Intihuasi: sabores iluminados pelo sol peruano

Todos os dias, silhuetas surgem devagarinho ao amanhecer. Os primeiros raios de sol revelam detalhes, formas, coisas e por fim, toda uma região. O Peru é conhecido pelo culto ao astro-rei e uma civilização em torno dele. O Intihuasi, que em quíchua (língua indígena ainda falada no país) significa casa do sol, traz um lar para esse universo aqui no Rio.

O restaurante é singelo, com móveis em madeira, ambiente claro e estrutura descomplicada.

Ali, a riqueza está no detalhe. Elementos e decoração vibrantes da rica cultura peruana estão espalhados pelo ambiente através de fotos, vídeos e objetos cheios de cores. Sempre digo que a gastronomia reflete a cultura, costumes e história de um povo. Comprovei que peruana é fascinante.

A proprietária e chef da casa, Margarita Isabel trocou sua cidade natal, Lima, pelo Rio de Janeiro e há 11 anos - muito antes da febre do cebiche - inaugurou o Intihuasi para trazer a gastronomia tradicional de suas origens. Para isso, além de diversos cursos na bagagem, a chef utiliza os insumos típicos de seu país. Dezenas de tipos de milho, grãos, pimentas, batatas… O que não vem do vizinho latino, ela planta em seu sítio.

Oportunamente, em minha visita, pude degustar o menu do Peru Week, festival que ocorre anualmente para promover a cultura do país através de um menu combinado com duas opções de entrada, prato principal e sobresa por R$79,00 por pessoa. Para abrir os trabalhos pedimos o famoso Pisco Sour, preparado com o destilado peruano, limão e angostura.

Para entrada, o delicado Anticucho Marinero, um espetinho de peixe, frutos do mar e legumes grelhados a base de aji panca (pimenta de pouca picância).

Óbvio que não podíamos deixar de provar também o Tamal de Supe con chicharron e sarsa criolla - pamonha de um milho delicoso e diferente, temperada com um creme de pimenta saborosíssimo, ladeada com lombinho de porco frito e com um molhinho cheio de sabor. Sinceramente, essa pamonha foi uma das coisas mais simples e encantadoras que já provei.

O menu oferecia duas opções de prato principal. Eu fui seduzida pelo tempero e textura do Majarisco: frutos do mar cobertos em um molho suave e perfumado com bananas da terra crocantes como deliciosa decoração.

A outra opção do menu era o Seco de Cordero a la chiclayana con yucas – cubinhos de carne de cordeiro e abóbora cozidos em um molho quase esverdeado de coentro pareado a arroz e aipim.

A essa altura, cada garfada havia me transportado a uma parte do Peru. Através daqueles sabores tive a confusa impressão de ter visitado pontos turísticos, vibrado com as músicas locais e sentido a energia mágica que dizem ter lá. Causou certo estranhamento, mas não poderíamos deixar esse portal se fechar antes de provar as sobremesas. Começamos com a Mazamorra Morada que é um creme a base de milho roxo com frutas desidratadas. Uma textura quase gelatinosa e não muito doce. Ele limpou com suavidade o paladar após todos aqueles sabores complexos.

Já o Don Ernesto foi batizado em homenagem a um padre amigo da chef Margarita. Composto por sorvete de lúcuma com cobertura de algarobina e nozes pecãs. A lúcuma é uma fruta peruana que visualmente parece um abacate, mas o gosto lembra bem o nosso bacuri. Não chega a ser muito doce e tem uma adstrigência sempre bem- vinda em meu paladar. Já a algorrobina é uma vagem muito usada no Peru da qual eles preparam um xarope bem escuro. É doce, mas tem um finalzinho amargo. Essa sobremesa foi a que mais me trouxe satisfação.

Quem acompanha as novidades gastronomicas sabe que o Peru está cada vez mais na cena da alta gastronomia. O Intinhuasi trouxe para o Rio a luz peruana, um disco de ouro que reflete os precoces raios de sol do país e revela a cultura mágica desse lugar enveredado pelos sabores mais tradicionais. Comentei anteriormente que visitei a casa durante a Peru Week. Para o festival, o menu tem duas opções de entrada, prato principal e sobremesa por R$79,00 por pessoa.