Talvez você já tenha se deparado com uma taplist de cervejas artesanais e não tenha entendido nada do que aqueles números e percentuais no painel têm a dizer. Ou, até mesmo, na hora de comprar alguma garrafa, tenha ficado em dúvida com as informações do rótulo.
Conversamos com a sommelier de cervejas, Rafaela de Conti, sobre as nomenclaturas mais comuns no universo da cerveja e ela sugeriu uma série de dicas para acertar na escolha, conforme seu paladar.
— Para quem ainda não está inserido no universo de estilos das cervejas e não sabe classificá-las, essas escalas ajudam muito — ressalta Rafaela.
Cada sigla representa uma categoria que agrega personalidade à bebida, por isso os números são tão importantes. Eles que vão guiar sua escolha, já que medem o teor alcoólico, a coloração e a intensidade de amargor de cada bebida.
— A combinação dessas três siglas faz com que a gente tenha parâmetros bem interessantes na hora de comprar uma cerveja — aponta a mestre.
O que muda de uma cerveja para a outra, em síntese, é a quantidade de lúpulo, malte, levedura e água, explica Rafaela. E, para identificar as diferenças no resultado final, é preciso saber o que esses números significam na prática.
Entenda o que são as siglas ABV, EBC e IBU: vamos explicar cada categoria, trazendo exemplos com rótulos e comparando entre si.
ABV
Essa sigla é uma das mais famosas, já que altos percentuais podem causar estragos. A ABV (em inglês, Alcohol by Volume) mede o teor alcoólico da cerveja. A composição alcoólica de cada bebida é formada durante o processo de fermentação, onde o açúcar é transformado em álcool.
Sabe quando os mestres cervejeiros experimentam as cervejas durante o processo? Então! É para poder medir o teor alcoólico e fazer alguma alteração para deixar a cerveja mais ou menos intensa.
Na prática, a ABV indica o quanto tem de álcool no seu copo de cerveja. Para ter uma noção, cervejas de baixo teor alcoólico variam entre 2% a 4,5% ABV, como a American Lager. De médio teor alcoólico, entre 4,5% a 6% ABV, são a maioria das cervejas, tais como a Weiss, Pilsen e Porter. Acima de 6% ABV, já são consideradas fortes. Um bom exemplo é a Bock.
Dica da Mestre:
Na hora da compra da cerveja, decida se você quer uma cerveja mais leve ou mais forte. Atente para as que têm o ABV entre 4,5% e 6%, pois serão cervejas mais alcoólicas. Conforme esse número for subindo, mais intensa ela será.
IBU
A medida IBU (em inglês, International Bitterness Unit) indica o amargor da cerveja, numa escala de 0 a 100, sendo os valores mais altos o maior nível de amargor. O que torna uma cerveja mais amarga é a dosagem de lúpulo, mas existem outros fatores que podem contribuir. O próprio malte pode deixar a cerveja mais doce, mascarando o amargor, mesmo com um IBU alto, explica a mestre cervejeira.
Aos que preferem as cervejas com amargor levemente acentuado, opte por rótulos com IBU de 10 a 15, como a do tipo Dark American Lager. Valores entre 25 a 35 IBU já apresentam o lúpulo mais realçado, como as Stouts. E, a partir de 40 IBU, já pode se considerar uma cerveja forte e amarga, como a clássica IPA ou a American Barleywine. Aqueles que apreciam mais amargor, podem apostar em rótulos acima de 60 IBU. Serão cervejas bastante lupuladas.
Dica da Mestre:
Depois de decidir se você prefere uma cerveja mais ou menos alcoólica, o próximo passo é definir a intensidade do amargor. No Rio Grande do Sul, costuma-se ter o paladar mais familiarizado com o amargor, por conta do chimarrão. Aos que se identificam, vale apostar em cervejas com IBU acima de 35.
EBC
Essa sigla surge da Convenção Européia de Produção de Cerveja (em inglês, European Brewing Convention) e foi adotada pela legislação brasileira como a medida para a coloração da cerveja. Você também já deve ter ouvido falar do SRM, o Método de Referência Padrão (Standard Reference Method), usado nos Estados Unidos. As duas siglas servem para medir a cor da cerveja, mas utilizam métodos diferentes, por isso os números divergem.
Mas, afinal, o que dá a cor a sua cerveja? O principal responsável por isso é o malte, junto com seu grau de torrefação - influenciando no sabor e no aroma, além da cor. O fermento e a presença de frutas também tem sua participação na hora de formar aquelas cervejas que bebemos com os olhos.
A escala EBC varia de 0 a números superiores a 80, sendo o nível básico a água. O 3 é o tradicional amarelo-palha, como as cervejas do tipo Pale Lager. As IPAs ficam entre o 26. Com uma tonalidade mais escura, partindo do 60, estão as do tipo Baltic Porter. Já o 80 é o preto-opaco, presente nas cervejas de tipo Stout, por exemplo.
Dica da Mestre:
A torrefação do malte, além de influenciar na sua coloração, vai trazer traços diferenciados para o sabor e aroma da cerveja. Um malte menos torrado, logo mais claro, lembra sabores mais leves, como o mel, enquanto um malte mais torrado e escuro apresenta traços fortes, como do café e chocolate. Importante lembrar que uma cerveja clara não necessariamente indica uma cerveja mais leve! Isso vai depender da combinação com o ABV, o teor alcoólico.