Austin ostenta o título de Live Music Capital, sendo inclusive a responsável por lançar muitas bandas que amamos atualmente, e que de alguma forma tiveram seus destinos cruzados em algum momento pela 6ht Street, também conhecida por Entertainment District.
Os caras levam tão a sério o poder transformador da música que alguns dos bares da 6th não aceitam cover, de forma que as pessoas devem ser elas mesmas e mostrarem seu melhor, sem prisões emocionais. Até porque ninguém vai cantar melhor que o Bowie, Clapton, Hendrix, nem Phil Lynott.
Muitos lugares abrem suas portas num formato open mic mesmo, e esperam para ver o que rola. Na pior das hipóteses, o cara ouve um som diferente, conhece novas referências e tem uma experiência totalmente inusitada, sem aquela chatice de sempre que é um cara de jaquetão de couro vestido de Elvis passando a mão no topete. Austin estimula a criatividade e faz as pessoas terem orgulho de quem são e do que podem dar em troca para o mundo.
No inicio dos anos 1990, um cara chamado Jon Notarthomas veio para a cidade justamente em busca de um lugar ao sol no mundo da música. Talvez ele não tenha tido muito sucesso na carreira, mas leu direitinho a vibe dali e criou uma carrocinha de comida em Austin. Eis um verdadeiro antes e depois: no cartaz ele na época em que desembarcou por lá, e, com a mão na massa, o cara hoje em dia.
Nesse caso, daria para chamar o Jon de precursor do movimento de comida de rua na cidade, porque na época não existia nada parecido. Os sandubas de salsicha artesanal grelhadas com molhos caseiros acabaram se tornando uma instituição, porque os músicos mais famosos do mundo acabaram fazendo do The Best Wurst um dos after mais clássicos da história.
Mas nem só de after vive o cara, porque naquela linha que falei neste post, de pensar bem nos deslocamentos entre uma palestra e outra do SXSW e perder o menor tempo possível entre elas, aproveitei o ensejo de provar um pouco da história justo num momento m que não havia fila - quase não acreditei, cheguei a pensar que estava recém abrindo.
A regra é muito simples, basta ler as placas. O primeiro - e mais importante - passo é escolher a origem da salsicha. Como sou fiel à Igreja de Nossa Senhora da Comida Bem Apimentada, não poderia cometer o pecado de ignorar a Smoked Jalapeño, mesmo porque é um clássico do Texas. Seria indelicado desconsiderar a tradição de um povo, sou educadíssimo.
Em seguida, o cara parte do princípio que vai ser completão. Ou seja, com cebola, sauerkraut (chucrute), mostarda e ketchup de curry. Broder, se o cara inventou essa parada e tá funcionando desde os anos 1990 - época em que o Caniggia deu uma janelinha no Dunga, que a gente assistia Família Dinossauro, ouvia Guns N’ Roses, que a nave da Xuxa pegou fogo, que a gente assistia Comando da Madrugada com o Goulart de Andrade (“Vem comigo!”) e que eu rodei na quinta série - quem sou eu pra fazer diferente. Tô por ti Jon, faz a tua aí que eu confio em ti.
É de arrepiar repetir um ritual que a gente sabe que é uma prática adotada por vários mestres da música, de pegar um The Best Wurst, tirar os fones do ouvido e ouvir a trilha sonora que o destino bem entender. Numa dessas, se bater aquele arrepio num riff qualquer ou a partir da magia de um piano solo perdido dentro de um dos bares, basta entrar para conhecer seu mais novo ídolo.
Esse passeio pela história da cidade e pela cultura da música custa 7 doletas. Já a experiência de circular pela 6th e curtir os shows ao vivo dos caras que amanhã podem estar na nossa lista do Spotify, é free.
The Best Wurst
6th St, esquina com a Brazos St - Entertainment District
Austin - Texas
www.thebestwurst.com