Em entrevista à revista Vogue norte-americana, publicada na última quarta-feira (16), a modelo e atriz britânica Jodie Turner-Smith fez uma revelação inusitada ao falar sobre sua rotina de beleza. Desde que se tornou mãe, há cinco meses, ela tem aplicado o próprio leite materno junto com os produtos de skincare na pele.
— Desde que eu tive minha filha, meu atual segredo de beleza passou a ser o fato de que eu coloco leite materno em todos os meus séruns faciais — disse ela. — Minha pele é muito sensível, uso um cleanser e, então, coloco um sérum com aloe e leite materno que literalmente tirei do meu peito com a mão. Descobri que o leite tem sido revolucionário.
A declaração polêmica da modelo à publicação levantou a dúvida: será que o leite materno, de fato, traz algum benefício para a pele? Para responder ao questionamento, conversamos com as dermatologistas Taciana Dal’Forno Dini, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia Regional Rio Grande do Sul (SBD-RS), e Clarissa Prati, que administra o perfil @draclarissaprati no Instagram.
Para Clarissa, atitudes do tipo refletem a tendência de aproximação com alternativas naturais nos cuidados com a pele, já que hoje há uma preocupação maior com o impacto no planeta. Essa, inclusive, é uma demanda que as próprias pacientes levam cada vez mais ao consultório, conta.
Sobre o leite materno, explica que contém uma série de substâncias benéficas, como o ácido láctico, um potente hidratante, além de aminoácidos, que formam as moléculas de proteína. No entanto, sua aplicação na pele não é garantia de que estes benefícios serão, de fato, reais.
— Não há como definir a potência de sua absorção pela pele. Estudos realizados com leite humano em aplicações tópicas, em geral, o comparam com outras substâncias para o cuidado dos próprios lactentes, como a área das fraldas. Os resultados são conflitantes, ou seja, em alguns, a intervenção se compara ao efeito de medicamentos e, em outros, é inferior. Imaginar que a pele do bebê é bem mais fina e delicada que a de um adulto pode nos alertar que, provavelmente, a utilidade do leite materno nesta pele mais madura tenha pouco ou nenhuma eficácia — explica a dermatologista.
Taciana concorda que a eficácia do método não é comprovada. Mas observa que já existem estudos que mostram que o leite materno pode ajudar na cicatrização das rachaduras dos mamilos, problema comum quando as mulheres estão amamentando.
Porém, a médica lembra que, por questão de biossegurança, o leite não pode ser usado em outra pessoa que não seja quem o produziu, já que pode transmitir doenças infecciosas, como o HIV. No uso próprio para fins estéticos, Taciana enxerga uma nova possibilidade que ainda não foi explorada o suficiente pela ciência.
— O leite materno, sendo da própria pessoa, o material biológico próprio, então com risco zero de contaminação, tem um valor nutricional muito grande: proteínas, lipídios, carboidratos. Isso tudo pode ajudar na cicatrização da pele, como a gente vê nesses estudos. E o leito materno tem várias células de defesa, como imunoglobulinas, leucócitos, que são as células brancas de defesa, epiteliais, células tronco, além de bactérias probióticas, as bactérias boas, que estão ali para colonizar o estômago do bebê. Então aí tem um campo enorme para estudos, uma possibilidade para avaliação de eficácia e de segurança — afirma Taciana.
Mesmo sem nenhuma eficácia comprovada, existe algum malefício para as mulheres que optarem por adotar o ritual? Clarissa diz que não, desde que a pele não esteja sensível ou irritada por alguma alteração pontual ou doença. Mas lembra: é melhor considerar alternativas que tenham o efeito comprovado.
Por fim, a médica sugere ter um cuidado extra com as práticas consideradas naturais.
— Por vezes, os produtos podem conter substâncias que sensibilizem a pele, especialmente ao sol — alerta.