fazer moda em um tempo sem moda por aqui – e ajudou a criar o conceito do sob medida de luxo no Brasil. Rui foi um dos grandes estilistas/costureiros brasileiros, sempre associado à elegância.
E foi audaz. Ai, como foi. Aos 22 anos, foi estudar em Paris. Foi o primeiro brasileiro a se formar por lá, na mesma escola de Saint Laurent – de quem, eu acho, tinha um savoir-faire fashion muito próximo – e Karl Lagerfeld, a Chambre Syndicale de la Haute Couture Parisienne. Estagiou com o maior chapeleiro da França, Jean Barthé.
Voltou para Porto Alegre a fim de revolucionar. E o fez. Criou vestidos e trajes tão inovadores que poderiam ter a assinatura dos grandes europeus. Estava sintonizado com o zeitgeist do momento sem qualquer esforço, longe das capitais, longe de tudo, mas com um talento singular que o fez próximo do melhor e grande desde sempre.
Rui criou imagens de moda fortíssimas nos anos 1960 e 1970, auge de sua criatividade transgressora, provocando as moças da sociedade gaúcha a serem inovadoras e poderosas. Sim! Rui impulsionou o estilo da mulher gaúcha com seu atrevimento, sempre muito à frente, provocativo, sofisticado. Vestiu gerações, foi desejo e uma inspiração para os novos.
Com o tempo, seu afã acalmou. De revolucionário, tornou-se um clássico. Mas jamais parou. Com mais de 60 anos de moda, há pouco trocou as agulhas pelos pincéis das artes, um hobby que o acompanhou nos últimos dias. Rui era um incansável do bom gosto. E se manteve assim até o final. Impecável. Chique. Rui.