Cozinhar nos tornou humanos. Foi a partir do domínio do fogo para preparar os alimentos que começamos a evoluir. Nossos ancestrais se reuniam em uma fogueira para cozinhar, socializar e se proteger das catástrofes e intempéries deste planeta que desde sempre nos desafiaram.
Milhares de anos se passaram e evoluímos em diversos aspectos, nas mais diversas áreas do conhecimento, como jamais poderíamos imaginar. Porém, esquecemos que continuamos a ser humanos e precisamos uns dos outros para sobreviver e continuar evoluindo. E a comida é parte fundamental deste ato tão atávico que é sobreviver.
Não à toa, a gastronomia começou a ocupar um papel ainda mais importante na vida das pessoas nos últimos anos. Se reunir em volta de uma mesa, olhar nos olhos, conversar e comer virou uma experiência necessária, quase um artigo de luxo. De alguma forma, fomos nos distanciando, e a comida tem esse poder. A comida aproxima. A comida salva. A comida é generosa.
Por isso, diante da catástrofe gigante pela qual passa o Rio Grande do Sul, é muito potente e emocionante a mobilização que se formou entre cozinheiros, voluntários e empresas de diversas áreas da gastronomia de todo o país, para que as pessoas que precisam recebam milhares de marmitas preparadas em dezenas de cozinhas solidárias espalhadas por diferentes regiões do Estado.
Mesmo com ingredientes limitados e necessidades muito maiores do que é possível atender, alimentar as pessoas que perderam tudo, neste momento, é o maior ato de humanidade e dignidade. Vai além da mesa. Escancara a dependência que temos uns dos outros e a necessidade urgente de voltarmos a sermos mais humanos e unidos. E generosos.
Diante de tanta dor e de tantos desafios, comer uma comida preparada com o amor e a dedicação desta brigada de cozinheiros é confortar o corpo e a alma, é a alquimia que a gastronomia proporciona, que, ao final, é a única maneira de nos mantermos vivos e unidos nesta jornada no planeta. Que a comida nos humanize cada vez mais. Agora mais do que nunca.