Legítimo Comfort Food: Acácia Cozinha de Família

O escritor americano Michael Polan prega que cozinhar é uma atividade que nos define enquanto seres humanos, ato pelo qual a cultura surge. No Acácia Cozinha de Família isso fica muito evidente. A cultura nordestina e a matogrossense se fazem presente em cada detalhe do restaurante.

Localizado na charmosa, cultural e descolada rua 24 de Outubro, no centro de Cuiabá, o restaurante foi instalado num antigo casarão tipicamente cuiabano, onde funcionou tempo atrás a Casa Ferraz.

É uma casa pequena, com pouco espaço entre as mesas, o que dá um charme e aconchego especial ao lugar. Logo na entrada uma mesinha com café, chá e cachaça da boa.

Pinturas e esculturas de artistas regionais dão cor e alegria ao lugar. Mesas pequenas estilo madeira de demolição se espalham pelos ambientes.

A casa do século XIV ainda preserva o piso original e as paredes de adobe, que são como quadros ornamentais onde se resgata e preserva a memória da cultura regional.

Nessa foto, a parede de adobe original em destaque. Na época esse tipo de construção era usual em Cuiabá, além do uso da pedra canga, comum na região.

Aos fundos, uma graciosa e tranqüila varanda, que funciona como sala de espera em dias de super lotação.

Na maioria dos restaurantes que conheço, quando se vê os fundos (quando há algum espaço no terreno) acaba virando entulho e depósito de caixas. No Acácia não! Olha o capricho! Há planos para no futuro instalar mesas ao ar livre sob uma grande mangueira que existe no terreno.

¨Só coma alimentos que tenham sido preparados por humanos. Não é comida se tem o mesmo nome em todas as línguas¨, diz Michael Polan. O Cardápio é bem enxuto, com uma saladinha do dia, como se vê na foto e mais 7 opções. No Sábado em que visitei eram: Baião de Dois, Galinha sertaneja, Dobradinha do seu Apoena, Risoto de Baião, Risoto de Carneiro, Talharim ao molho de nata com camarão e Mignon de Sol no pirão de queijo coalho.

O Baião de Dois estava divinamente temperado e úmido, diferente de outros que já provei. Acompanhado de mandioca e vinagrete.

¨Quanto mais seca e árida a terra, mais profunda é a raiz¨ diz o grande mestre inovador da culinária nordestina, o cabra da peste Rodrigo Oliveira. O mignon de sol no pirão de queijo coalho estava saborosíssimo, com a carne no ponto certo. É um prato de raiz, sem dúvida.

Olhem em destaque a consistência do Purê de Queijo Coalho, parecia um Aligot sertanejo. Em todos os pratos degustados, percebe-se uma comida com alma (nordestina talvez), feita com muito esmero pelo Chef Irapuã e toda sua família que trabalha no restaurante.

A sobremesa não fez por menos: me remeteu a memória de infância (daí o título: legítimo Comfort Food). Xodó: delicioso mousse de cupuaçu com danete caseiro e raspas de castanha do Pará. Sensacional combinação de sabores. Eu comeria quantidades absurdas.