Não é novidade que a cerveja artesanal caiu no gosto da população nos últimos tempos. No ano passado, o Rio Grande do Sul ganhou 27 novas cervejarias, de acordo com o Anuário da Cerveja, divulgado pelo Ministério da Agricultura. Inclusive, Porto Alegre é o segundo município brasileiro com mais fabricantes, totalizando 43, atrás apenas de São Paulo, com 51.
O Estado sempre foi destaque no mercado cervejeiro, afinal, é daqui a primeira microcervejaria artesanal do Brasil. A Dado Bier surgiu a partir de uma brincadeira devido ao sobrenome do proprietário, Eduardo Bier. Ele conta que, no passado, as famílias alemãs eram nomeadas de acordo com os seus ofícios, por isso, a bebida já estava em suas origens.
— No Natal de 1992, meu tio, Jorge Gerdau, questionou quando eu faria a minha primeira cerveja. Respondi que faria assim que tivesse recursos, e ele se ofereceu para ajudar — relata o empresário.
Há 30 anos, a produção brasileira era exclusiva de grandes fabricantes. Quando Eduardo foi estudar na Europa descobriu dezenas de pequenas cervejarias. Voltou ao Brasil com a ideia de fazer algo diferente do que já existia aqui. E, em março de 1995, nasceu a Dado Bier.
Em um cenário mais recente, o empreendedorismo cervejeiro não estava nos planos de Michelle Ferraz e de Fernanda Nascimento, que, até 2013, seguiam carreira acadêmica. Em uma viagem para Belém do Pará, provaram as cervejas frutadas e acabaram se apaixonando.
— Nós conhecíamos cerveja artesanal, já havia marcas conhecidas na Capital, mas não tínhamos conhecimento profissional. Voltamos da viagem decididas a criar a nossa própria marca — conta Michelle.
Em 2016, depois de muitos cursos, elas abriram a Macuco, a primeira cervejaria comandada por mulheres de Porto Alegre. Em uma moto adaptada com quatro torneiras de chope, foram conquistando seu espaço em feiras e eventos de rua. Até foram convidadas para participar da Parada Livre de São Paulo.
Um ano depois da marca ser criada, a dupla abriu um espaço físico. O Centro Histórico foi o bairro escolhido para abrigar o primeiro bar da Macuco. Mas os planos precisavam acompanhar o crescimento da cervejaria. Nesta semana, elas inauguraram o segundo local, desta vez, no bairro Rio Branco.
— Em 2020, lançamos as cervejas em latas contando com 30 rótulos e uma produção de 2 mil litros por estilo — revela Michelle.
No Brasil ainda não existe uma definição clara do que seja cerveja artesanal. Muitos produtores se baseiam nas regras da Brewers Association. Segundo a associação americana, as fábricas artesanais devem ser independentes, com apenas uma parte de capital social, e podem produzir até 700 milhões de litros por ano.
— Na Dado Bier, consideramos artesanal as que não são pilsen. Ou seja, todos os outros estilos, como weiss, IPA e APA. Além disso, na microcervejaria dentro do Food Hall Dado Bier, produzimos cervejas em baixa escala, extremamente artesanais e sofisticadas — explica Eduardo.
Fazer diferente é um lema para as duas marcas. Eduardo trouxe para a Capital o conceito de brewpub, onde a fábrica funciona junto com o bar. Depois, o negócio também foi para São Paulo e Rio de Janeiro.
Para as gurias da Macuco, o desejo por se diferenciar foi o que motivou a criação de receitas mais criativas.
— Uma IPA toda cervejaria pode ter. Mas a gente sempre quis fazer diferente, por isso, criamos rótulos especiais com frutas, como manga, coco e bergamota, uma das mais vendidas — conta Fernanda.
Ao longo dos seis anos da Macuco, as cervejeiras percebem muitas mudanças, principalmente em relação à presença feminina, já que as mulheres estão ocupando cada vez mais espaço no meio.
— Aquela associação de que mulher prefere cervejas mais fracas não existe mais, está completamente equivocada — avalia Michelle.
O desejo de crescimento é mútuo. Enquanto Eduardo visa a consolidação da Dado Bier no mercado nacional como marca de cerveja gaúcha, Fernanda e Michelle planejam abrir a terceira loja e estruturar o e-commerce para levar a Macuco a outros lugares.